INVESTIGAÇÃO POLICIAL
Polícia Civil descarta fator climático e caminha para falha humana
DA REDAÇÃO – Na manhã dessa sexta-feira (4), o delegado regional de Caratinga, Ivan Lopes Sales, esteve em Belo Horizonte para uma coletiva com a imprensa sobre as investigações sobre a queda do avião de Marília Mendonça.
O inquérito que investiga a queda do avião que matou a cantora e outras quatro pessoas só deve ser concluído após divulgação de relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa). “Essa é uma investigação que perpassa por dois órgãos distintos, a Polícia Civil e o Cenipa. As investigações tem objetos distintos. O que compete a Polícia Civil é apurar eventual reponsabilidade criminal, se é que teremos alguma reponsabilidade criminal ao final desse caso. Ao passo que o Cenipa, o objetivo dele é a prevenção de acidente, vai mostrar porque ocorreu esse acidente para que outros sejam evitados. E essas investigações acabam se complementando em laudos periciais. Eles solicitaram os laudos de necropsia, que compete à Polícia Civil fazer, assim como nós vamos solicitar a eles na forma legal, os laudos da aeronave, dos motores”, explicou Ivan Sales.
Durante a entrevista, o delegado deixou claro que o fator climático foi descartado e que tudo caminha para uma falha humana.
INVESTIGAÇÃO
Segundo o delegado, a investigação está sendo conduzida analisando três fatores: meio, humano e máquina. “Quando a gente pega a análise ‘meio’ o aeródromo de Caratinga só faz voo visual, não tem uma torre de controle que orienta os pilotos, sobre como deve fazer a rampa de descida, a aproximação. Quem faz isso é o próprio piloto, há um frequência de rádio que os pilotos comunicam entre si, e eles mesmo são os responsáveis por fazer ali a rampa de descida, eles são senhores de fato da aeronave. O que já a gente já pode afirmar mediante elementos informativos do inquérito de ordem subjetiva, e a gente fez oitiva de pilotos, é que no dia dos fatos, as condições meteorológicas eram favoráveis ao voo visual. Então a gente já consegue descartar qualquer tipo de problema que impediu que o piloto tivesse obstruído a sua visão e por isso não viu a rede de transmissão”.
Para o delegado não há dúvida que a aeronave se chocou na rede de transmissão da Cemig, e aí muito se questiona porque ela não estava sinalizada. A Polícia Civil tem o dever se havia faculdade de ter a sinalização, ou se havia a obrigatoriedade.
FATOR “MEIO” DESCARTADO
Ivan Sales afirmou que não havia obrigatoriedade daquela rede estar sinalizada. “O aeródromo de Caratinga tem a zona de proteção. Nessa zona de proteção há um documento emitido pelo Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), que faz o controle do espaço aéreo, chamado Notam. Esse documento consta qualquer tipo de obstáculo que estiver dentro da zona de proteção do aeródromo. Dentro daquela circunferência de três quilômetros todo obstáculo que tiver estará no Notam. Compete ao piloto consultar esse Notam. Essas torres não estão no Notam, o que se tem é no sentido de que no lado leste do aeroporto não é possível fazer a aproximação, porque tem um morro. Então em Caratinga, obrigatoriamente os pilotos devem fazer a aproximação pelo setor oeste. As torres não estavam no Notam porque estavam além da zona de proteção. As torres estão a 4,6 mil metros da cabeceira da pista, só por esse motivo já não havia necessidade de sinalização. Também não havia em decorrência da altura dessas torres, por terem entre 35 a 36 metros de altura do solo. São torres relativamente baixas que não exigiam a sinalização. Então é mais um fator meio que a gente descarta”.
FATOR HUMANO
A Polícia Civil tem depoimentos relevantes de dois pilotos, um que havia decolado de Viçosa e iria pousar em Caratinga e outro que estava no aeródromo. “Como o voo é visual e eles conversam entre si, esse piloto ouviu o que se acidentou reportando que ele já estava na “perna do vento da 02”, ele fez a aproximação pelo setor correto, o setor oeste, iria pegar a perna do vento, ele voa a favor do vento, para fazer uma curva à esquerda, que chama perna base, para então entrar na reta final e pousar. O piloto que decolou de Viçosa fala que escutou pelo rádio que o piloto que se acidentou já estava na “perna do vento 02”, estima-se que em um minuto a um minuto e meio ele já deveria ter pousado. E como esse piloto de Viçosa entendeu que a aeronave dele era menos potente que a do piloto que se acidentou, ele não se preocupou muito, pois sabia que o outro pousaria primeiro”, disse o delegado Ivan Sales.
E aí vem um segundo depoimento relevante de um piloto muito experiente que estava no aeroporto. “Quando ele viu o avião fazendo o controle de tráfego, ele foi para a cabeceira da pista para assistir o pouso, e aí ele percebeu que a aeronave se afastou muito do que o padrão de Caratinga recomenda. O piloto se afastou e ele perdeu o controle visual com a aeronave. Passado um tempo ele vê a aeronave se alinhando na pista para fazer o pouso, e aí ele não conseguiu enxergar os fios, então a aeronave se choca e cai. É um depoimento muito importante para a Polícia Civil, porque a gente sabe que até um minuto e meio não havia qualquer problema com a aeronave, e que o piloto acabou saindo do padrão de pouso em Caratinga. Quando ele sai dessa zona de proteção, qualquer obstáculo não estará no Notam, é por conta e risco dele, é o visual dele que vai orientá-lo”.
Ainda nesse fator humano, a Polícia Civil produziu elementos de ordem objetiva relevantes para descartar que o piloto teve qualquer mal súbito, que estava sob efeito de algum medicamento ou droga, tudo isso foi descartado.
MÁQUINA
A Polícia Civil precisa entender porque o piloto voava tão baixo naquele local, é o que segundo o delegado Ivan, falta para concluir as investigações.” A Polícia Civil com muita responsabilidade, quer apresentar a solução do caso de forma mais célere possível, então por precaução a gente entende que precisa descartar esse fator máquina, que o motor por algum motivo apresentou algum problema que fizesse com que o piloto voasse tão baixo, que ele chocou na linha de transmissão, e esse laudo vem por parte do Cenipa. Se descartar qualquer falha nos motores, a gente consegue caminhar para conclusão de uma falha humana”, finalizou o delegado.