O processo de interiorização do Brasil, portanto, da ocupação das terras do interior, iniciada com mais robustez, a partir do século XVIII, através das expedições promovidas pelos desbravadores, e que ficaram conhecidas como Entradas e Bandeiras, teve como principal finalidade a descoberta de riquezas, principalmente metais preciosos.
Todavia, nosso país é de uma natureza espetacular, extensa e diversa. E nele foram encontradas tantas outras riquezas, ligadas à flora e fauna. Raízes e folhas medicinais, sementes, frutos, condimentos foram algumas dessas descobertas. Assim, as especiarias ou drogas do sertão (vale lembrar que sertão era o nome dado ao interior), foram nomes dados às essas descobertas, tornaram-se, também, um atrativo para as expedições.
Mas vale ressaltar, que as descobertas dessas especiarias, já eram de conhecimento dos povos nativos que ocupavam várias das diversas regiões do nosso imenso Brasil. Portanto, as expedições notaram uma possibilidade comercial dessas especiarias. Situação, até então, não imersa na cultura indígena.
Nessa direção, quando Domingos Lana, já no século XIX, pisou nas terras que se tornariam as terras de Caratinga, ele encontrou uma dessas especiarias. Foi encontrada aqui uma planta medicinal denominada Poaia, cientificada registrada como (ipecacuanha). No período colonial, concebida como uma das mais cobiçadas drogas do sertão durante os séculos XVI e XVII.
Domingos Lana, que era comerciante e o sertanista pioneiro a ocupar e desbravar a região de Caratinga, o fez pela extração da planta, por ser considerada na época um produto medicinal e, portanto, de um atraente valor financeiro agregado, visto que era um produto comercializado para o exterior, pelos comerciantes brasileiros.
Um outro ponto importante, que deve ser observado em relação ao desenvolvimento do comércio da poaia na região, tendo o escambo como base entre os nativos e colonizadores, é que este acabou sendo, indiretamente, responsável também por práticas agrícolas que avançaram sobre as matas, alterando as características naturais da paisagem. A rota seguida por Lana e sua tropa na exploração da Poaia foram as margens do Rio Caratinga, no sentido de
Cuietè (Conselheiro Pena).
A Poaia é uma planta medicinal, que tem um valor farmacológico muito expressivo. Essa espécie possui propriedade eméticas, expectorantes e amebicidas. Em suas raízes encontram-se alcaloides, que atuam como estimulante do sistema nervoso central. Os nativos, das mais diversas partes do país já faziam uso dela.
Finalizando, devido a esta pujança comercial com a extração da Poaia, inicia-se as primeiras modificações provocadas pelos sertanistas na paisagem, situação que se tornou uma constante no processo geohistórico da formação do município.
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor; e Ana Júlia Rodrigues de Souza é estudante de medicina.