Estranho pensar em limite para a liberdade, pois são duas situações aparentemente antagônicas, porque o limite é justamente aquele ponto que marca, ou deveria marcar, o fim da liberdade.
Existem dois ditados populares que demonstram este contexto de limite da liberdade, um deles é até bíblico que assim diz “tudo posso, mas nem tudo me convém”, portanto, somos livres para fazermos o que quisermos, mas será que devemos? Já o outro, assim diz “a minha liberdade termina quando começa a do outro”. O difícil é perceber o momento tênue do encontro do fim de uma para o início da outra. Para perceber tal momento tem que haver bom senso.
De tudo isso o que importa pensar é: será que existe ou deveria existir limite para a liberdade? Será que somos e devemos ser livres para fazer o que quisermos? Será que realmente devemos colocar em prática tudo aquilo que nos vem à cabeça?
Viver em sociedade é justamente tentar encontrar caminhos que apontam respostas para estes questionamentos. O filósofo grego Aristóteles já dizia que o ser humano é um animal político por excelência, acrescentava que vivemos em sociedade por necessidade. Penso que ninguém ousa questionar o pensador, pois o contrário representearia o nosso fim.
Mas voltando à questão da liberdade, vivemos uma era em que pensamos que podemos tudo, independentemente de qualquer coisa. Olhamos primeiramente nossos interesses pessoais, nossas vontades individuais e muito pouco estamos pensando no coletivo. E o certo é que não há sociedade que resista a tais atitudes egoístas. Agindo assim, acabamos de certo modo, contribuindo para o nosso próprio fim como sociedade.
E o que não faltam são exemplos que justificam tais atitudes e pensamentos. Só para exemplificar, olha a que ponto estamos chegando no futebol. Nossos estádios estão, paulatinamente, restringindo a participação das torcidas opostas, com o único objetivo de evitar confusões. Agora pense em quantos exemplos teríamos na política, na religião, nos condomínios, nas escolas, nos bairros, etc.
Se tudo na vida na vida há um equilíbrio, com as nossas vontades e paixões não podem ser diferentes. Pois elas alimentam nossa sede por liberdade. Viver em sociedade nos provoca a todo instante a domar nossos instintos, a perceber o outro e a rever nossas posturas.
Se não tivermos coragem e vontade de frear nossos desejos acreditaremos que tudo podemos e que tudo nos convém; se não tivermos a sensatez e sensibilidade para com o outro nunca conseguiremos ver e perceber quando finda a liberdade pessoal e começa a do outro.
Este é o grande segredo da vida em sociedade, buscar a todo instante combater o bom combate que é sempre a luta conosco mesmo. Pois como afirmava Aristóteles “o homem livre é senhor de sua vontade e somente escravo de sua própria consciência”.
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor