Entre várias definições que procurei para a saudade, cheguei à conclusão de que seria ela aquilo que nos tira a cor, a vida, a graça, quem sabe até o amor…
— “Projeto de Capitu! Não quer levar meu guarda-chuva? Vai se molhar na chuva. ” gritava Fernando do segundo andar do prédio, chamando-me pelo meu apelido cômico e poético, atribuído carinhosamente pelo fato de ser tal figura minha personagem literária preferida.
— “Obrigada, mas não precisa. Mais fácil eu molhar a chuva com minhas lágrimas do que ela me molhar”. Respondi com um sorriso e uma risada sem graça.
— “OK, mas então corra, porque não tarda a chover e tome cuidado na rua, nada de pensar em histórias de contos para escrever enquanto anda. Ande olhando para frente”.
Despedi com um sorriso e segui para a faculdade a passos firmes debaixo dos chuviscos que ameaçavam cair. Fernando ficou a me olhar do segundo andar do prédio do cursinho. Havia preocupação em sua última fala. Saberia ele que era uma fase difícil para mim? A profissão de professor no cursinho pré-vestibular criou entre nós uma cumplicidade imensa, fazendo com que ele se tornasse meu psicólogo particular, escutando meus prantos e mágoas, minhas recitações de poemas e contos que eu escrevia sempre ao pensar no suposto Dom Casmurro que havia em minha vida.
Tão certeiras como o amanhecer, as falas de Fernando se cumpriram. Em menos de três minutos começou a chover. E eu, ainda no início do caminho, segui tendo a chuva de companhia por todo o trajeto. Ela ficava cada vez mais forte, então pus-me a andar mais depressa ainda. Eu estava com uma caixa nas mãos, recheada com um romance que havia escrito. Era um presente para meu “Dom Casmurro”, tratava de uma suposta história de amor. Ainda rascunhado, não seria mais que um livro, já que o “romance” se esvaíra quando paramos de conversar.
Meu infeliz amor se tornara platônico. Disse ele que não seria possível nos vermos devido a distância. Cortando as asas que me levavam ao céu de seu amor, fiquei eu perdida aqui no chão.
Com o romance guardado na caixa, eu me encontrei correndo na precipitação das águas celestes. Atravessei as ruas correndo. Uma… Duas… E na terceira, já no meio da faixa, um cantar de freios interrompe minha maratona, e, com um impacto, fui lançada ao chão.
De repente todos os sons sumiram, só restou aquela sinfonia clássica que ouvia para me lembrar de dele, de encontro ao chão, pude ver gota a gota, o líquido caindo do céu e do meu rosto e tornando-se uma chuva só. A caixa voara, subindo aos céus, e as folhas de meu romance iam uma a uma descendo ao chão.
E assim as águas da chuva, do céu e de meu rosto, molharam minha alma. Sendo um dia cinzento, lavaram o azul do céu e de meu coração, borrando as letras em caneta de cada folha.
E assim, a chuva lavou o corpo, a alma, a vida, o coração…, borrando as letras no papel espalhado na faixa de pedestres e apagou cada ponto e vírgula da nossa história. Como o romance que escrevi, a saudade que sentia por ti foi lavada pela chuva, sobrando comigo somente o amor, este não permiti que a chuva apagasse, estando ele guardado na parte mais protegida de meu ser, não permiti que a chuva o lavasse, prendendo-o dentro de mim ao fechar os olhos, para sempre.
ANDREZA EDUARDA ARAÚJO FREITAS
Aluna do 3º período do curso de Letras- Unec