Entrega de 40 certificados do curso de pedreiro de alvenaria e inauguração de sala de corte e costura
CARATINGA – A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) realizou na manhã de ontem a formatura dos 40 recuperandos e detentos do presídio de Caratinga, que participaram do curso de pedreiro de alvenaria; além da inauguração de uma sala de costura dando início ao projeto “Costurando e Transformando”. A cerimônia ainda marcou o aniversário de seis anos da Apac.
A mesa principal foi composta pelo diretor do foro da comarca de Caratinga, juiz Consuelo Silveira Neto; o defensor público, Paulo Cesar Azevedo; o presidente da Apac, pastor Elan Tebas; a diretora geral do presídio, Maria Alice Mendes Gomes e o casal de empresários, Kátia e Klinger Faíko.
Através do Programa Regresso, uma iniciativa do Instituto Minas Pela Paz em parceria com o Serviço Social da Indústria e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Sesi/Senai), o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (Fbac); 40 homens que cumprem pena em regime fechado, sendo 33 recuperandos da Apac e sete detentos do presídio de Caratinga, realizaram o curso de pedreiro de alvenaria assistente.
O curso de qualificação no ramo da construção civil, ofertado pelo Programa Escola Móvel Sesi/Senai, foi dividido em duas turmas de 20 alunos cada, que aprenderam teoria e prática e receberam certificados. Em julho deste ano, durante a aula inaugural do curso o DIÁRIO conversou com o recuperando Paulo Reis, 28 anos, que está na Apac há quase quatro anos. Ontem, a Reportagem conversou com ele novamente, que fez um balanço positivo do curso realizado. “Significa tudo. Esse certificado na minha vida vai ser muito importante. O curso foi essencial, me ensinou a entijolar, rebocar, enfim, tudo que um pedreiro faz. Trabalhei muitos anos como servente de pedreiro e de agora pra frente pretendo ser um pedreiro mesmo. Espero sair daqui e conseguir um serviço, que a sociedade abra as portas. Não digo nem mudar de vida, pois já estou mudado”.
Durante seu discurso, o juiz Consuelo Silveira Neto citou o seguinte provérbio árabe: ‘Não é mérito o fato de não termos caído, sim o de termos levantado todas as vezes que caímos’. Para Consuelo, o método concebido pelo advogado Mário Ottoboni tem o mérito de ajudar o condenado em seu momento mais difícil, “quando em face de uma queda e que precisa de apoio para levantar-se e “dar a volta por cima”. “O trabalho dignifica o homem. A partir do momento em que ao cumprirem penas os condenados possam trabalhar, aprender uma profissão; ao retornarem ao convívio social eles vão contribuir para o desenvolvimento da sociedade e assim alcançar o escopo maior da Justiça que é a paz social”.
O juiz ainda acrescenta que a comunidade recebe uma mão de obra qualificada e o próprio condenado, no dia a dia do trabalho, tem a oportunidade de transformação. “Ele sai da Apac com a possibilidade de mudança de vida, com isso o nível de reincidência cai significativamente e nós tiramos não só um condenado, mas todos os familiares desse contato com a criminalidade. O Tribunal de Justiça tem um compromisso de não só julgar os processos, não só aplicar as penas, mas também trabalhar na recuperação daqueles que cometeram algum crime. E é com muita alegria que percebemos que na Apac de Caratinga o que era um sonho, hoje é realidade, sendo referência no estado de Minas Gerais na recuperação dos condenados”.
O trabalho realizado na Apac de Caratinga tem refletido em outras comarcas, como afirma Consuelo. “É com muita felicidade que nós estamos recebendo telefonemas de outras comarcas, solicitando informações sobre o que é feito em Caratinga, no que se refere à parceria entre a Apac, presídio e empresários da localidade, inclusive já foi agendada até uma visita para setembro, para que eles possam vir até aqui”.
CORTE E COSTURA
Além da formatura, a manhã também foi de inauguração de uma sala de costura. A parceria com os empresários Kátia e Klinger Faíko rendeu o projeto “Costurando e Transformando”, que será destinado inicialmente a quatro recuperandos da Apac. Projeto semelhante já vem sendo realizado dentro do presídio de Caratinga, com o “Costurando Liberdade”, na fabricação de cuecas.
Segundo Kátia, o curso representará um desafio a mais para os recuperandos, uma vez que serão confeccionadas desde peças simples a outras mais complexas, como calças. Além disso, eles receberão por peça produzida. “Nós já temos uma unidade produtiva no presídio, onde fabricamos cuecas. Os meninos aprenderam e já estão a todo vapor. Aqui será outra unidade, com um segmento diferente. Vou ensinar a eles a confeccionar uma calça, uma camisa; lógico que vou precisar de bastante tempo porque eles não sabem nada e é um pouco complicado para aprender. A finalidade é transformar esse recuperando em um profissional, para quando sair daqui possa ingressar na sociedade e ter um emprego. Eu aposto muito nessa transformação”.
Kátia ainda incentiva a outros empresários, para que possam investir na mão de obra da Apac. “Com certeza vale a pena. Eles ficam muito empolgados quando chegamos. Todo mundo quer ajudar. Para fazer a sala, eles que ajudaram, fizeram as letras, a decoração. Eu apenas fiquei olhando, coordenando e incentivando, mas tudo partiu da iniciativa deles”.
O presidente da Apac, Elan Tebas, classifica a formatura e a inauguração como mais uma grande conquista. “40 homens que saem daqui com um treinamento básico para construção civil. O Senai deixou um conhecimento que nunca vai se perder. Hoje também inauguramos uma sala de costura, mais uma laborterapia, para que isso vá mudando a mentalidade do preso. O trabalho é diário, sério e os frutos que vão nos fazendo virar referência. São seis anos de uma batalha muito grande, mas de muitas conquistas também”.
São seis anos de serviços prestados. Durante esse período, muitos saíram e por outro lado, alguns chegaram recentemente. É o caso de Cleber de Assis, 35 anos, que está há 30 dias na Apac. Ele vai fazer seu primeiro curso na unidade e falou sobre suas expectativas. “Fica um enorme agradecimento à dona Kátia. Isso não cai do céu, é uma nova porta que está se abrindo. Tenho que agradecer também a Deus e à direção da Apac, pois se não fosse ela, isso não estaria acontecendo. A expectativa é imensa, de tomar um novo rumo na vida. Quero dar continuidade a esse trabalho na rua, eu já entendo algumas coisas de agulha, faço tapete, então acredito que não será difícil pra mim”.