*Franklin dos Santos Moura
Um alvoroço tomou conta das discussões, debates, brigas, rompimento de relacionamentos quando, no quase esquecido 2018, o tema abordado era política. Eleições concluídas, pouco mais de 45 dias separavam o momento eleitoral das festas natalinas e certamente as comemorações de boas-vindas ao enigmático e esperançoso 2019.
Enigmático, porque o Brasil está atravessando um momento cíclico de renovação e não se sabe quão exitosas serão tais renovações. Por não se saber, o carismático povo brasileiro se lança à esperança.
Talvez aqui repouse um dos principais problemas que acabam sendo a razão para procrastinar as ações e repousarmos numa constante renovação de esperança: a inércia!
A procrastinação e a inércia andam de mãos dadas e juntos formam uma arrasadora combinação que faz brotar e brotar a ansiedade, a frustração, a depressão e todas as chances são terceirizadas na esperança, esquecendo-se que entre você e a esperança existe uma palavra essencial: ATITUDE.
Dietas começam na segunda-feira, busca de emprego aguarda passar o carnaval. Séries de TV preenchem o tempo noturno, enquanto o diurno é geralmente interrompido com as diversas formas de relacionamento digital. Assim o tempo passa, e o que deveria ser feito, entra na agenda do dia seguinte…
A ficha ainda não caiu que o tempo é um recurso não renovável e por isso deve ser empregado de forma habilidosa, racional e sustentável. No entanto, falar especificamente de gestão de tempo ficará depositada à uma próxima oportunidade, permitindo assim aprofundar esse tema.
Ora, voltando à inércia, há uma conflituosa contradição. Nos dias atuais, como nunca na história, o acesso a informações, dados, é vultoso. Assim, supostamente, se sabe mais sobre qualquer coisa que se deseje, pois num click, o Dr. Google irá responder ou encaminhar à Wikipédia.
Ocorre, no entanto o contrário! Com tanta informação, com tanta forma de interação e comunicação, a distração predomina e uma respeitável zona de conforto surge ao ponto de nos tornarmos medíocres opinólogos quando é necessário fazer uma crítica sobre algo já pronto. Opiniões sem atitude, sem comprometimento, só opinião, nada concreto, somente inércia.
No entanto, depositamos esperança num amanhã melhor, terceirizando que essa realização virá por uma ação Divina e/ou alguém que possa fazer algo por nós. Não irei aqui me atrever a falar de política, mas sim avançar um pouco mais, saindo dos gabinetes e chegando ao exemplo mais simples de esperarmos que nosso vizinho possa economizar água, permitindo assim que não precisemos deixar nossa zona de conforto com banhos demorados e lavagem do carro, pets, etc.
Essa é a inércia que sufoca a esperança de qualquer povo. Esperamos que alguém tome a dianteira de fazer algo que nós também poderíamos fazer. Da mesma forma, outros esperam que façamos e assim num compasso de todos esperarem que alguém faça algo que muitos poderiam fazer…..nada é feito.
Erroneamente alguns acreditam que a solução coletiva virá de ações coletivas. Se a menor célula social, que é o homem, não iniciar a prática de atitudes para promover a mudança, dificilmente ações coletivas serão concretizadas. É necessário superar a zona de conforto, vencer o egoísmo ou individualismo e deixar de terceirizar as necessidades, o que é exemplificado a seguir.
Escola não foi concebida para educar, pois isso deve ocorrer em casa. Na escola se constrói uma relação de aprendizagem, civismo e socialização do indivíduo.
Exige-se tanto do sistema de saúde público, mas pouco se faz no nível individual de forma preventiva para cuidar da saúde. É necessário ter hábitos saudáveis e essa atitude inicia em você. Do contrário, se cada indivíduo for acometido de uma enfermidade, o colapso da infraestrutura será inevitável.
Exige-se tanto do sistema de segurança, mas como cada um de nós educamos nossos filhos? Será que os preparamos para cumprir as leis? O que é feito de concreto para frear a crescente insegurança que assola as ruas? Devemos ter mais policiais nas ruas ou devemos ter uma sociedade melhor, mais consciente e livre das diversas ilicitudes?
Esses exemplos de exigências aos serviços do Estado poderiam estender-se e quase sempre se confrontariam com alguma atitude que poderia ser preventiva. O fato é que se deposita uma esperança num sistema de educação melhor, num sistema de saúde melhor, num sistema de segurança melhor…mas falta a consciência de que essa melhoria também depende de nós.
Por isso, a mensagem que deve ressoar e provocar reflexões é “Esperança com inércia será certamente uma batalha perdida”.
Se quer um Brasil melhor, comece por você, pois nós somos esse Brasil.
FRANKLIN DOS SANTOS MOURA é Contador, Filósofo, Professor Universitário e Poeta, Membro Correspondente da AMLM, Membro da Academia de Letras do Grande Oriente do Brasil-ES e Membro da ALVV – Academia de Letras de Vila Velha-ES