Elói Beneduzi
Meses atrás, noticiou-se que 85% dos alunos que utilizam o PROUNI seriam contra o bolsa escola, bolsa família ou similares. Passado o espanto inicial e revisando a experiência que tive na coordenação de um curso pré-Enem, onde cerca de 60 alunos se matricularam, metade no curso noturno de segunda a sexta feira (4 aulas diárias), e outra metade aos sábados e domingos à tarde (8 aulas diárias), observei que, metade dos participantes não concluiu o curso, embora os valores pagos fossem baixos, pois o curso não visava lucro, e os professores recebiam um valor quase simbólico.
Pude constatar que alguns, simplesmente não tinham os 50 ou 80 reais mensais cobrados, e por isso pararam de frequentar o curso. Outros, principalmente, os de fim de semana, não suportaram, trabalhar e estudar durante a semana, e mais o pré-Enem nos sábados e domingos, quando supostamente todo jovem tem o direito de um pouco de lazer e descanso.
A hipótese que me ocorre, é que a maioria da população não se dá conta de que recebe também algum tipo de bolsa, sem qualquer preconceito. O próprio PROUNI é uma das modalidades. O FIES, a escola pública gratuita, o bolsa táxi, que é a isenção do IPI na compra do veículo; a dedução no imposto de renda, para as classes médias, dos gastos com educação e saúde, o PROER, bolsa para a salvação dos banqueiros, bolsas moradia de mais de 7 salários mínimos, não seriam bolsas para os mais privilegiados? E dentre os 85% que recebem o PROUNI, raros são os que tiveram que valer-se do bolsa escola ou família. Com a intensa e classista propaganda contra cotas ou qualquer bolsa para os mais pobres, a grande maioria da população, a nova classe C fica impregnada com valores que nada tem a ver com sua situação real, mas com ilusão de um dia ter um lugar ao sol na Casa Grande.
Os 15% restantes que recebem o PROUNI, e que, conforme a pesquisa, são favoráveis ao bolsa escola e família, são talvez a minoria que foi direta ou indiretamente favorecida por ela, sua família, parentes, amigos ou vizinhos, ou por razões políticas ou ideológicas.
De qualquer modo, creio que seria justo e democrático, que o estado, principalmente agora que Minas Gerais terá um governo do PT, propiciasse cursos pré-Enem gratuitos, para os jovens mais pobres, que justamente pelas suas condições de vida e de dificuldades de boa formação escolar, necessitam de mais um apoio para chegar à Universidade ou mesmo ter acesso aos cursos tipo PRONATEC.
Por último, com a regulamentação da mídia, que houvesse mais programas na TV aberta de conteúdo educativo e cultural, em horários acessíveis e nobres, e se incentivasse o estudo, com olimpíadas de matemática, português, física etc. e não ficássemos restritos aos degradantes programas tipo Big Brother, lutas livres, Tudo por dinheiro, Faustão, Huck, novelas imbecilizantes ou mesmo partidas de futebol de todos os países do mundo, que imobilizam e degradam física e mentalmente os espectadores, eternamente plateia e nunca protagonistas de sua própria história.
Caratinga dezembro de 2014.