Ícaro Gabriel, de cinco anos, precisa comer frutas, e os pais desempregados não conseguem comprá-las
CARATINGA – No dia 30 de setembro do ano passado, a família de Ícaro Gabriel Azevedo Rodrigues, de cinco anos, viveu momentos desesperadores ao acordar com muito fogo e fumaça. A casa deles, que era na rua Maria Lopes de Freitas, no bairro Anápolis, ficou completamente destruída pelas chamas. Deivisson Cândido Rodrigues, 34 anos, já tinha saído para o trabalho, mas estavam em casa Tamilian Azevedo Soares, 23 anos, e os dois filhos Ícaro e Heitor Gabriel Azevedo de 11 meses. “Só lembro de ter acordado e estar pegando fogo na casa toda, peguei o pequeninho, tente abrir a janela e não consegui, daí foi a hora que comecei a gritar, aí consegui abrir a janela, pulei como o pequenininho e voltei para buscar o Ícaro. Aí foi na hora que os vizinhos chegaram, arrebentaram o portão, e chamaram o primo do meu marido, que chegou de carro e nos levou para o hospital”, conta Tamilian.
Tamilian contou que o incêndio foi por volta das 8h, e a causa foi um curto-circuito, já que tinham muitos aparelhos ligados em apenas uma tomada.
O fogo deixou cicatrizes visíveis na família, que agora precisa de ajuda. Ícaro teve 70% do corpo queimado e no dia do incêndio foi transferido na aeronave do Corpo de Bombeiro Militar, para Belo Horizonte, onde ficou 20 dias em coma e teve três paradas cardiorrespiratórias, enquanto isso Tamilian ficou por um mês internada em Caratinga. “No começo Ícaro nem andava, teve três eles não falavam com a gente como ele estava, mas que estavam fazendo de tudo para salvá-lo”, contou Deivisson, o pai do menino.
Por conta da gravidade das queimaduras, Ícaro ficou com uma perna, um braço e as duas mãos atrofiadas. Ele faz fisioterapia duas vezes por semana em Caratinga e uma vez por mês em Belo Horizonte. “Ele fez enxerto nos braços e pernas, e agora o médico pediu emergência, porque ele está na lista de espera lá, a queloide (O queloide corresponde ao crescimento anormal, porém benigno, de tecido cicatricial devido a maior produção de colágeno no local e houve lesão na pele) está exagerado, cresceu demais, ele disse que terá que tirar e fazer enxerto novamente”, explicou a mãe do menino.
Tamilian teve queimaduras também graves nas pernas e braços, já o filho mais novo não ficou gravemente ferido.
GASTOS E NECESSIDADES
Tamilian contou à reportagem que está recebendo o auxílio do governo no valor R$ 375,00, mas só o aluguel de onde moram atualmente é R$ 300,00.
O marido Deivisson é pintor, mas no momento está desempregado. A família tem recebido algumas doações de cestas básicas, no entanto Ícaro precisa comer frutas, mas os pais não tem condições de comprar. Além disso o menino precisa de um creme que se chama Nívea Milk, e do medicamento “Histamin”. “Tem muita gente ajudando com cesta básica, mas precisamos comprar o creme que ele usa, porque a pele coça muito, o creme é o tempo todo, e tem o Histamim”, conta Tamilian.
Além das frutas que tem faltado para Ícaro, a família também precisa de fraldas descartáveis para ele, no tamanho extra G, e G para o Heitor, de 11 meses.
Para quem puder ajudar a família, o telefone de contato é o de Deivisson, 33 – 99837-5556, e o endereço é rua Francisco Círiaco de Carvalho, número 157, bairro Anápolis.
REELEMBRE O CASO
No dia 30 de setembro do ano passado, a aeronave do Corpo de Bombeiro Militar, “Arcanjo 07”, esteve em Caratinga junto com uma equipe médica para transportar o garoto Ícaro Gabriel Azevedo Rodrigues, de quatro anos, da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para o hospital João XXIII em Belo Horizonte.
O menino teve de 70% do corpo queimadoem um incêndio em sua casa, no bairro Anápolis.
Tamilian também sofreu queimaduras, assim como seu outro filho recém-nascido. Ela e seus filhos ficaram feridos depois de um incêndio em sua residência situada à rua Maria Lopes de Freitas, no bairro Anápolis. A família foi socorrida ao Pronto Atendimento Municipal por vizinhos.
O sargento Silvestre disse que o Corpo de Bombeiro Militar foi acionado por volta das 8h30, e quando a guarnição chegou ao local, os vizinhos estavam fazendo o combate ao incêndio em um cômodo da residência.
Os bombeiros fizeram a ventilação do local, retiraram o material que ainda estava fumegando e ainda eliminaram um braseiro que tinha dentro do cômodo. O incêndio se conteve em apenas um cômodo da casa.
O fiscal de obras Isac Batista trabalhava próximo ao local e ajudou a arrombar o portão da casa. “Estávamos um colega e eu fazendo o levantamento da via e de repente ele escutou um grito de socorro. A gente olhou ao redor e viu a fumaça saindo da residência. Corremos e ao chegar aqui, a mulher já tinha saído da casa, porém, ela não conseguia sair para a rua. O portão estava trancado e ela não conseguia abrir. A gente teve que fazer o arrombamento do portão. Nisso, a vizinhança também já chegou, uma vizinha socorreu a criança de colo e os outros vizinhos providenciaram para apagar as chamas. A gente acionou os bombeiros, mas, quando chegaram, o incêndio havia sido controlado e a população socorrido as vítimas que sofreram queimaduras”, contou Isac.
Washington Silva, vizinho das vítimas, estava em casa quando ouviu a mãe das crianças gritar por socorro.
“Eu estava em casa me preparando para trabalhar e escutei o pedido de socorro. Aí subi correndo por uma laje e pulei. O menino estava bem queimado, os dois, ela também. Eu pulei, não pensei duas vezes não. Pela situação dela, fiquei meio sem reação na hora. Aí o primo do esposo dela chegou e a levou para a UPA. E eu fiquei apagando o fogo”, disse o vizinho.
O Corpo de Bombeiros preservou o local até a chegada da perícia da Polícia Civil. “Segundo o perito, em conversa com a gente, ele suspeita que seja um curto-circuito. Verificou lá que tinha muitas tomadas ligadas num mesmo local e alguns aparelhos apresentaram sinais de que entraram em curto. Aí ele irá apresentar o laudo posteriormente, mas essa foi a primeira suspeita dele”, concluiu o sargento Silvestre.
SOBRECARGA NA REDE ELÉTRICA CAUSA MAIS DE 50% DOS INCÊNDIOS DOMÉSTICOS
Mais de 50% dos incêndios ocorridos em casas ou apartamentos, no ano passado, resultaram de sobrecarga no sistema elétrico. Segundo a Associação Brasileira de Conscientização dos Perigos da Eletricidade (Abracopel), em 2020, foram registrados no país 583 incêndios por sobrecarga, com 26 mortes.
Desse total, 309 incêndios ocorreram em casas e apartamentos, resultando em 23 mortes. O diretor executivo da Abracopel, Edson Martinho, disse à Agência Brasil que uma das ações para reduzir o número de incêndios é efetuar uma revisão completa das instalações elétricas, porque a maioria dos incêndios é gerada por sobrecarga e curto-circuito. “A sobrecarga nada mais é do que colocar mais carga no circuito, ou seja, mais equipamentos em uma tomada do que ela suporta.”
Martinho explicou que, por uma regra geral, haveria dispositivos, como disjuntor e fusível, que teriam a função de controle. “Quando se ultrapassa essa carga, eles desligam. Mas, por algum motivo, isso é modificado, e esse dispositivo é alterado, não atua, e começa a aumentar a carga que resulta em aquecimento dos fios. E, aquecendo os fios, se aquece o ambiente e provoca-se incêndio, dependendo do que tiver por perto, como cortinas, que propagam as chamas e causam incêndios até de grandes proporções”.
Martinho citou os casos do Museu Nacional e do Ninho do Urubu, do Clube do Flamengo, ambos no Rio de Janeiro.
FALTA DE ATENÇÃO
De acordo com Martinho, normalmente, o curto-circuito começa com a sobrecarga e é resultado da perda de isolamento dos fios. Com a temperatura muito elevada, o incêndio é muito mais rápido.
Ele destacou muitos incêndios em casas e apartamentos ocorrem porque os moradores saem da residência e costumam deixar equipamentos ligados, por falta de atenção ou de cuidado. Agora, com a pandemia do novo coronavírus, as pessoas estão mais em casa e desligam os aparelhos se percebem que estão ligados há muito tempo.
Martinho recomenda, tanto para residências quanto para empresas de qualquer porte, a contratação de um profissional habilitado e atualizado para fazer uma verificação completa das instalações elétricas, que devem estar adequadas às exigências da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Tais normas vão definir exatamente os dispositivos necessários para uma proteção adequada. “Esta é a regra principal para uma instalação segura.”
A partir daí, a cada cinco anos, para residências, e a cada três anos, para empresas de pequeno porte, deve ser feita uma revisão. “É a manutenção. E se tem sempre a instalação adequada.” Para empresas maiores, a revisão deve ser feita anualmente.
O diretor da Abracopel considera crítica a situação dos hospitais porque há muitas pessoas, o que ocasiona problemas de locomoção. “Qualquer falha no contexto, haverá problemas como incêndio. É um local crítico.” Ele disse que isso ocorre também com teatros e cinemas, cuja verificação tem de ser anual.
NÚMEROS
Dos 583 incêndios por sobrecarga havidos no país no ano passado, 344 foram provocados por instalações elétricas internas, com 15 mortes, número que mostra redução, quando comparado ao de 2019 (363 incêndios por sobrecarga em instalações elétricas internas, com 22 mortes). Em seguida, aparecem ventiladores e aparelhos de ar condicionado, com 99 incêndios e nove óbitos. No ano anterior, foram 119 incêndios gerados por ventilador e ar-condicionado, com 27 óbitos.
Por regiões, o Sudeste registrou o maior número de incêndios por sobrecarga em 2020: 181, com seis mortes. Em seguida, aparecem as regiões Sul, com 150 sinistros e cinco mortes; e o Nordeste, com 114 incêndios e sete mortes.
Na série histórica que compreende o período de 2013 a 2020, o ano com maior número de incêndios por sobrecarga de energia foi 2019, com 656 acidentes e 74 mortes. Em segundo lugar, ficou 2020, com 583 incêndios, seguido por 2018, com 537). Em termos de mortes em incêndios por sobrecarga e curto-circuito, entretanto, o ano passado registrou o terceiro menor número da série: 26.
Fonte: Agência Brasil
- Cômodo da casa ficou destruído pelo fogo (Foto: Arquivo DIÁRIO)
- Equipe de bombeiros militares levou Ícaro para Belo Horizonte (Foto: Arquivo DIÁRIO)
- Uma das pernas de Ícaro também ficou atrofiada
- Ícaro teve braço muito queimado e as mãos ficaram atrofiadas
- Deivisson e Tamilian estão desempregados, e precisam de ajuda para o tratamento de Ícaro
- Medicações que Ícaro precisa