Carta escrita pela professora Andreza Eduarda
Escritos sobre verdades a um anjo
“Tão certo como o amanhecer nossos sonhos serão realidade”
Querido Anjo,
Sempre tive o sonho de ser feliz e já faz um tempo que venho questionando-me sobre a veracidade de certas coisas na vida e sobre a como essas verdades refletem no decorrer de nossos tão efêmeros e infinitos dias de existência. E uma dessas coisas que tanto questionando é justamente a felicidade.
Quando pequena, gostava de sentar na calçada e deixar meus olhos caírem ao céu, como se alguma força gravitacional os puxasse em direção às estrelas sobre minha simples mente infantil. Desde pequena ouço que anjos vivem no céu e que pessoas amadas, quando deixam a terra, passam a viver lá e passam a se chamar assim também. Não importava o tempo que levasse, meu pescoço não se cansava de inclinar minha cabeça para meus olhos buscarem aquelas luzes e seres tão encantadores e distantes. Olhava para o céu na esperança de um dia poder ver um anjo brincando em meio às estrelas, ou ainda de ver Os Anjos que tanto amava (e ainda amo) andando por lá e, se possível, lhes dizer o quanto sinto saudades de suas presenças. Ainda que tímida, via naquele hábito uma forma de felicidade.
Porém com o passar dos anos me mudei para Caratinga, e ainda aqui continuei cultivando o tão cotidiano hábito da infância. Imaginei que a escada da Catedral poderia ser um bom lugar para ver as estrelas. Minha frustração não teve tamanho ao perceber que dos bancos da praça não se podia ver anjos, nem estrelas, nem céu. Ofuscados pelas luzes urbanas, tais belezas fugiam do alcance de minha visão. Somente a saudade me era visível. Esta reinava e maltratava-me, não somente pela falta dos Anjos que eu não conseguia ver no céu mas também por causa dos Anjos da terra que agora também estavam a quilômetros de distância… a falta de meus pais tornou-se constante.
Não encontrava mais a felicidade em minha busca, em meu peito parecia que meu sonho de ser feliz era mentira. Apesar da frustação, não abandonei o hábito da busca e tentava – talvez em vão – enxergar pelo menos as estrelas no céu. Confesso que senti-me triste e desanimada, imaginava até que tudo que ouvi sobre céus, estrelas e anjos era mentira.
Um dia porém, estava sentada na escada da catedral olhando para cima quando meu pescoço doeu e pediu descanso. O inusitado fato intrigou meu coração, talvez fosse hora de desistir.
Decidi descansar meu pescoço e abaixar meus olhos. Então notei que havia alguém sentado ao meu lado no banco.
Querido Anjo, jamais saberei descrever a sensação que tive ao ver que o que tanto procurei no céu se encontrava na terra. O que se seguiu naquele tão inesperado momento foi indescritível! Vestindo sorrisos e emanando luzes, o ser celestes pronunciava frases poéticas incessantemente dizendo o quão linda e maravilhosa é a vida – na terra e no céu. Intrigante mesmo era a frase que ele repetia constantemente: “Tão certo como o nascer do sol” que eu corrigi em meio a risos dizendo que ” ‘ Tão certo como o amanhecer’ era mais poético ainda”. Indiscutivelmente anjos são poetas.
Sortuda senti-me ao receber a dádiva de ter a companhia daquele ser durante noites e noites na porta da igreja, sempre às oito da noite. A hora das conversas sobre a vida fazia meu coração disparar de alegria em saber que teria a tão esperada companhia. Apesar da alegria, sentia-me insegura. E se meu sonho não se realizasse de novo?
Sucedeu que, certo dia, senti-me triste e mandei uma mensagem para um amigo. Em poucos minutos o avistei ao longe na rua vindo com uma flor do jardim da praça da catedral em minha direção. Estranha foi a sensação que tive ao vê-lo, os braços abertos de meu amigo puxavam-me para um mundo de paz e calmaria. Não sabia o motivo das sensações que me vinham, apenas corri em sua direção. Um abraço confortante me levou ao céu. De repente meu amigo sussurrou a seguinte frase em meu ouvido: “Tão certo como o amanhecer, seus sonhos serão realidade”.
Terra e céu tornaram-se um só quando olhei para o rosto dele e vi que meu amigo era nada mais nada menos do que você: o Anjo com quem eu conversava todos os dias.
Por alguns momentos cheguei a duvidar da veracidade dos anjos, das estrelas e do céu e até da felicidade. Achei que minha busca por tão sublime sonho era vã até que te encontrar em meio às luzes da cidade. O encontro com a felicidade era verdadeiro e anjos provavam isso todos os dias nos falando por meio das mais lindas demonstrações de amor.
As estrelas desceram ao chão, meu coração subiu ao céu, e meu amor uniu-se ao seu. Naquele momento percebi uma série de coisas: estrelas brilham mesmo quando não conseguimos vê-las; pessoas que vivem no céu são anjos, pessoas que vivem na terra também; anjos recitam poesias, roubam rosas do jardim da praça e tornam nossa vida mais bonita nos dando abraços e nos confortando dia a dia. E, por fim, realizei meu sonho. A felicidade veio até mim.
Palavras são escassas para descrever tudo o que eu senti e sinto desde o dia em que te descobri aqui, mas em poucas palavras posso dizer que ” Tão certo como o amanhecer ” ou ” Tão certo como o nascer do sol” todos temos um anjo que vive na terra, e você, meu amigo, companheiro e amor, sempre foi e sempre será meu Anjo.
Carinhosamente
Aurora.
Andreza Eduarda
Professora de Língua Portuguesa e Literatura no Núcleo de Ensino Professor João Martins-NEPJM