Anderson Elias fala sobre a qualidade do café produzido na região de Caratinga
Anderson Elias provando café
CARATINGA – O que faz um café ser especial? Geralmente essas nomenclaturas costumam gerar alguma dúvida no consumidor. Os termos café tradicional, superior, especial, entre outros, são usados principalmente para definir o nível de qualidade de cada grão e, assim, estabelecer um valor de compra e venda.
De acordo com a Metodologia de Avaliação Sensorial da SCA (Specialty Coffee Association), usada no mundo todo, café especial é todo aquele que atinge, no mínimo, 80 pontos na escala de pontuação da metodologia (que vai até 100), sendo avaliados os seguintes atributos: Fragrância/aroma, uniformidade (cada xícara representa estatisticamente 20% do lote avaliado), ausência de defeitos, doçura, sabor, acidez, corpo, finalização e harmonia.
Quem tem a função de definir se é ou não um café especial é o classificador, profissional que dentro de suas funções técnicas especializadas, é capaz de, por meio dos sentidos audição, visão, tato, olfato e gosto, de determinar a classificação da matéria prima e a qualidade da bebida do café que está sendo colocado no mercado para uso do consumidor. E na região de Caratinga um dos mais conceituados classificadores é Anderson Elias.
Ele foi entrevistado para essa edição especial e apontou os pontos positivos do café produzido na região. Ele também aponta o que deve ser melhorado, sobretudo na questão do marketing, fazer o produto ser conhecido. Para Anderson Elias, ‘cafés especiais são feitos por pessoas especiais para pessoas especiais”. Ele fala sobre essa chance de explicar sobre o seu trabalho. “Quero agradecer a vocês por essa oportunidade. Meu muito obrigado ao Diário de Caratinga”.
O senhor faz análise de café. Como surgiu esse interesse e como foi sua especialização?
Faço análises física e sensorial. O interesse surgiu através de um amigo, que me convidou para fazer o curso de classificação e degustação de café. Esse curso foi ministrado pelo sistema Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) e Senar (Serviço de Aprendizagem Rural). Quem coordenou o curso foi o Carlindo. Dei segmento e fiz vários cursos depois via essas instituições. Fiz especialização
Os produtores lhe procuram muito para consultoria?
Sim, o produtor hoje está em busca de melhoria para o café.
Quais tipos de café são produzidos em Caratinga e em linhas gerais, qual a qualidade desses produtos?
A espécie que produzimos é café arábica, onde temos algumas variedades: catuaí, catucaí, bourbon, rubi, catiguá, arara, novo mundo e outros. Essas são as variedades que predominam em nossa região.
O que mais chama mais atenção na cafeicultura de Caratinga, a qualidade ou a quantidade?
A quantidade onde o commodity movimenta o mercado de nossa região. Como classificador vejo muitos cafés especiais indo no meio do commodity e perdemos a referência de qualidade dos nossos cafés. Existe um ditado que já diz: “quem não é visto, não é lembrado”.
Como está o cultivo e a produção de cafés especiais em Caratinga?
Alguns produtores e viveiristas estão em busca de variedades e cultivando mudas genéticas de boa procedência. Sobre a produção, percebo que toda propriedade tem seu café especial, porém por falta de conhecimento de pós-colheita, tem o seu café sem qualidade exigida para o especial pela SCA, que é uma tabela de classificação. Vejo que podemos melhorar muito os nossos cafés.
Percebemos que cafés produzidos na região de Manhuaçu sempre são premiados em concursos de nível nacional e o mesmo não ocorre com os produzidos aqui. O que falta para que o café de Caratinga também conquiste prêmios?
A região de Caratinga está desperdiçando em não fazer parte desse novo movimento. No ano de 2020 houve destaque para uma produtora em um concurso da Emater, ficando entre os 20 melhores cafés do estado de Minas Gerais. No caso foi a produtora Gabriela (Café Domini). Precisamos mandar mais amostras dos cafés para os concursos que temos no Brasil quando o assunto é café especial. Temos que despertar esse interesse nesses produtores da nossa região e incentivá-los.
Qual a avaliação que o café produzido aqui tem no Brasil e no exterior?
Estados Unidos é o maior consumidor de café no mundo, porém nas cafeterias de lá vemos que tem destaque o café da Colômbia e outros países, mas sempre tem um blend nas prateleiras de lá e não tem o nome, mas esse é café brasileiro, mas sem ser identificado. Precisamos fazer mais marketing no nosso café nas feiras mundiais para assim o nosso café ter destaque fora do Brasil.
O produtor costuma ser mais convencional, mas existem novas técnicas de manejo e preparo do solo para cultivo do café?
Antes de cultivar a planta é necessário fazer uma análise de solo. Isso é algo que tem que ser feito todo o ano. Isso é muito importante para a planta.
O maquinário ajuda na qualidade do café?
O pós-colheita bem feito exige maquinário. Isso serve para termos um café de alta qualidade. Tendo o maquinário, o resultado será satisfatório na qualidade do produto.
Quais os cuidados necessários para a colheita?
Ter mão de obra especializada, usar utensílios corretos para o transporte, saber como será a secagem dos cafés do início até o fim.
Em suma, o que faz um café ser bom?
Café especial tem segredo para ser bom, ou seja, ser feito por pessoas especiais para pessoas especiais. Genética controlada da planta, planta alimentada e cuidada o ano inteiro, colheita seletiva, pós-colheita bem feita, um beneficiamento de qualidade e uma boa torra desse café. São esses fatores que fazem um café ser bom.