CARATINGA– Conforme ofício encaminhado ao Hospital Nossa Senhora Auxiliadora (HNSA), os funcionários do Pronto Atendimento Microrregional (PAM) de Caratinga decidiram em reunião dos colaboradores da última terça-feira (21), realizar uma paralisação das 7h de hoje até às 7h de amanhã.
A paralisação de 24 horas será encerrada com uma Assembleia, que decidirá se haverá greve. As reivindicações dos funcionários são salários em dia, quitação do 13° salário de 2016, férias pagas junto ao pagamento impreterivelmente, reajuste salarial de acordo com o índice de inflação nacional e melhoria na estrutura clínica e aumento de pessoal.
Os funcionários ainda questionaram que o convênio da União com o hospital estaria em dia e que no mês de janeiro houve o pagamento de R$ 999.703,89 com o desconto de R$ 195.118,18; sendo líquido o valor de R$ 804.585,71. Para eles, fica a dúvida sobre o motivo deste dinheiro não ter sido suficiente para pagamento dos salários.
RESPOSTA ÀS REIVINDICAÇÕES
Na tarde de ontem, ocorreu uma reunião entre os funcionários, a coordenação do PAM e a diretora administrativa do HNSA, Suély Pereira. Os funcionários tiraram suas dúvidas e confirmaram a realização da paralisação. “Ficou definido que de fato acontecerá a paralisação. Mas, todos os profissionais técnicos e enfermeiros estarão no PAM e atenderão às urgências e emergências. A população não vai ficar desassistida”, garantiu Suély.
Quanto ao repasse que foi questionado, Suély esclarece que os funcionários do HNSA entenderam que além do pagamento dos salários, há outras despesas custeadas na unidade de saúde. “Explicamos como funciona essa dinâmica, o que a gente paga e eles entenderam, mas, na segunda-feira ou na terça a mesma equipe vem de novo, vou mostrar os extratos bancários. O salário de fato sempre atrasa, mas pagamos o salário justamente com e esse recurso que cai. E nem sempre é suficiente para pagar a folha de pagamento. A gente tem que aguardar o restante para poder quitar tudo. Recebemos o dia 10, deu o montante para pagar todos os funcionários, vai ter pagamento no máximo dia 14. Antes do dia 10 impossível”.
Sobre a reivindicação do 13° de 2016, Suély explica que foi apresentada uma possível solução. “Não tínhamos no prazo legal, o dinheiro para pagar. Então, parcelamos em quatro vezes, conseguimos pagar duas. Ainda restam duas. Eles estão certíssimos em reivindicar, mas também não posso falar que vou pagar, se não tenho o dinheiro. Fizemos uma proposta que se nós recebermos da Secretaria de Saúde de Caratinga o resto que ficou a pagar de novembro e dezembro de 2016, da última gestão; vamos pagar mais uma parcela. E essa gestão também não repassou ainda o mês de fevereiro, acaba acumulando”.
Outras reivindicações também foram discutidas durante a reunião. “Com relação às férias, tínhamos um problema que às vezes o montante de recurso da folha não consigo juntar. Em negociação com os profissionais também, decidimos que se tem o montante e não é suficiente, paga-se as férias primeiro e depois o salário. Eles cobraram também o reajuste de acordo com o índice de inflação, mas é notório que nós estamos à beira da falência. Prova disso que estamos aguardando a intervenção do MP. Então, como posso ousar reajustar o salário? Tenho que enxugar a máquina. É inviável”.
A diretora administrativa do HNSA ainda salientou que as dificuldades financeiras enfrentadas pelo hospital se dão em grande por parte por problemas no repasse de recursos. “Esse caos dessa paralisação é novamente o que viemos sempre falando. Os entes federados repassam os recursos, mas atrasados, o que compromete toda a estrutura. Já solicitamos junto à Gerência Regional de Saúde de Coronel Fabriciano, em caráter de urgência, o repasse daquele incentivo de R$ 500.000 que foi divido em sete parcelas e que estamos em atraso o mês de janeiro e fevereiro. O Rede Resposta, também está atrasado referente a estes mesmos meses. Como que o hospital está sobrevivendo? São esses recursos que nos dão condições”.
USUÁRIOS RECLAMAM DO ATENDIMENTO
Apesar de a paralisação ter início somente hoje, quem buscava atendimento no PAM ontem, garantiu que estava havendo recusa de alguns atendimentos.
Silvânia Dias Costa acompanhou a mãe, Maria Evangelista de Jesus, 85 anos. A idosa passou mal em casa, no entanto, segundo familiares, o seu caso não foi considerado de gravidade para atendimento. “Ele já teve derrame há pouco tempo. E hoje (ontem) estava ativa na hora do almoço, apenas questionando um pouco de dor. De repente ela ficou completamente paralisada, não está andando, com confusão mental e um pouco de febre. Está com 17 de pressão aqui porque a gente medicou, lá em casa ela estava com 28. E não foi considerado grave o suficiente, mesmo ela tendo 85 anos, pra ser atendida”.
Silvânia lamentou o episódio, que considerou absurdo. “Eles nos passaram que os médicos falaram que só ficha laranja ou vermelha será atendida. E que eu levasse para o CASU, que consequentemente é pago. Se você tomar uma injeção tem que pagar, a luva”.
Problema semelhante foi enfrentado por Mayara da Silva Damásio, neta de Manoel Gonçalves, de 91 anos. Ela também relata que teve que voltar com o idoso para casa. “Ele dá crise convulsiva, tem problema de coração e já deu quatro ameaças de derrame cerebral. Tem sopro no coração e cheguei com ele aqui no plantão já tem quatro dias, procurando atendimento e eles não atendem. Toda vez que chega aqui só atende se for caso de acidente. A única coisa que falam é que o problema dele não é urgente. O médico está aí dentro, mas só atende a caso de acidente. Dizem que a crise que ele dá não é urgente, sendo que não tenho condições de levar ele pra casa desse jeito, porque todo dia, ou é de madrugada ou de dia, ele está dando crise. Repete 15 a 20 vezes por dia”.