Eugênio Maria Gomes
Os últimos dias do mês de outubro me propiciaram a oportunidade de perceber as esquisitices das pessoas. Sim, às vezes fazemos ou falamos coisas que achamos absolutamente normais, mas para outros parecem esquisitas.
Na TV, vejo o programa do Luciano Huck. Depois de ler a carta de uma fã do cantor Luan Santana ele deu início à concretização do desejo da moça, expresso na missiva que lhe foi dirigida: pedir o noivo – com o qual já vive maritalmente há dez anos – em casamento. Mas ela, porém, não queria um pedido simples não. Seu desejo foi o de se vestir com a roupa usada pelos profissionais que trabalham com solda e entrar na empresa na qual o cara metade trabalhava, como soldador, para lhe fazer o pedido durante as suas atividades, na frente de todos os outros funcionários.
Sinceramente, não sei o que achei mais esquisito nessa história, se o gosto musical dela, principalmente para o momento; se o fato de ela achar realmente necessário um pedido formal de casamento, mesmo já tendo um filho com o “marido” ou se a vestimenta desejada por ela, em um quentíssimo dia de verão. Mas, a esquisitice mesmo ficou por conta da cena: o cara trabalhando, suado debaixo do uniforme de manga de raspa de couro necessário para protegê-lo de queimaduras, usando máscara de proteção no rosto, ser pedido em casamento por alguém vestido como ele.
Muitas esquisitices também aconteceram neste período em que ficamos submetidos ao necessário racionamento de água em nossa cidade. A primeira delas aconteceu comigo, exatamente no primeiro dia da nova escala de racionamento, quando o “Morro Caratinga” entrou no primeiro rol de comunidades que receberiam água. A informação era a de que receberíamos água durante dois dias e, depois, passaríamos cinco dias sem recebê-la. De nada serviria receber água dois dias seguidos e passar cinco sem receber uma gota sequer. Era preciso armazenar água…
Decidido, liguei para os fornecedores de caixa d’água, com a intenção de colocar na área uma caixa com capacidade de cinco mil litros de água. Por sorte, o vendedor me falou a medida do recipiente, ficando claro que ele ocuparia toda a área externa, localizada nos fundos da minha residência. Fui reduzindo o tamanho e cheguei à conclusão de que uma caixa com capacidade para dois mil litros de água seria o ideal para o momento, mesmo sem saber o que faria com o trambolho ao final do racionamento. Com a medida na mão percebi que a tal caixa não passaria pela porta da área de serviços, a menos que uma parede fosse quebrada. Sentei, tomei um café e fiquei matutando como é que eu conseguiria armazenar água…
A esquisitice maior desse momento ficou por conta da minha neta, Maria Eugenia: “vovô, tá muito calor. Monta a piscina pra eu nadar”. Ah, a piscina… Maria Eugênia tinha uma piscina. Estava guardada esperando o verão, mas naquele momento seria um absurdo colocar três mil litros de água à disposição daquele “peixinho”… Mas, poderia sim servir para armazenar água. Falei com Alfredo e Morena e decidimos que montaríamos o equipamento na primeira noite do recebimento de água…
Pegamos a caixa com a lona, o saco com as peças da armação e, antes mesmo que abrisse os pacotes, meu genro falou: “se o senhor montar esta piscina na área descoberta os vizinhos vão tirar fotos e postar nas redes sociais, dizendo que o senhor está gastando água com piscina em plena crise hídrica na cidade”. Ele estava certo, porque uma das esquisitices que inventamos nesse período foi a de denunciar tudo e todos, sem qualquer preocupação em saber o porquê das pessoas tomarem determinadas atitudes. Assim, a esquisitice tomou forma através de uma piscina armada na minha varanda, longe dos olhares alheios, ocupando toda a passagem, mas necessária para garantir o fornecimento de água nos dias subsequentes.
Muitas outras esquisitices aconteceram neste período, mas certamente a que mais chamou a atenção foi a das escadarias do Palácio Episcopal sendo lavadas. Nas redes sociais, as pessoas não perdoaram. Tão esquisito quanto a cena daquelas mulheres usando mangueiras para a limpeza das escadarias foi alguns acharem que foi o bispo quem as mandou tomar tal atitude. É claro que ele nem ficou sabendo do fato. Se o mau uso da água acontece nas nossas casas, pelas secretárias do lar, sem que tomemos conhecimento, o que leva as pessoas a acharem que o bispo seria o grande culpado pela ocorrência? Aliás, a própria Igreja Católica chegou a ser acusada de não dar o exemplo. É claro que, naquele episódio, ocorreu apenas uma atitude impensada de algumas funcionárias da casa, as quais certamente foram reorientadas sobre a necessária economia da água.
Aliás, outra esquisitice em relação ao racionamento de água foi a exclamação de um conhecido ao ver a minha piscina cheia: “Nossa, você montou uma piscina? É muita água! Lá em casa eu usei galões de duzentos e cinquenta litros, daqueles utilizados para armazenar azeitonas”. Questionado sobre quantos galões havia utilizado, ele me disse que havia adquirido quinze unidades…
Bom, não sei o que é mais esquisito, se três mil litros de água em uma piscina na varanda ou se os mesmos três mil litros de água em quinze galões espalhados pela casa. Principalmente agora, que o racionamento no fornecimento de água acabou!
- Eugênio Maria Gomes é professor e pró-reitor de Administração da UNEC – Centro Universitário de Caratinga, membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni e Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.