(Noé Neto)
Conta-se que um pequeno filhote de pássaro foi encontrado às margens de uma estrada, por um homem que por ali passava. O filhote estava muito fragilizado, pois provavelmente havia nascido há pouco tempo e caído de seu ninho. O homem o recolheu, colocou-o em uma gaiola para protegê-lo dos predadores naturais e ali ofereceu água e alimento suficientes para que ele se recuperasse.
Os anos passaram, o pássaro cresceu e seu criador sentiu o desejo de libertá-lo. Então, abriu a porta da gaiola para permitir que o pássaro voasse. Para seu espanto, por dias o pássaro não saiu dali, permaneceu entre as grandes, mesmo com a porta aberta.
O homem, diariamente se encarregava de repor os suprimentos necessários, mantendo sempre a porta aberta. Ele sabia que o pássaro estava pronto para voar, contudo, tinha que respeitar seu desejo.
Certa feita, outro pássaro que vivia solto naquela vizinhança, observando a cena, questionou seu morador: “Por que você não vem voar, conhecer novos horizontes, alçar voos altos?”
O pássaro, prisioneiro de seus medos, respondeu: “Aqui está bom. Tenho tudo que preciso para sobreviver.”
Porém, no seu íntimo, seu desejo era se lançar ao vento, bater asas em direção ao alto, não ser prisioneiro do próprio medo.
Ansioso por ver liberto aquele a quem sempre deu cuidado e dispensou atenção, o criador decidiu não repor seu alimento por algum tempo. Bastaram alguns dias para que o pássaro deixasse a gaiola em busca de suprir suas necessidades.
Os primeiros voos foram rasteiros, sem sair da redondeza. Ali por perto, encontrava água e frutas que seu criador espalhava pelo quintal para que ele se alimentasse.
Com o passar dos dias foi alçando voos mais altos, conhecendo novos lugares, entendendo a liberdade. Porém, mesmo livre, a responsabilidade atrelada à gratidão, fazia com ele retornasse todos os dias aquele que o acolheu para cantar e encher de alegria seu coração.
A lição que nos fica é que muitas vezes nos sentimos presos às gaiolas que há muito já estão com as portas abertas, esperando que alcemos voo. A prisão maior neste caso é o comodismo, que nos prende aos velhos hábitos, aos velhos empregos, às roupas surradas, sem nenhum reconhecimento pelo canto, apenas obtendo o básico para sobreviver.
Do criador, recebemos a lição que muitas vezes a dor é mola propulsora da mudança. Quando apenas a porta aberta não basta, o criador retira o básico para que se aprenda a buscar o essencial. Em troca, ganha a gratidão do canto alegre que se vai, mas retorna diariamente.
Nós, humanos, somos como os pássaros, precisamos voar. Entender que não fomos feitos para a jaula e sempre retornar, para não esquecer de agradecer ao criador seu cuidado, ainda que nem sempre consigamos entendê-lo.