CARATINGA – Foi inaugurada na manhã de ontem, extensão da Escola Estadual Professora Maria Fontes, do distrito de Santa Luzia, que passa a funcionar na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Caratinga, onde 96 recuperandos dos regimes fechado e semiaberto, poderão cursar o ensino médio e fundamental.
A inauguração contou com a presença de diversas autoridades, dentre elas, o juiz de direito Consuelo Silveira Neto, o promotor de justiça Maicson Borges, o defensor público Paulo César Azevedo, o presidente da Apac, pastor Elan Tebas; a diretora da Apac Adriana Luppis, a diretora da 6ª Superintendência Regional de Ensino, Landislene Gomes Ferreira, a “Landinha”, a diretora da escola estadual, Patrícia Jacinto Moura Ferreira e diversos recuperandos e representantes da sociedade.
PRESIDÊNCIA DA APAC
O pastor Elan Tebas ressaltou que sua fala é de agradecimento ao juiz Consuelo, a Landinha e a Patrícia, pois “são pessoas que abraçaram a causa de implantar a escola dentro da Apac”. “Estamos com sete anos de Apac, desfrutando um momento muito importante, estamos começando a colher os frutos da persistência. Sempre tive vontade de ver esta casa prosperar. Aos professores que estão chegando e direção da escola, aqui é um ambiente de muito respeito, tem uma benção especial, vocês vão crescer muito aqui nesse lugar. Nenhum recuperando sairá da Apac sem passar por um banco de escola, algo que muitas pessoas nunca conseguiram na vida”, disse o presidente.
Elan Tebas ainda ressaltou que as instalações da escola foram feitas com recursos próprios, “com dinheiro proveniente dos produtos fabricados pelos recuperandos”.
SUPERINTENDÊNCIA DE ENSINO
Landinha, diretora da Superintendência Regional de Ensino, contou que tudo começou quando estava num evento com o juiz Consuelo e ele disse que precisava de sua ajuda para abrir uma escola na Apac. “Adriana (diretora da Apac) me ligou, agendamos uma visita e quando cheguei aqui fiquei surpresa, pois um recuperando estava abrindo as portas pra mim e já fui me apaixonando e meu coração se abrindo. Adriana me recebeu com muita alegria e eu disse que lutaria com todas as forças para conseguir a escola. Fui a Belo Horizonte e fui autorizada, precisava de uma diretora e então pensei na Patrícia da escola de Santa Luzia. Tinha certeza que ela acolheria a ideia e isso aconteceu. Serão atendidos 96 alunos e isso pode aumentar. São 17 funcionários e não podemos errar. Estamos aqui para acertar, fazer o nosso melhor”.
Patrícia, a diretora da escola na Apac, disse acreditar muito na educação. “Acho que eles sairão daqui com preparo. Eles perderam uma oportunidade de vida e estão hoje acreditando que voltarão para o mercado de trabalho com todo o direito de qualquer cidadão”.
A JUSTIÇA
O promotor de justiça Maicson Borges ressaltou que é um momento bastante importante para história da Apac de Caratinga. “A gente sabe que a educação é o pilar de toda sociedade e é através do conhecimento que a sociedade se transforma, constrói seus valores. Acredito que a partir da construção desta escola, estamos estruturando e trazendo para dentro da Apac esse pilar fundamental para a sociedade, essencial para construção e formação de todo ser humano. Desejo que os senhores que frequentarão essa escola possam se libertar através do conhecimento, da educação, se ver livres de seus passados e saírem daqui com conhecimento adquirido e que possam de fato construir um futuro melhor”.
O grande idealizador do projeto, o juiz Consuelo Silveira Neto, iniciou sua fala citando o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard: “‘A vida só se pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se adiante’. Creio que essa frase é válida para a realidade de hoje. Como juízes podemos julgar as ações do homem dentro das alternativas encontradas na legislação para inibir novas infrações e promover a segurança e a paz. No entanto não nos compete julgar o homem, não estamos acima de qualquer pessoa. A única coisa que podemos fazer é lutar para que determinado estado de coisas indesejáveis seja revertido, buscando-se a possessiva recuperação. Temos milhões de possibilidades para nos renovar, e assim reformar o mundo à nossa volta. Por isso vemos com muito entusiasmo a inauguração de uma escola na Apac de Caratinga. Temos a oportunidade de olhar para trás, pensar um pouco no sistema carcerário convencional e ao mesmo tempo ter os olhos voltados para o futuro. O amor, a confiança, a valorização do ser humano, a crença na sua capacidade de recuperação são pilares importantes que diferenciam o método Apac, do sistema comum. Educação é um dos subitens da valorização humana, elemento fundamental e básico do método Apac. A educação pode e deve contribuir para formação de cidadãos autônomos e capazes de agir em sociedade de forma positiva e por isso é de suma importância salientar que os educadores prisionais devem ser qualificados com uma formação específica, especializada para melhor atuar e conviver com os apenados. Posso afirmar que uma da praxes mais satisfatórias das unidades prisionais é lidar com os presos com amor, delicadeza, agindo com normalidade, mas com sinceridade, elogiando quando for oportuno, dialogar sempre que se sentir a necessidade e estimulá-los com palavras de otimismo de modo que sejam valorizados”.
REMISSÃO DE PENA
O magistrado Consuelo alertou aos recuperandos que comemorem a inauguração da escola, pois em sua opinião, as ações educativas exercerão influências edificantes na vida deles e consequentemente de seus familiares, criando condições para que moldem suas identidades, ajudando a cada um reconstruir um projeto de vida, além da possibilidade de remissão de pena. “Poderão remir um dia de pena para cada 12 horas de frequência escolar, e pode ser acrescido de 1/3 da conclusão do ensino fundamental, médio e superior durante o cumprimento da pena. Os recuperandos devem abraçar essa ideia e valorizar esta oportunidade, que poderá mudar a vida de vocês e traz reflexo na vida dos familiares. O estudo permite a todos mudar de vida. A cada seis meses de remissão pelo estudo ganham mais dois meses se concluírem ensino fundamental, médio ou superior. A cada uma ano de remissão ganham mais três meses. Assim não podemos deixar de reconhecer a grandeza do projeto e faço agradecimento especial a Landinha que abraçou essa causa”.
Ralph Barbosa cursará o ensino fundamental. Ele, que está em regime fechado na Apac há quatro meses, onde deve cumprir pena até 2019, comemorou a inauguração da escola. “Para nós é muito bom; tempo de recuperar o que tínhamos perdido e é importante para sairmos preparados para mercado de trabalho”.