Amanhece ………
Levanto agitada pensando no meu plano do dia.
Plano sonhado e planejado a três, com todo entusiasmo familiar.
Três irmãs Margareth Nazaré Campos, residente em Divinópolis; Mafalda Campos Assis, residente em Serra/ES; e eu, residente em Teófilo Otoni, que pela estrada afora seguem bem contentes; como se fossem o Chapeuzinho Vermelho, em contagem regressiva.
Assim começa nossa volta ao passado.
Cada uma de nós morando em cidades diferentes, depois de quase cinquenta anos; em busca de sua história.
A viagem não me pareceu normal, enquanto o carro corria, eu me sentia como uma borboleta voando a cada flor, incapaz de prever o próximo minuto.
Foi tão depressa que comparei o passado a uma colcha de retalhos; que dobrada, bem guardada, nos parece distante, muito embora esteja no mesmo lugar; nosso passado também estava tão perto e tão longe……
Ali sentada na rodoviária; esperando minhas irmãs, acontece o meu reencontro emocionado.
Minha comadre e minha afilhada chegam me reconhecem e nos abraçamos felizes.
Quase naquele momento também chegam minhas irmãs, e tudo vira sorrisos.
Depois desse momento jamais seremos as mesmas.
No rosto de cada um vemos o ontem no hoje; as palavras saem de todas nós como uma avalanche, como disse Roberto Carlos: “São tantas emoções!”….
A noite chega e nos dividimos; eu fico com minha comadre, elas vão pra casa da prima.
A partir desse momento, contamos casos, lembramos nossas histórias, mostramos fotos.
Muitas emoções nos envolvem, e arrancam sorrisos e lágrimas.
Minha afilhada, Maria Aparecida dos Reis Damasceno – Cidinha, agora, uma grande mulher, uma capacitada e forte empresária, dentro dos olhos aquele mesmo brilho da pequena-querida afilhada do passado.
Sentada naquela mesa, daquela casa tão minha também, ouço bater forte o coração e me parece ouvir ao longe os versos musicais: “Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim”…..
Ele, o meu primo Arlindo Vaz da Silva, partiu há pouco tempo deixando um grade vazio. Não posso demonstrar a dor, minha prima Therezinha Vaz dos Reis está se curando.
No dia seguinte, vamos reconhecer nossa cidade, aqui e ali. O coração bate forte a cada passo, e canta uma música ao contrário: “Ô..ô, ô ô ô, tudo mudou”!….
Reconheço apenas quando meus passos se aproximam da praça e vejo as primeiras palmeiras.
Ali está a Cidade das Palmeiras. Elas nos levam até a Catedral de São João Batista. Meu coração canta: “A mesma praça, as mesmas flores, o mesmo jardim”….. Eu entro na Catedral e agradeço, agradeço tanto… tanto….tanto, poder viver esse momento ao lado de quem tanto amo. Lágrimas correm, em busca de tudo que aqui deixei.
Hoje de volta pra casa, acordei pensando em tudo isso. Pensando em como nos mantivemos distantes, embora nos amemos tanto, e moramos tão perto. Parece que encontrei a resposta, olhando uma foto.
A foto do meu casamento, onde duas crianças brincam, elas: minha irmã e minha afilhada. Aquele momento personagens, tiveram agora o papel de atores principais programando e executando esse grande reencontro de família. Com certeza; Deus delegou a elas essa missão.
Todos juntos num abraço feliz na casa de uns, na casa de outros, crianças e adultos em comemoração à vida, que é bonita é bonita e é bonita……
Sinto agora bem no fundo da alma, os versos de St. Thomas Moru:
“Dai-me, Senhor, uma alma simples, que saiba aproveitar tudo o que é bom e que não se assuste quando o mal chegar, e sim que encontre a maneira de colocar as coisas no lugar”.
Para começar o Novo Ano, com o cheiro de frutas da casa da prima e flores da minha casa, (do jeito como se postam nossos arranjos). Faremos então nossa árvore genealógica, plantada no solo onde jorra o adubo da felicidade.
Com o coração cheio de amor: “Família… Família …. eu te amo! Minha querida cidade, eu te amo!”
“Feliz Ano Novo!”…
Marlene Campos Vieira
Caratinguense, escritora dedicada à literatura infantil, pedagoga pós-graduada em Administração, membro titular da Academia de Letras de Teófilo Otoni, ocupante da Cadeira 29, tendo como patrono João Salomé de Queiroga.
Um comentário
Pamela Bruna Vaz dos Reis
Não sei se pode ser, mas acredito que você seja da mesma família que meu avô que se chamava Arlindo Vaz dos Reis Filho, que também tinha uma irmã chamada Therezinha Vaz dos Reis, meu avô morou em lorena, me emocionei lendo esse reencontro