Psicóloga Isabella Gomes fala sobre essa situação e passa orientações aos pais e responsáveis
CARATINGA – Estresse é uma palavras mais ditas nas últimas décadas. Estresse é a reação natural do organismo quando vivenciamos situações de perigo ou ameaça. Esse mecanismo nos coloca em estado de alerta ou alarme, provocando alterações físicas e emocionais. A reação ao estresse é uma atitude biológica necessária para a adaptação às situações novas. Lego engando pensarmos que estresse é algo somente entre adultos, pois as crianças cada mais são acometidas por esse tipo de reação do organismo.
As crianças também podem sofrer, por diversas causas e motivos, desse distúrbio. Assim como nos adultos, as crianças também exibem momentos de tensão, que podem até mesmo se apresentar de maneira mais forte.
A psicóloga Isabella Gomes fala sobre esse tipo de situação e dá dicas para os pais e responsáveis: “Apender a ouvir os próprios filhos é a melhor forma de perceber diferentes tipos de alterações e assim evitar o estresse infantil”.
Estresse é algo comum entre adultos, mas também é algo diagnosticado em crianças?
O estresse é um dos problemas de saúde que mais atinge a população atual e é um fator de risco importante para vários transtornos mentais. Ele é definido por uma reação natural do organismo diante de uma situação de tensão ou de intensa emoção, ele pode ocorrer em qualquer pessoa, independente de idade, raça, sexo, situação socioeconômica. Se trata de um conjunto de reações físicas e psicológicas que apresentamos quando algo acontece e que nos assusta, nos amedronta, irrita, excita ou nos faz extremamente felizes. Caso não tratado, pode resultar em uma série de doenças e problemas de adaptação.
É algo sério e que pode afetar qualquer pessoa, incluindo as crianças. Isso, porque o estresse é uma “arma” do nosso corpo que surge em qualquer tipo de situação hostil. Então, pode acontecer com um adulto, quando o chefe chama sua atenção ou numa entrevista de emprego, por exemplo, ou pode acontecer com uma criança, quando leva uma bronca da professora ou quando presencia uma briga dos pais.
Muitas vezes, os pais nem desconfiam que uma queixa ou doença do filho pode ter raízes no estresse e pode passar “tão batido, que em algumas situações a criança é medicada e tratada de maneira equivocada”.
O que pode desencadear o estresse infantil?
A modernidade trouxe com ela pontos positivos, mas também trouxe mais pressão, cobranças, agitação, competitividade, excesso de oferta (de atividades e de informações) que sobrecarrega a mente, perturba e traz angústia.
Estamos cada vez mais atarefados e com rotinas que nos expõe a situações que exigem inúmeros esforços, tanto físicos quanto emocionais. E, se para nós adultos, é difícil adaptar às pressões que surgem no dia a dia, imagine como deve ser complicado e desafiador para uma criança lidar com tudo isso!
Algumas pesquisas apontam que as principais causas do estresse infantil são as críticas dos adultos, o excesso de atividades na rotina e o bullying. Além dessas, também é comum as crianças se queixarem do divórcio, de constantes brigas entre os pais, gravidez da mãe, nascimento do irmão, mudança de escola, hospitalização… tudo isso pode criar uma tensão muito grande e desencadear o estresse.
Como o estresse infantil se manifesta?
Muitas vezes, os pais não sabem reconhecer que seu filho está estressado e acabam confundindo o comportamento negativo das crianças com agressividade, desobediência, birra ou malcriação. Por isso, devem estar atentos aos sinais de estresse.
O estresse na criança pode se manifestar através de sintomas físicos ou psicológicos. Vale lembrar que nenhum sintoma isolado pode ser interpretado como sinal de estresse infantil. É importante verificar se vários sintomas estão ocorrendo juntos. Os mais comuns são:
Sintomas físicos- dor de barriga e diarreia; dor de cabeça; náuseas; mãos frias e suadas; falta ou excesso de apetite; enureses noturnas (fazer xixi na cama); ranger de dentes; tensão muscular; hiperatividade.
Sintomas psicológicos- insônia; agressividade; impaciência; desobediência; insegurança; preocupação; ansiedade; choro excessivo; dificuldade de socializar; hipersensibilidade; pesadelos; medo.
É importante levar em consideração que cada criança possui uma maneira individual de externalizar o estresse. Isso vai depender da sua capacidade de elaboração, idade e apoio da família diante da situação.
O estresse infantil pode afetar o desenvolvimento intelectual da criança?
A criança, durante o seu desenvolvimento intelectual, emocional e afetivo, se depara com diversos momentos de tensão que podem alcançar níveis muito altos. Ás vezes esses níveis ultrapassam sua capacidade de lidar com situações conflitantes. Dessa forma, uma situação pode ou não ser estressante para uma criança dependendo do estágio de desenvolvimento emocional em que ela esteja.
O estresse excessivo é capaz de produzir inúmeras consequências para a criança e para as pessoas a sua volta. No contexto psicológico e emocional ele pode produzir cansaço mental, dificuldade de concentração, perda de memória imediata, apatia e indiferença emocional. Deixa marcas na estrutura e funcionamento cerebral, o que pode comprometer o desenvolvimento emocional e cognitivo.
Isso não quer dizer que uma criança exposta ao estresse terá dificuldade na escola, pois há várias diferenças individuais. A maneira que cada criança lida com seu estresse vai determinar sua resistência às tensões durante seu desenvolvimento e posteriormente na vida adulta.
Ainda vivemos um período de restrições devido a covid-19. O fato da criança ficar mais em casa, como isso pode influenciar, no caso do estresse infantil?
Além da angústia causada pelas incertezas da pandemia, as crianças têm sofrido com as consequências sociais do novo vírus, o isolamento em casa, o afastamento de familiares e amigos, a falta de convívio com colegas e escola, mudança repentina da rotina e restrição de espaço para brincar, correr, tomar sol. E, mudanças importantes no cotidiano representam um fator gerador de estresse em todas as pessoas, independentemente da idade.
A pandemia causou mudança muito abrupta e acentuada para todas as famílias e as crianças não possuem estratégias para superar isso, devido a sua imaturidade neurológica. Então, a família precisa olhar para elas de forma mais cuidadosa. Comportamentos diferentes dos habituais são sinais de que o filho está precisando ser mais escutado, mais acolhido.
Como se dá o tratamento do estresse infantil? São usados medicamentos?
Apender a ouvir os próprios filhos é a melhor forma de perceber diferentes tipos de alterações e assim evitar o estresse infantil. O primeiro passo para atingir o equilíbrio emocional das crianças seria os pais se tornarem uma rede de apoio e uma referência para os pequenos e refletir sobre o estilo de vida da criança.
Passar pelo estresse fica mais fácil se a família conseguir desenvolver estratégias para ajudar a criança a se reorganizar. Para isso, precisa prover carinho, suporte, acolhimento, escuta da angústia, além de tentar organizar uma rotina mais tranquila e com coisas atividades positivas.
Quanto mais cedo se descobre o problema, mais rapidamente a criança melhora. O tratamento pode envolver até medicamentos, que devem ser indicados por um médico, e também a realização da psicoterapia.
O importante é que você não precisa lidar com esses excessos sozinho. Não se preocupe se não der conta. Pedir ajuda a um médico ou psicólogo é extremamente importante nesses momentos.
Quais dicas você dá para os pais?
Responsabilidades: não delegue tarefas que não sejam compatíveis com a idade. Se perceber dificuldades repentinas de relacionamento, é sinal de que algo está errado.
Na hora de criticar: explique o problema e sugira soluções para que seu filho perceba como pode fazer diferente, foque sempre no comportamento e não na criança.
Lazer: as crianças precisam ter tempo para estudar, descansar e, principalmente, brincar
Ritmo de aprendizagem: cada criança tem um ritmo diferente para se desenvolver e aprender. Os pais devem prestar atenção nisto e nunca cobrar que o filho seja igual ao irmão, por exemplo.
Apesar da maioria das pessoas enfatizarem o lado negativo do estresse, devemos lembrar que certo grau de desafios no dia a dia da criança, pode se transformar em energia de crescimento e desenvolvimento. Isso porque uma das características mais importantes para evitar os quadros de estresse é justamente a resiliência – a capacidade de a pessoa se adaptar e sair de situações adversas. Quando a criança é sempre “salva” pelos pais do apuro, ela não vai desenvolver essa habilidade e pode se tornar mais passível ao estresse.