* Antônio Fonseca da Silva
Por que falar ou escrever sobre ética? Palavra tão desgastada em muitos e diversos setores da sociedade. É curioso e nos causa espanto sempre que lemos ou ouvimos de pessoas a expressão “isto é antiético” ou “a atitude deste ou daquele é antiética”, mas não há mudança, as coisas ou os problemas continuam os mesmos, e da mesma maneira.
Antes de referir-se aos setores em que a falta de ética é mais apontada e mais criticada, torna-se necessário voltar à história para entender o sentido da palavra ética a partir de sua etimologia. Ética é uma palavra de origem grega que vem de ethos, que apresenta a grafia com som fechado – êthos – que significava lugar onde se colocavam os animais e que evoluiu para o lugar onde nascem os atos, as ideias, ou seja, o que surge na interioridade do ser humano através de seu convívio. Éthos, com som aberto, significa comportamento, costumes, hábito, a maneira de ser de um indivíduo.
Assim, é normal que, ao se falar em ética, torna-se conveniente reportar-nos a uma relação intrínseca que nos remete ao cumprimento dos deveres e ao exercício dos direitos. É comum, em nossos dias, nas relações comerciais e empresariais a pessoa se autodefinir como ética, ou seja, é uma afirmação que objetiva não deixar dúvida quanto ao seu comportamento, a sua postura, seu comprometimento e sua discrição.
A ética está relacionada ao belo, como afirma Pierre Reverdy, “a ética é a estética de dentro”, é a beleza interior do ser humano. Quando se refere à ética é bom lembrar que é necessário o embelezamento interno, embora seja mais usual a preferência pela preocupação em cuidar do externo. Para ser ético, é preciso cuidar da beleza interna, ter um comportamento que seja digno e verdadeiro, não apenas uma atitude falseada para construir uma aparência de ético. Agir eticamente é ter comportamento, compromisso, respeito, pensamento e sentimento coerentes consigo e com os outros, sempre considerando os direitos humanos.
Ao falarmos sobre este tema, os exemplos citados se referem a atos ou comportamentos de lideranças, como se fosse algo inerente a algumas profissões ou funções. No entanto, a ética permeia o universo das relações e da vida humana. Ajudar uma pessoa a subir escadas, a descer do ônibus ou mesmo levantar para dar lugar a quem precisa… mais do que ser educado, é ter uma atitude ética. O falar de outrem no sentido de enfraquecê-lo, levá-lo ao descrédito, fomentar o “disse que disse”, além de ser falta de caridade, é antiético.
Estamos vivendo o período dos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Durante todo o período final de “arrumação da casa” para receber os visitantes, um dos maiores destaques na mídia nacional foi a falta de compromisso no cumprimento das normas e prazos na preparação de toda infraestrutura. Sem mencionar algumas denúncias de desvios de verba e superfaturamento de obras. Isso demonstra que a ética não foi um valor que permeou todas as relações.
Entretanto, desperta muito a atenção o fato trazido principalmente pela mídia internacional: as vaias dos torcedores nas arquibancadas. Alguns atletas se sentiram desrespeitados e incomodados com esse comportamento da torcida. Os espectadores se justificam embasados no comportamento cultural do brasileiro acostumado com times de futebol ou vôlei: quanto mais barulho, melhor para animar o time. Mas, e os outros esportes que precisam de outra atmosfera sonora para realização da prova? Os torcedores estão agindo de maneira ética? Para muitos atletas e suas equipes, os torcedores estão sendo, no mínimo, mal educados, pois ética está completamente ligada ao respeito ao outro e às suas necessidades.
E então, estamos sendo éticos em nossas ações ou apenas apontando a falta de ética do outro?
* Antônio Fonseca da Silva – Reitor do Centro Universitário de Caratinga – UNEC. Diretor Executivo da Fundação Educacional de Caratinga – Funec. Mestre em Administração pela Fundação Pedro Leopoldo. Professor de Linguística no UNEC.
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