Endocrinologista alerta sobre importância do diagnóstico e tratamento para Diabetes

Lissandra Eduardo destaca aspectos importantes da doença

CARATINGA – Metade dos brasileiros subestimam consequências mais graves do Diabetes. A informação é da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Para alertar sobre a doença, o DIÁRIO conversou com a endocrinologista Lissandra Eduardo que falou sobre a importância do diagnóstico e tratamento.

O que é Diabetes?
Diabetes é uma doença multifatorial, o tipo 2 é o mais prevalente, porque começamos a ter uma resistência à insulina ou uma deficiência na produção dela. No caso do Diabetes tipo 2 observamos uma resistência na ação dessa insulina perifericamente e com isso essa insulina passa a não ter ação no controle da glicemia, assim observamos um quadro de hiperglicemia crônico até o que o paciente vem e surge com o diagnóstico de Diabetes propriamente dito.

Qual a diferença do tipo 1 para o tipo 2?
No caso do tipo 1 há uma falência das células betas pancreáticas e esse paciente não vai conseguir produzir a insulina endógena dele. O tratamento para o diabético tipo 1 é usar insulina, não tem outro.

Há uma determinada idade para manifestação?
Geralmente o diabetes tipo 1 é mais prevalente na população mais jovem, observamos a incidência maior em crianças, jovens e adultos jovens. O DM 2 (Diabetes Mellitus tipo 2) já é uma doença que observamos mais acima dos 40 anos. Hoje em dia tem mudado um pouco esse perfil, com aumento da obesidade esse aumento do Diabetes tipo 2 vem baixando de idade, então, temos hoje pacientes também de 20 anos com esse diagnóstico.

É uma doença hereditária?
Tem muito a ver. O Diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, mas, o tipo 2 tem muita relação com a história familiar sim, com a genética.

Quais são os principais sintomas?
O paciente apresentar boca seca, polidipsia; a poliuria, fazer muito xixi, uma perda de peso ponderal. No caso do Diabetes tipo 2, que é a mais prevalente, geralmente, os pacientes são assintomáticos por um bom período. Mas, essa questão, por exemplo, de alteração de visão, boca seca, de fazer muito xixi são sintomas de alerta de procurar investigar.

Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é feito com glicemia de jejum, que tem que dar acima de 126 mg/dl, um exame que chamamos de hemoglobina glicosilada, que os níveis de diagnóstico são acima de 6,5% já para diagnóstico de Diabetes e o teste oral de tolerância à glicose tem que ser acima de 200. Mas, basicamente, precisamos de uma em jejum, uma glicada ou duas de jejum. Ou um TOTG (Teste Oral de Tolerância a Glicose) e uma de hemoglobina de jejum para fazer esse diagnóstico, para confirmar a doença.

Qual a diferença da hipoglicemia para a hiperglicemia?
São os extremos. A hipoglicemia configuramos como sendo um estado de glicemia menor do que 70 mg/dl. E a hiperglicemia já é maior do que 100 mg/dl. O normal seria até 99 mg/dl. Quando temos, por exemplo, uma glicemia de 101 mg/dl, falamos glicemia de jejum alterada. Pode ser que o paciente não seja diabético mesmo com essa glicemia de jejum alterada, mas, é um alerta para evitar essa progressão.

Casos de emergência de hiperglicemia, de chegar ao patamar de 500 mg/dl, por exemplo. O que pode desencadear?
As emergências endocrinológicas em relação às hiperglicemias são duas propriamente ditas, a cetoacidose diabética e o estado hiperosmolar. Ambas têm que apresentar uma glicemia no mínimo maior que 250. Mas, no caso para esse diagnóstico que são doenças agudas e potencialmente fatais, com alto efeito de mortalidade, apresenta cetose, tanto na urina quanto no sangue; também há uma desidratação muito importante muito importante e os níveis de glicemia também muito elevados.

Diabetes é um fator de risco para doença cardiovascular?
O paciente diabético tipo 1, como ele não produz insulina, ele tem um risco cardiovascular até um pouco mais diminuído. O DM 2 já é um paciente que tem uma síndrome metabólica associada, então ele tem uma predisposição muito grande com a doença cardiovascular. O que a gente chama de complicações crônicas do diabetes são, por exemplo, a retinopatia diabética, nefropatia diabética e a neuropatia diabética. Tanto que hoje em dia, o aumento da prevalência, consideramos o diabético tipo 2 principal causa de cegueira; hemodiálise, já ultrapassando hipertensão arterial; e amputação de membros inferiores. Então, temos que preocupar. Do ponto de vista microvascular o paciente diabético vai morrer de infarto ou de AVC. São as doenças que temos que prevenir, o avanço, para evitar essas complicações.

Como devem ser os cuidados com a alimentação?
Muito importante, na verdade, o que aumenta a glicemia é o açúcar, então tudo que envolve açúcar e carboidratos em geral, que vai potencializar e aumentar essa glicose no sangue, deve ser evitado. Muita gente me pergunta: “Doutora, não posso comer nem fruta, porque tem açúcar?”. A gente libera, não tem como restringir completamente, então, liberamos, por exemplo, quatro frutas para o paciente diabético, mesmo assim com orientação. Alimentação e atividade física são importantes para esse paciente. A alimentação faz uma diferença muito grande nessa progressão da doença.

Ficar muito tempo sem comer é prejudicial?
O paciente diabético, principalmente aquele que usa insulina, se ele passar um período grande sem se alimentar, há possibilidade de ele ter um quadro de hipoglicemia e as hipoglicemias também têm as emergências delas, os fatores de risco.

Quais são as possibilidades de tratamento para diabéticos?
São duas vertentes, como nosso principal fator de risco é o diabetes tipo 2, primeira coisa é mudança de estilo de vida. Geralmente esse paciente já chega com um aumento de peso, então gira em torno de alimentação e atividade física. Perder peso é um ponto crucial para conseguir ter o controle da progressão da doença. E existem os antidiabéticos orais, porque esse paciente DM 2 ainda produz insulina e às vezes está precisando de um estímulo para o pâncreas liberar essa insulina, ele tem uma resistência periférica; ou existem drogas que atuam a nível de intestino, que são as incretinas, que são as medicações como GLP 1, que atuam a nível intestinal e ajudam retardando o trânsito intestinal, assim lentifica a absorção da glicose. Existem drogas com mecanismo de ação renal também que fazem glicosúria, então, o paciente absorve menos glicose, ele vai excretar essa glicose, ou seja, vai perder açúcar, o que também, querendo ou não é uma possibilidade de tratamento. Então, existem várias possibilidades, vai depender do paciente, tem que ser um tratamento individualizado, por isso é muito importante ter um especialista junto para avaliar qual o melhor remédio ou terapia para aquele paciente. E no caso do diabético 1, especificamente, é aquele que não produz insulina, então, ele vai ter que usar insulina, não tem outra opção. O DM 2 também usa insulina, com a progressão da doença ele vai falir nas células betas e vai chegar um momento que ele não vai produzir mais. Nesse momento, o paciente diabético tipo 2 também tem a necessidade de fazer uso dessa insulina. Então, as possibilidades são alimentação, atividade física, os antidiabéticos orais e as insulinas.

É uma doença que apresenta tendência de crescimento?
Observamos que com o avanço da idade, estamos aumentando nossa expectativa de vida, então, o Diabetes é uma doença que tem aumentado cada vez mais a prevalência, muito relacionado ao aumento da incidência também da obesidade, andam juntas. Se não tivermos essa consciência de mudança de estilo de vida, principalmente, todo mundo no futuro tem uma chance de se tornar diabético. E as complicações, geralmente por o DM 2 ser uma doença mais assintomática, silenciosa, quando se alertar aos problemas, podem ser irreversíveis. Comprometimento da visão, renal, de perda de sensibilidade. Temos que ter essa consciência, alimentação saudável, dormir bem, ingerir a quantidade ideal de água.

A Organização Mundial da Saúde alerta que a Diabetes está associada a 1,5 milhão de mortes todos os anos…
Sim. Uma doença com uma morbimortalidade muito grande, que é o que vemos hoje nos casos de insuficiência renal, pacientes já na fila de transplante, fazendo hemodiálise, com perda de visão. É uma doença que ao longo do tempo vai incapacitar e com risco potencialmente grave de ter um AVC, ficar debilitado, comprometimento com sequelas ou infarto que pode levar à morte mais súbita. É uma doença que merece realmente atenção.

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