‘Juca Cabeleira’, o menino que não gostava de cortar cabelo, protagoniza a trilogia de João André Grossi
DA REDAÇÃO – “Juca Cabeleira” é a nova aventura de João André Grossi, conhecido no Vale do Aço por seu filme “Passagem”, que ganhou as telonas da região e conquistou outros países como Portugal e França, além do prêmio de melhor fotografia no festival Cine Curtas Lapa, no Rio de Janeiro, em 2013. Agora, João segue pelos caminhos da literatura infantil, tendo lançado nos dias 05 e 06 de novembro a trilogia Juca Cabeleira, história de um menino que não gosta de cortar o cabelo. Apaixonado pelo espaço, o garoto aprende a voar com o vento, fica amigo das estrelas e ensina os outros meninos da rua a voar.
João André Grossi nasceu em Governador Valadares, mas foi registrado e passou parte de sua vida em Dom Cavati. Ele tem forte vínculo com Caratinga, cidade onde foi criada sua mãe, Marli Fernandes Grossi Pereira e São Domingos das Dores, de onde veio seu pai, José Pereira Sobrinho, mais conhecido na região como ‘Zeca da Baratex’. O escritor também é sobrinho-neto de Dário Grossi, histórico empresário de Caratinga e que foi prefeito entre 1993 e 1996.
Mais informações na página www.facebook.com/jucacabeleira
João, como e quando surgiu a ideia de escrever os livros infantis?
Ainda na época da circulação do ‘Passagem’ pelos festivais de cinema, em julho de 2013, tive a oportunidade de participar da 12ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, onde meu filme foi visto por mais de 300 crianças de escolas públicas da capital catarinense. Nessa época, eu já tinha escrito o poema que iria compor o primeiro livro da série Juca Cabeleira. Eu ainda não sabia que seria uma série e nem se seria publicado. Nos dois dias em que estive no festival, fiquei muito impressionado com o quanto as crianças se divertiam dentro do cinema e também fora da sala de exibições, com filmes, músicas e livros feitos para eles. Isso me fez voltar com um gás para tocar esse projeto e fazer desses livros uma realidade.
Infelizmente, no nosso país, os produtos infantis, seja no cinema, na música ou na literatura, são escassos e, na maioria das vezes, muito caros, dificultando o acesso de muitas crianças a esses materiais. Portanto, publicar os três livros da série Juca Cabeleira com o patrocínio da Prefeitura Municipal de Ipatinga, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, com tiragem de 1000 livros para cada volume, totalizando 3000 livros com distribuição gratuita, para mim foi um grande privilégio. Espero que o Juca Cabeleira possa ajudar as crianças a ter um espaço maior para a literatura na sua vida.
Você se inspirou em quem para criar o Juca Cabeleira?
A personagem Juca Cabeleira é inspirada na cabeleira de minha afilhada, Lara, a quem dedico o primeiro livro da série. A Lara gosta muito de livros. Toda vez que chego à casa dela, ela busca todos os livrinhos para eu ver e ler para ela. Isso reforçou a vontade de tornar esses livros uma realidade e buscar uma forma de viabilizá-los. Além dos meus sobrinhos e sobrinhas que hoje já estão maiores do que eu, mas que são eternas crianças pra mim.
Como foi o processo de produção dos livros?
Primeiramente escrevi os poemas, o que me é muito agradável, principalmente escrever para o público infantil. A imaginação das crianças é terreno fértil, não tem limites. Para elas, é possível contar a estória de um menininho que voa e transportá-las para esse universo. O segundo passo foi montar a equipe e escrever o projeto para a Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Ipatinga. Após a aprovação do projeto, sob minha supervisão e da Valéria Mendes, minha produtora, passamos para as fases da ilustração e diagramação dos livros, realizadas respectivamente pelo desenhista Bruno Grossi e pelo designer Marcos Rodrigues. Foi esse trabalho em equipe que deu vida ao Juca Cabeleira, com toda a qualidade pela qual primamos e que é evidente nos livros.
Por quanto tempo você se dedicou à trilogia?
Como eu disse, em julho de 2013 o primeiro poema já estava escrito, portanto, há mais ou menos um ano e quatro meses, estou trabalhando nesse projeto, mais intensamente neste ano, graças ao patrocínio da Prefeitura Municipal de Ipatinga.
Depois de tanto sucesso de ‘Passagem’, você pensa em levar Juca Cabeleira para a telona também?
Quando ainda em Florianópolis, contei a estória do Juca Cabeleira para a diretora da Mostra de Cinema Infantil, Luiza Lins, ela ficou apaixonada, disse que isso tinha de virar filme de todo jeito. Desde então venho pensando fortemente nessa possibilidade. Mas ainda é um projeto futuro.
Quanto às ilustrações do Juca Cabeleira, como chegou ao ilustrador?
O Bruno é de Belo Horizonte e também é Grossi, mas não temos certeza sobre o grau de parentesco. Na verdade nunca conversamos sobre o assunto, a gente não se conhecia antes de trabalharmos juntos nesse projeto. Eu já conhecia o trabalho dele, como ilustrador de vários livros da série Giro-Lê, do Clesi (Clube de Escritores de Ipatinga). Sendo assim, acabei convidando-o para essa parceria, mais por eu gostar do seu trabalho do que por qualquer eventual grau de parentesco, se é que existe algum. O problema agora é ter de responder sempre à mesma pergunta: “vocês são parentes?” (risos).
Como foi chegar à expressão do Juca no desenho?
Essa parte foi ótima. Para mim foi muito divertido, já para o Bruno eu não sei (risos). O Bruno enviou vários desenhos, várias propostas de Juca Cabeleira, e eu devolvi esses desenhos várias vezes, e as considerações sobre cada criação. Confesso que sou muito detalhista, o que às vezes pode ser muito chato. Até que um dia ele me enviou o desenho do Juca Cabeleira como ele é hoje. Aí fiquei muito feliz, e o Bruno pôde respirar aliviado (risos). Enfim, nascia o Juca Cabeleira.
Quanto à sua relação com a literatura, como começou? Quem motivava você a seguir o caminho das letras?
Muita gente no Brasil fala que não gosta de ler, mas o que muita gente também não enxerga é que o espaço que você tem para a literatura na sua vida adulta é diretamente proporcional ao espaço e à importância que isso teve na sua infância.
Felizmente, na minha infância a literatura foi importante e ajudou na minha formação como cidadão e também como contador de estórias, seja no cinema ou na literatura. Meus pais costumavam me presentear com livros e discos infantis. Eu me lembro de uns LPs da série Carrossel, os discos eram amarelos e azuis, diferente dos que nossos pais escutavam, e eles contavam estórias fantasiosas, que podiam ser acompanhadas no encarte do disco. Tinha um disco do Macaco Malaquias que eu ouvia e lia sem parar. Meus irmãos ficavam loucos, por que as musicas eram repetitivas, mas a minha mãe não os deixava desligar o toca discos (risos). Ainda tenho todos os meus livros e LPs dessa época lá em casa e quero passá-los para os meus filhos.
Minha motivação com a literatura sempre foi tão grande, que eu quis aprender inglês só para conseguir ler um livro do Peter Pan que minha mãe me deu no idioma original do autor quando eu tinha uns 10 anos de idade. É claro que o inglês acabou servindo para muitas outras coisas e me abriu muitas portas, mas a primeira delas foi a de entrada para a literatura na minha vida.
Quais são os seus autores de referência? Está lendo algum livro no momento?
Na infância eu li muitos livros do Monteiro Lobato, tanto que acabei inserindo o livro ‘Memórias de Emília’ na história de Zeca e Mariana no meu primeiro filme, o ‘Passagem’. Carinhosamente, a personagem Zeca chamava a sua amiga Mariana de “Minha Emília”.
Atualmente, tenho me interessado muito pelos romances e contos de escritores africanos de Língua Portuguesa, como o angolano José Eduardo Agualusa e o moçambicano Mia Couto. Tenho preferência pelos contos, que estão para os romances, assim como os curtas-metragens para os filmes de longa duração.
No momento estou lendo “O Testamento”, do escritor americano, John Grisham. Parte da estória se passa no Brasil, no Pantanal.