Em respeito à memória de Fellipe Medina, jovem que faleceu vítima do câncer, família ajuda outras pessoas com dinheiro arrecado em campanha
UBAPORANGA – Fellipe Souto Medina, 19 anos, um jovem alegre, determinado, cativante, vascaíno roxo, tinha o sonho de se tornar um brilhante profissional da odontologia para ajudar as pessoas e principalmente sua mãe, a professora aposentada Sirléia Mariano Souto Medina, 53 anos, e o irmão Willian Souto Medina, 26, pois perdeu o pai Joaquim Vieira Medina no ano de 2017.
Por onde passava Fellipe deixava seu jeito amigo de ser, sua alegria contagiante, sua personalidade forte, mas infelizmente a Leucemia Mieloide Aguda (LMA), interrompeu todos os sonhos e o futuro promissor desse jovem. Ele morreu no dia 24 de março.
Assim que a doença foi descoberta, amigos e familiares de Fellipe deram início à campanha “#Fellipe – Hoje por você, amanhã por mim”.
Não era esperado que o sucesso da campanha fosse diferente, o amor por Fellipe foi demonstrado através de orações, doações de sangue e a quantia de R$ 22.277,00. Durante o tratamento a família precisou gastar R$9.917,00.
Fellipe foi um grande guerreiro, lutou com toda sua força e apoio de muitas pessoas, mas o destino dele já estava escrito e não era para ficar sofrendo aqui.
E com uma atitude muito nobre, a mãe de Fellipe, com a ajuda de familiares, encontrou uma forma de manter o jovem vivo em outras pessoas, quando decidiu doar o restante do dinheiro, R$ 12.360,00, arrecadado durante a campanha para pessoas de Ubaporanga que estão lutando com algum tipo de doença. Um pouco da história de Fellipe e deste gesto de bondade, você poderá conhecer através desta entrevista com Sirléia, mãe desse jovem que ficará guardado no coração e na memória de todas as pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
Como foi a vida de Fellipe desde pequeno? Como era a personalidade dele?
Sempre foi uma criança hiperativa, muito brincalhão, gostava de estar rodeado de amigos, tinha uma personalidade forte de liderança, os meninos da sala até fizeram uma homenagem a ele em relação isso. Era bom de basquete, no vôlei, no futebol e sempre tomava a frente das coisas.
Antes de ficar doente, ele estava estudando?
Tinha acabado de passar na Faculdade Federal de Juiz de Fora, campus de Governador Valadares, onde estava cursando odontologia.
Qual era o maior sonho dele?
Ser independente, me ajudar, pois ele tinha acabado de perder o pai. Éramos muito unidos, eu, ele, o pai e o irmão Willian.
Quando vocês descobriram a doença? Como foi a reação dele e da família? Quem deu o diagnóstico?
Ele sentia muita dor na garganta, achava que eram as amídalas, aí começou inchar muito e ficou um caroço, ficamos por sete dias sem saber nada até chegar esse triste resultado. Foi internado no dia 23 de fevereiro, fizeram todos exames no dia 27 e foi diagnosticado com leucemia, esperou mais três dias e foi identificado que era a pior, mieloide aguda. Ele estava muito firme, confiante, até com bom humor, não deixava passar nada pra mim, a família ficou muito abalada, mas tínhamos muita fé a tia dele Nelma Martins Medina, madrinha dele acompanhou todo tratamento em Ipatinga, dormia junto com a gente no hospital. Ele desabafava com a madrinha. Quem deu o diagnóstico foi doutor Marcos Aurélio do setor de oncologia do Márcio Cunha.
Quanto tempo ele ficou em tratamento e onde?
Ficou internado por 30 dias no hospital Márcio Cunha II.
O tratamento foi todo particular?
Tinha o Ipsemg, mas por incrível que pareça foi cancelado após o tratamento do meu filho, entrou muita coisa pelo plano, mas precisava pagar a diária do apartamento e exames extras que o plano não cobria.
No princípio quanto em dinheiro seria necessário?
Estávamos calculando que ele viria para casa depois de 40 dias, seriam necessários 15 mil reais.
Como surgiram as ideias das campanhas?
O povo. O povo mesmo quis juntar. Temos muitos amigos e através da família mesmo, ele comentou com a prima Marcela sobre a “Vakinha on line”, estava muito preocupado comigo. As pessoas achavam que como o avô dele faleceu então tinha herança, mas ele estava correndo contra o tempo, herança não se vende do dia pra noite.
Qual foi o motivo da piora e consequentemente da morte?
Três dias antes da morte, soubemos que a medula dele estava limpando, eram 80% de células ruins e nesse dia deram 10%, então comemoramos todos, foi uma alegria muito grande, ele começou a mandar nos grupos de amigos, da família, que estava bem, a gente via a felicidade nele, mas um dia depois começou a ter hemorragia, a quimioterapia dá o tempo de dez dias que não pode ter hemorragia, mas no último dia aconteceu, começou a tossir, vomitar e a secreção e aí a luta começou, no outro dia foi entubado e no domingo faleceu, o pulmãozinho dele não aguentou.
A senhora ficou surpresa com o resultado da campanha?
Muito surpresa, a gente não esperava tudo isso, mas foram muitas doações de sangue, a prefeitura disponibilizou veículos para quem não tinha como ir, mas além de Ubaporanga foram pessoas de diversas cidades.
Como foi o apoio das pessoas durante o tempo que Fellipe ficou internado?
Foi o que nos deu força, foi muito lindo, nos sentimos amados, foi uma campanha muito comovente.
A senhora teve uma atitude muito nobre de ajudar outras pessoas com o dinheiro que restou das campanhas? Como surgiu essa ideia?
Eu falei com a minha sobrinha Nayhane que eu sentia uma vontade muito grande de retribuir, perguntei a ela por trabalhar na prefeitura e conhecer muita gente, quais as pessoas que mais precisavam, falei também com a secretária de Saúde do município, minha sobrinha Kênia e com a tia Valéria. Senti o Fellipe em cada pessoa que ajudei. Na Apae fizemos uma reunião, lá teremos um centro de fisioterapia totalmente equipado e até receberá o nome do meu filho, isso me consola um pouco.
Quais as melhores lembranças que a senhora guardará de seu filho?
Após meu marido falecer, meu filho dormia do meu lado, me passou confiança o tempo todo, quando saí do quarto do hospital pela última vez ele fez um gesto de coração com as mãos pra mim, e esse gesto está gravado em mim com muita força.
Que mensagem deixa para as mães que estão passando por momentos difíceis como o da senhora?
Muita oração, durante trintas dias orava sozinha, no canto da parede, no banheiro, Deus estava me preparando para receber qualquer notícia, foi Deus e todas as orações das pessoas que mesmo de longe seguravam minhas mãos.
Nossas vidas não nos pertencem, e apenas Deus sabe o destino de cada um de nós, e Ele tem um plano para todos. Façamos por entender, aceitar, e principalmente por continuar nossas vidas, esforçando diariamente para sermos felizes e principalmente amando o próximo.
Meu filho Fellipe sentiu todo amor de vocês especialmente na fase do tratamento, esse amor transbordou também o meu coração de mãe.
Hoje Fellipe não está mais presente fisicamente, mas me deixou juntamente com todos vocês uma vontade enorme de agradecer e retribuir.
Obrigada Ubaporanga e toda região, hoje estamos passando adiante tudo o que vocês nos ofertaram.