Eugênio Maria Gomes
Até as 23 horas, do dia 24 de dezembro, o movimento foi grande na casa de José. A criançada correu pela sala, alguns adultos rezaram, outros cantaram, mas todos viveram o usual clima de Natal. A festança começou cedo, por volta das 19 horas. José convidou toda a sua família e, Maria, também convidou a dela. Vieram os irmãos, tios e sobrinhos. Por volta das 22 horas, já cansados, Maria resolveu servir o jantar, colocando à mesa os pratos que um e outro trouxeram para a Ceia de Natal: arroz, frango assado de máquina, batata frita, uma salada de tomate e alface e um garrafão de vinho “sangue de boi” para acompanhar. Depois de servidos, as sobras foram guardadas e as vasilhas acondicionadas em uma caixa para serem lavadas em outro dia. Às 23 horas, todos foram convidados ao recolhimento. Era hora de cada um, a seu modo, aguardar a tão esperada chegada de Noel.
– Ho ho ho!
Quem estava acordado, pôde ouvir nos céus o característico anúncio de que Noel estava por perto.
Na casa de José, depois que os convidados se retiraram para o seu próprio acompanhamento das atividades do bom velhinho, todos se esconderam nos cantos da sala e concentraram toda a sua atenção na caixa da lareira. Era uma caixa grande, sobre a qual se estendia uma longa chaminé, que ultrapassava o teto e podia ser visível do lado de fora da casa, acima do telhado.
– Ho ho ho!
Na medida em que o tempo passava, o barulho de Noel ia ficando mais alto, cada vez mais forte, até que o relógio bateu meia noite…
– Papai! Acho que ele está chegando…
– Deve estar mesmo… Espera! Sim, está chegando, pois escuto um barulho no telhado.
José pediu silêncio ao filho, enquanto Maria, sentada no sofá, no fundo da sala, apenas ouvia a conversa dos dois. Desde que o seu filho nascera, há sete anos, eles passavam a noite de Natal assim, à espreita de Noel. No primeiro ano, o danado ficou preso na chaminé… Estava gordo demais. José teve de subir no telhado e, com a ajuda de uma corda, puxada por Maria na caixa da lareira, ele pulou nos ombros de Noel, numa tentativa de empurrá-lo chaminé abaixo. Nada fez o gordo velhinho descer. No segundo ano, Noel também ficou preso, mas soltou-se com mais facilidade, depois que Maria e José repetiram a operação feita no ano anterior. No terceiro, quarto e quinto anos, Noel desceu bem, muito encostado nas paredes, mas, não chegou a ficar entalado na chaminé. Porém, Noel ficou agarrado na caixa da lareira, o que foi resolvido após José quebrar uma das suas paredes. No ano passado, ele desceu sem muitos problemas pela chaminé, nem ficou agarrado na caixa da lareira, porém teve de sair pela porta da frente, por pura falta de fôlego para fazer o caminho inverso ao da entrada.
– Ho ho ho! Estou chegando pessoal. Vou descer a chaminé…
– Cataplam! Booom! Craccc!
Noel caiu, estatelou-se no chão e quebrou algumas costelas. José, Maria e o pequeno José Maria acudiram-no… Nem precisava que os três fizessem isso, bastava José: Noel estava leve demais. Aliás, estava que era puro osso. Talvez tenha sido essa magreza a responsável pela sua queda. Noel não teve tempo de apoiar as mãos nas paredes da chaminé, estava magro demais e, tão logo colocou os pés para o interior da torre, caiu em queda livre, e esborrachou-se no chão.
A situação não está boa pra ninguém. Não está boa para mim, não deve estar boa para você, não está boa, nem mesmo, para Noel. “Se liga”! Deixe Noel recuperar-se da queda e dê menos trabalho para ele. Noel está magro e o seu saco, está vazio.
Aliás, Noel está tão magro que não está com forças, sequer, para carregar o saco vazio… E tem gente com “saco” para enfrentar filas e encher a gaveta de carnês, o cartão de crédito de prestações, a casa de coisas de que não precisa…
Neste Ano, vamos ter um Natal mais magro. Poucos presentes, talvez uma ceia mais simples! Mas não será pela falta de dinheiro que esse Natal, necessariamente, será menos alegre, menos solidário, menos pacífico, ou com menos Amor ao próximo.
Afinal, Alegria, Solidariedade, Paz e Amor não custam dinheiro! São sentimentos que fluem gratuitamente de nossos corações, desde que estejamos verdadeiramente conscientes do real significado do Natal!
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNEC TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.