53 detentos de Caratinga são esperados para provas que acontecerão nos dias 1° e 2 de dezembro
CARATINGA – 7.421 detentos de Minas Gerais se inscreveram para o Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL) deste ano, que será realizado nos dias 1º e 2 de dezembro. Isso representa um aumento de 20% em relação a 2014.
Serão 6.662 candidatos de presídios e penitenciárias da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e 759 de Centros de Reintegração Social (CRS’s) de associações (Apac’s) vinculadas à Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (Fbac).
No Sistema Socioeducativo de Minas, administrado pela Subsecretaria de Atendimento às Medidas Socioeducativas (Suase) da Seds, o número de inscritos para o Enem PPL teve um aumento ainda maior, frente a 2014. Vão fazer as provas 340 adolescentes em conflito com a lei, 37% a mais do que no ano passado, quando 211 participaram do exame.
Segunda maior população carcerária do Brasil, Minas Gerais mantém a mesma posição em número de inscritos para o Enem PPL. Para a edição de 2015, há 45,5 mil inscritos no país. No Sistema Socioeducativo, o Estado também é o segundo no país em número de inscritos para o exame, posição compatível com o número de adolescentes em cumprimento de medida de internação. O total nacional é de 3.043 adolescentes candidatos.
As provas do Enem PPL serão aplicadas em 132 unidades da Suapi e em 30 CRS’s/Apac’s.
CARATINGA
As inscrições no Enem PPL foram feitas via internet pelos responsáveis pedagógicos de cada unidade da Suapi, Apac e da Suase. Esses técnicos são responsáveis também por conferir os resultados, comunicá-los aos candidatos e encaminhá-los ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e a outros programas de acesso à educação superior.
As provas basicamente são as mesmas, a única diferença é que os detentos preenchem antes da prova um formulário socioeducativo. No primeiro dia do Enem PPL, os candidatos realizarão as provas de ‘Ciências Humanas e suas Tecnologias, que envolvem história, geografia, filosofia e sociologia e de ‘Ciências da Natureza e suas Tecnologias’, que englobam química, física e biologia, com duração total de 4 horas e 30 minutos.
Já no segundo dia, os candidatos realizarão as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (língua portuguesa, literatura, língua estrangeira – inglês ou espanhol –, artes, educação física e tecnologias da informação e comunicação), redação e matemática, com duração total de 5 horas e 30 minutos.
Em Caratinga, ambas as unidades terão presos participando do ENEM PPL. Segundo informações da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), o presídio conta com 28 participantes. Já na APAC são 25 inscritos. Em ambos os casos a média de idade dos inscritos é de 20 a 40 anos. O DIÁRIO DE CARATINGA esteve nas duas unidades para saber sobre a preparação dos detentos para as provas e suas expectativas.
PRESÍDIO DE CARATINGA
De acordo com a coordenadora pedagógica do presídio, Célia de Fátima Gomes de Rezende, o nível de dificuldade do Enem PPL é o mesmo do Enem tradicional. Ela destaca que a demanda maior dos detentos é concluir o Ensino Médio por meio do Enem. Mas, o local já tem histórico de bons resultados, inclusive um detento teria sido aprovado em 2° lugar no ano de 2013 para uma universidade federal.
No entanto, apesar da expectativa de boas notas, o espaço não conta com capacidade para que os detentos se preparem como os outros candidatos. “Eles ficam um pouco limitados a conhecimento. E por ser um presídio, a falta de salas, tudo isso dificulta um pouco. Mesmo assim, eles se esforçam e muitas vezes conseguem resultados melhores do que quem tem condições de estudar. Sempre digo a eles que esta é uma oportunidade muito boa”.
L.B.T., 31 anos, cumpre pena no presídio por tráfico de drogas e deve ser ter liberdade daqui a oito meses. Ela vai fazer as provas do Enem em busca de uma bolsa de estudos. “Estou em dúvida entre Direito e Psicologia. Me disseram que tenho que caprichar na redação, nisso tenho facilidade”, disse esperançosa.
Questionada do motivo de ter interrompido os estudos, L.B.T. confessa que se arrepende, mas espera um futuro diferente para ela e para os filhos. “Com o perdão dos termos, mas foi falta de vergonha mesmo. Hoje me arrependo muito, pretendo estudar, fazer uma faculdade e não voltar mais para o presídio. Tenho dois filhos, de 10 e cinco anos, quero que tudo para eles seja diferente do que foi para mim. Eles são meu orgulho”.
Apac
A assistente social voluntária da Apac de Caratinga, Luciana Cristina de Moura explica que na unidade a maior demanda dos inscritos também é concluir o Ensino Médio. Mas, ao contrário do presídio, os detentos têm mais condições de estudarem para as provas. “Eles têm a biblioteca à disposição, vem materiais para eles. E as notas do Enem passado foram boas, teve recuperando que tirou mais de 700 pontos na redação”.
M.S.B., 29 anos cumpre pena por tráfico de drogas na Apac. Ele vai fazer as provas do Enem para concluir o Ensino Médio. Saiu da escola aos 18 anos, faltando apenas um ano para concluir os estudos. “Precisei para de estudar porque estava trabalhando. Mas, arrependo de ter saído”, afirma.
Ele destaca que sua maior dificuldade no Enem será a redação, mas está se preparando para obter bons resultados. “Estou confiante. Tenho um filho e espero que ao contrário de mim, siga firme nos estudos”.