Walber Gonçalves de Souza
Há um ditado popular que diz: “o ser humano quando educado se torna o melhor dos animais, quando não educado transforma-se no pior dos animais”. O filósofo empirista John Locke defendia em sua teoria que ao nascermos somos iguais a uma folha de papel em branco, que ao longo da vida, em virtude das nossas experiências, nossa folha, que neste caso simboliza a vida, vai sendo preenchida. Já Rousseau, outro filósofo, dizia que somos um bom selvagem e que pela educação poderemos controlar o nosso lado selvagem e assim conseguiremos ter uma boa convivência em sociedade.
Podemos observar que há uma coisa em comum entre estes três pontos de vista: a educação deve nos preparar para a vida, para a harmonia entre as pessoas, para o convívio entre os pares, independente se são conhecidos ou não.
Pela educação o nosso lado irracional, portanto o lado animal, deve ser equilibradamente controlado, devemos ser capazes de manter o autocontrole. Nossos impulsos não devem dominar as nossas ações. A educação deve literalmente nos educar.
Como educar é um ato experimental, de acordo com John Locke, nossa vida vai sendo preenchida pela educação que temos. Portanto, bem-educados nossas experiências serão valorosas; mal-educados, as páginas das nossas vidas serão cheias de manchetes desagradáveis.
Durante muitas décadas em nossa cidade era impossível encontrar alguma faixa de pedestre, o estilo de vida interiorano parecia ser um impedimento natural para a existência dela. Sabíamos da existência das faixas de pedestre, da sua importância e necessidade, mas durante anos acreditávamos que por aqui elas não faziam sentido.
Mas devagar este cenário começou a mudar, timidamente começou a aparecer uma faixa aqui e outra acolá. Algumas ganharam formas robustas com cores de destaque. Em consonância com elas a cidade ia se modernizando, crescendo, o fluxo de transeuntes e veículos a cada ano já não era mais o mesmo, pois acompanhava a tendência do crescimento.
Hoje elas estão espalhadas em vários lugares, talvez ainda não sejam em quantidade suficiente, mas estão aí e fazem parte das nossas vidas. E com elas estamos aprendendo novas regras de convivência nas vias públicas, estamos sendo reeducados para a convivência no trânsito.
A existência dela nos mostra a importância da realização das coisas, de acreditar que a vida em sociedade pode tomar rumos diferentes, que podemos aprender a conviver. Se elas não existissem na nossa cidade, nosso trânsito seria ainda mais caótico, mesmo sendo uma cidade de porte médio.
Uma coisa simples, mas que colabora para o processo de educação. Sabemos que muitas pessoas não conhecem o motivo delas estarem ali, talvez por isso não respeitem seu propósito. Muitos motoristas não param, mas sabemos também que muitos param, muitos pedestres ainda não usam a faixa, mas temos a mesma convicção em afirmar que muitos fazem frequentemente o uso delas.
Com as faixas de pedestre aprendemos que é preciso realizar, fazer acontecer. Elas são a certeza, por mais simples que possam parecer que é possível educar. É claro que demanda tempo, paciência histórica, pois nenhuma mudança acontece do dia para noite, mas vagarosamente elas vão acontecendo.
As faixas estão dando uma nova dinâmica para a nossa cidade. Elas estão provocando uma nova forma de observar o outro, de cultivar o respeito pelas leis e principalmente pelo outro, com elas estamos aprendendo a perceber e notar o nosso semelhante.
Nossas experiências, como diria John Locke, estão contribuindo para a construção de uma cidade melhor. Vamos nos educando mutuamente, e acalmando, como diria Rousseau, o lado “selvagem” que existe em cada um de nós. A faixa de pedestre além de servir para ligar lados distintos de uma mesma rua, está servindo também para fazer com que cada um de nós se torne um ser humano um pouco melhor.
Walber Gonçalves de Souza é professor.