*Eugênio Maria Gomes
Em sua página 4, na edição do dia 12 de maio de 2000, sexta-feira, o jornal DIÁRIO DO AÇO – CARATINGA anunciou: “Feiraso começa hoje”. No dia seguinte, O JORNAL DE CARATINGA trouxe a manchete “Feiraso movimenta Praça Cesário Alvim” e, no domingo, dia 15 de maio, o jornal A SEMANA, em sua página 10 registrou que “Feiraso beneficia entidades”.
Nos meses seguintes – até o final do governo Zé de Assis -, a Feiraso fez parte da pauta de matérias dos mais diversos veículos de comunicação. Para entendermos a sua importância e o que ela representava, é preciso que façamos uma pequena incursão pelos trabalhos que a prefeitura desenvolvia naquele período, na área da Ação Social. A Feiraso era o espaço para a comercialização dos produtos fabricados através do PGR – Programa de Geração de Renda, desenvolvido com recursos próprios do município, pensado e implantado por profissionais do Serviço Social, lotados na Secretaria de Governo e Ação Social, da qual eu era, à época, o titular.
Não, o mérito pela implantação das dezenas de projetos sociais sérios, voltados para o efetivo resgate da cidadania de centenas de famílias, não foi meu. Foi daquela fantástica equipe que consegui montar quando me foi entregue o desafio de criar e fazer funcionar a secretaria. Na primeira visita a uma comunidade, com o objetivo de “distribuir” filtros e cestas básicas, decidi que teria em minha equipe mais que motoristas, auxiliares administrativos e senhoras voltadas à caridade: era preciso contratar Assistentes Sociais.
Na época, a secretaria contava, apenas, com um profissional desta área. Resolvemos a questão firmando convênio com a Faculdade de Serviço Social, quando nos foram disponibilizados dezenas de profissionais desta especialidade. Não é preciso dizer que mal tínhamos tempo de inaugurar e divulgar um projeto e outro já estava pronto para ser implantado. Até porque, recebemos não apenas o apoio incondicional do prefeito, mas a sua determinação para que tentássemos melhorar, de fato, a vida das pessoas mais carentes.
Há quinze anos, poucos prefeitos se importavam com uma política séria de assistência social – como ainda acontece muito nos tempos atuais -, até porque o governo federal já havia repassado o ônus da Assistência aos municípios, a partir da instituição do CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social, pela Lei Orgânica da Assistência Social -, em 1993, sem contudo transferir qualquer bônus, até então. Por isso, insisto, a incursão da PMC na área social, à época, é digna de elogios e aplausos, já que o amplo trabalho desenvolvido era custeado, integralmente, pela prefeitura, com a ajuda de algumas parcerias.
Também foi nessa época que fizemos o primeiro cadastramento das entidades assistenciais de Caratinga, colocando-as em condições de receberem verbas federais. Mas, para isso, foi preciso um trabalho intenso de revisão de documentos, de alterações em estatutos e de reorganização administrativa das entidades. Tudo feito pelo Serviço Social da prefeitura. As tais “verbas federais” passaram a chegar aos cofres das entidades a partir de 2001. Até esta data, muitas delas foram mantidas, exclusivamente, com verbas municipais.
Neste período, realizamos amplo levantamento socioeconômico no município, organizamos a redistribuição de lotes invadidos por algumas comunidades, fortalecemos o Conselho de Assistência Social, implantamos o “Dia de Apoio ao Cidadão” nos distritos, implantamos a versão do “Doutores da Alegria” no HNSA, montamos palestras itinerantes, Oficinas de Cultura e programas de qualificação para jovens com o primeiro grau inconcluso, fortalecemos o Grupo de Convivência da Terceira Idade, criamos projetos para os menores em situação de risco social, criamos o CONDEC – Comissão de Defesa Civil, viabilizamos a reforma e / ou reconstrução de dezenas de casas e demos início ao PGR, a semente da Feiraso.
O primeiro Programa de Geração de Renda surgiu através da parceria da PMC e a Igreja Católica e foi instalado segundo prioridades detectadas no diagnóstico de campo. Uma missa, celebrada pelo Padre Humberto Borelli na Igreja Nossa Senhora de Fátima, inaugurou a “Oficina de Corte e Costura” da comunidade de mesmo nome de sua Padroeira, inserindo quarenta e oito mulheres no programa, que funcionava no prédio anexo à igreja, onde foram instaladas oito máquinas de costura. Na sequência, várias outras comunidades, com alta concentração de pessoas excluídas, foram atendidas com o programa, que não ficou restrito à confecção de roupas, mas contemplou também a pintura, a culinária, o bordado, entre outros.
A Feiraso surgiu naturalmente, a partir do momento em que as pessoas envolvidas no PGR precisavam comercializar os seus produtos. Com o firme propósito de que o espaço não se transformasse num modelo de concorrência ruinosa ao comércio local, a feira foi aberta para todas as instituições de cunho social do município, as quais puderam expor e vender os produtos feitos artesanalmente. Da primeira edição da Feiraso, participaram vinte e cinco entidades, entre elas: Asilo Monsenhor Rocha, Asadom, Apae, OPL – Organização do Povo que Luta, Centro Espírita Dias da Cruz, Lions Clube Caratinga Itaúna, CEC – Clube de Encontro e Convivência, artesãos autônomos e as associações ligadas ao PGR.
O projeto Feiraso, assim como todos os programas sociais da secretaria, foi mantido pelo governo municipal até o último dia da gestão “Zé de Assis”. Por mantido, leia-se: fornecimento de som, locutor e bandas, do material promocional da feira, dos profissionais da Assistência Social no acompanhamento dos trabalhos, das barracas e dos profissionais para montá-las e desmontá-las, do pessoal para limpeza antes e depois do evento etc. Não obstante as manchetes dos jornais nos meses iniciais do governo subsequente, com chamadas de “Sumiu”, “Desmantelado” e “S.O.S”, ao se referirem ao esfacelamento dos projetos sociais implantados pelo governo anterior, quando o assunto era a Feiraso, as manchetes davam conta de que a Feiraso caminhava com as próprias pernas.
Pena que, desde então, o projeto foi aos poucos se desvirtuando de seu principal foco: o de fortalecer os Programas de Geração de Renda. Sem falar que deixou de receber o necessário apoio das administrações municipais que se sucederam, principalmente dos primeiros que se instalaram logo após a sua criação. Falaram em fechá-la e em mudá-la de lugar, alegando que ela “estraga” as pedras portuguesas, embora façam “vista grossa” para o peso dos veículos que, praticamente, invadem a Catedral em determinados dias e, além de se esquecerem de que a maioria dos feirantes dependem do projeto para a sua subsistência. Ademais, a Feiraso ocupa um espaço social, levando famílias à Praça, ocupada por alguns grupos de excluídos quando ela não se faz presente.
Mesmo com algum desvirtuamento, a Feiraso está em pé. Imaculada, Raquel, Roberta, Ana, Marilia, Liliane, Marlene, Alexandra, Patrícia, Morgana, Alessandra, Rosinha, Ricardo, Daniel, Gilmar, Ailton, eu e outras pessoas cujos nomes certamente tenha me esquecido, ajudaram a construir um projeto que se tornou forte e importante. Deveria receber, agora, uma injeção de ânimo, ser revigorado, quem sabe com a introdução de novos modelos e cores de barracas; uma mudança no layout, com a concentração das barras em torno do coreto; a introdução de bandas em cada edição…
A Feiraso está debutando. Quem sabe ela não receba um bom presente nesta data tão especial? PARABÉNS FEIRASO!
* Eugênio Maria Gomes é escritor e professor.