- Eugênio Maria Gomes
É da Tragédia Hamlet de Shakespeare a origem da famosa frase “há algo de podre no Reino da Dinamarca”. Escrita pelo maior teatrólogo da língua inglesa, todos os tempos por volta de 1600, a peça narra a história do Príncipe Hamlet, da Dinamarca, e sua tentativa de vingar a morte de seu pai, o Rei, assassinado pelo irmão, que, assim, casou-se com a Rainha e usurpou o trono. É uma tragédia que com toda a genialidade do Mestre, explora temas como vingança, traição, corrupção e moralidade. É dessa mesma peça que se retira outra frase muito conhecida: “ser ou não ser, eis a questão…”
Mas o presente artigo não trata de Hamlet, nem de Shakespeare. Trata da Dinamarca. Esse pequeno Reino do norte da Europa foi objeto de uma extensa reportagem exibida recentemente no “Globo Repórter”. Ao ver o programa, senti a tal da “inveja branca”, se é que inveja pode ter cor. Trata-se de um país “invejável”. Para um brasileiro, assistir àquele programa é quase um insulto.
Como um país tão pequeno, com população tão reduzida, praticamente desprovido de recursos naturais, com poucos dias de sol por ano, invadido e conquistado por outros povos incontáveis vezes, ocupado pelos nazistas durante quase toda a Segunda Guerra, pode se transformar no país mais feliz do Mundo?
A criminalidade e os índices de violência são próximos de zero. A taxa de analfabetismo é próxima de zero. O País ostenta o primeiro lugar no índice de igualdade social; é considerado o segundo país mais pacífico do Mundo e, como se tudo isso não bastasse para que nós nos sintamos “diminuídos”, a Dinamarca é o país com menor índice de corrupção do Mundo.
Tudo isso sem recorrer às tentações do “Socialismo Moreno” e sem abandonar sua secular tradição monárquica. O País conseguiu conciliar alguns princípios básicos do Capitalismo moderno e avançado com outros de índole dirigista e alcançou o denominado “estado do bem-estar social”. Ou seja, alcançou o melhor dos mundos. Um ideal quase utópico.
Sua capital, Copenhague, é uma das mais belas cidades do Mundo. Com seus rios, suas praças e áreas verdes, é considerada a capital mais ecológica do Planeta e uma das cidades com melhor qualidade de vida. O principal meio de transporte dos dinamarqueses é a bicicleta…! A água, no interior do porto da cidade, um dos mais movimentados da Europa, é tão limpa, que é utilizada pela população, nos dias que faz menos frio, para natação! Confesso que quase morri de inveja com esse dado… Lembrando-me da Baía de Guanabara…!
Trata-se de um país com mais de mil anos de história. Dirão alguns. Trata-se de um país rico, de primeiro mundo. Dirão outros. Mas será que, então, estaremos nós fadados a esperar mais mil anos para chegarmos perto da Dinamarca de hoje? Será que um país torna-se rico e próspero porque nasceu rico? Ou naturalmente propenso à prosperidade, enquanto outros estão fadados a patinar eternamente nas mazelas do subdesenvolvimento?
Será que a diferença entre países ricos e pobres é mesmo a idade do País? Ora, países como o Egito e a índia têm mais de dois mil anos de idade e ainda são pobres. Por outro lado, a Austrália e a Nova Zelândia são países mais novos que o Brasil e são riquíssimos.
Será que os recursos naturais são o fator determinante para o sucesso dos Países? O Japão praticamente não possui recursos naturais e transformou-se numa das maiores potencias do Mundo. Também a Suíça, um país minúsculo, situado no pico dos Alpes europeus, gelado a maior parte do ano, é um dos países mais ricos do mundo. São famosos os chocolates suíços, embora a Suíça não tenha um só pé de cacau em seu território…
Também a raça ou a etnia não são fatores determinantes. Vários imigrantes de países rotulados como subdesenvolvidos transformam-se na força de trabalho em diversos países ricos.
Qual seria, então, a diferença? A diferença está na atitude das pessoas. Moldada e consolidada por anos, através da Educação e da Cultura. Observando-se o comportamento e a conduta das pessoas comuns nos países desenvolvidos, constatamos que todas pautam suas vidas em determinados valores e princípios básicos como eticidade, integridade, responsabilidade, respeito à lei, respeito pelos demais cidadãos, amor ao trabalho, o desejo de superação, a pontualidade…
Ao terminar este artigo, faço duas constatações: ainda temos um longo caminho a trilhar e, Hamlet, estava errado… Nada há de podre no Reino da Dinamarca!
- Eugênio Maria Gomes é presidente da AMLM – Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas. É professor e Pró-reitor de Administração da Unec, membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É membro do Lions Clube Caratinga Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga. É Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG, Colunista do Jornal Diário de Caratinga, diretor da Unec TV e apresentador de programas de televisão nas emissoras Super Canal TV, TV Sistec, Unec TV e TV Três Fronteiras, esta no Vale do Mucuri.