Especialista em Políticas e Gestão de Saúde faz um panorama da morte de macacos na região e alerta para importância da rápida comunicação aos órgãos competentes
CARATINGA- Até o momento, foram notificados oficialmente 59 casos de epizootia em primatas na região. Esse levantamento é feito de acordo com as informações que chegam por meio dos moradores, até os serviços de saúde. O alerta para a febre amarela silvestre (FAS) vem dos macacos e são exatamente eles que estão na principal “rota” da doença. Vítimas da FAS e às vezes de pessoas desinformadas, que acham que a violência contra estes animais é a solução para evitar a doença.
Por isso o aviso está sendo reforçado pela Gerência Regional de Saúde de Coronel Fabriciano. Em coletiva de imprensa, o especialista em Políticas e Gestão de Saúde, Fabiano Martins, falou sobre os principais trabalhos que estão desenvolvidos na região para apuração da circulação do vírus e identificação de primatas, possivelmente, acometidos pela doença, com coleta de material para análise.
CADEIA DE TRANSMISSÃO
Inicialmente, o especialista esclareceu o papel do primata nesta cadeia de transmissão. “É fundamental que a população se conscientize da importância desse primata na vigilância da febre amarela. Primeiramente o vírus vem a acometer os primatas, então o macaco é tão vítima quanto o ser humano. É importante ressaltarmos também que quem violenta o primata de alguma forma está cometendo um crime e pode ter as sanções cabíveis”.
E ao contrário do que muitas pessoas imaginam; os primatas não transmitem a febre amarela silvestre. Os vetores são mosquitos com hábitos estritamente silvestres, sendo os gêneros Haemagogus ou Sabethes. “A fêmea desse mosquito, para se reproduzir precisa do sangue e ela vive nas copas das árvores. E esse primata é um arborícola, então ele vive também na copa das árvores. Esse sangue que ela vai buscar. Se esse animal começa a rastejar porque já está doente, vai se aproximar de cursos d’água, ficar mais próximo das pessoas e às vezes elas vão ter a impressão de que ele está mansinho, o comportamento dele está diferenciado, devido à sua doença”.
Mas, apesar dos macacos não trazerem nenhum risco de transmissão de febre amarela, é importante que as pessoas tenham precaução, como explicou Fabiano. “Os primatas também podem transmitir outras doenças, que não a febre amarela. Então no contato com eles, as pessoas devem ter as medidas de biossegurança adequadas. Lembrando que o macaco é apenas um hospedeiro. Dentro do ciclo da febre amarela vamos ter o mosquito que vai picar o macaco e transmitir esse vírus para ele. O homem na verdade é um hospedeiro acidental porque adentra a mata. Se ele não está imunizado ou protegido, está exposto. Não apenas esse fato, mas também das pessoas estarem construindo suas casas próximas às matas; a devastação ambiental que está acontecendo de forma desordenadas, tudo isso são fatores que podem contribuir para a circulação viral. Esse vírus é silvestre, então está na floresta”.
DIAGNÓSTICO
No caso de localização de macacos doentes ou mortos na região, o cidadão deve comunicar o mais rápido possível a unidade de saúde mais próxima de sua residência ou a Vigilância Epidemiológica local, que já está orientada a repassar para a equipe de epizootias, responsável por ir ao local da ocorrência realizar as averiguações necessárias. “A maior parte até hoje dos animais que nós encontramos são carcaças, que não tem viabilidade técnica para realização de exames. Recomendamos às pessoas e aos órgãos parceiros, a Polícia Ambiental, Florestal, que nos comunique tão logo fique sabendo dessa informação, de maneira imediata, no máximo dentro de 24 horas, para que possamos ter condições de fazer a coleta das vísceras desses animais, para fazer as análises”.
A partir do momento em que ocorre a notificação da epizootia, uma equipe vai até a localidade e realiza o georrefenciamento da área e o procedimento de necropsia desses animais. “Hoje nós temos o laboratório da Funed (Fundação Ezequiel Dias), que é a nossa referência e o Instituto Evandro Chagas, no Pará, que é especializado em identificação de mortes de primatas e isolamento viral. Esse trabalho tem por objetivo fechar o diagnóstico da circulação viral desse vírus da febre amarela, porque há os casos humanos, que se consegue fazer o isolamento através das técnicas e exames adequados; também é possível fazer isso no animal. Nosso objetivo é identificar esse vírus nos animais. Temos outra frente, que é a entomológica, que vai verificar a presença desse vírus nos artrópodes, os mosquitos que são transmissores”.
Martins ainda ressaltou que, ao contrário das pessoas, não é possível imunizar os primatas contra a doença. “A vacina é disponível para as pessoas. Os primatas são o termômetro. Antes de acontecer nos humanos, acontece nos primatas. Na nossa região, começamos a perceber esses fatos concomitantemente”.
Na região já foram encontrados mortos, além do bugio, popularmente chamado de ‘barbado’, as espécies Callithrix (sagui) e Callicebus Personatus (macaco sauá). Mas, nenhum deles apresentava sinais de maus tratos. “De muriqui não temos confirmação de epizootia, estamos em contato com a reserva para repassar as informações; fundamental para que possamos identificar esse cenário em todas as espécies que estão sendo acometidas. Todos que nós conseguimos identificar até então, não tinham lesão interna aparente. As lesões que identificamos internamente são causadas, provavelmente, pela doença. Mas, em termos de maus tratos, você vai verificar externamente e eles não tinham nenhuma lesão aparente”.