Eugênio Maria Gomes
Ele saiu de casa, naquela sexta-feira, animado para um fim de semana junto dela. Pronto para “pegar” a estrada, ele mandou um “zap” e avisou-a de que estava saindo. Seriam, apenas, 350 quilômetros até encontrá-la, o tempo estava bom e tudo concorria para que fizesse uma boa viagem. Porém, uma renite alérgica, insistente, provavelmente por conta das constantes mudanças do tempo, o estava incomodando. Ele resolveu passar na farmácia rapidamente e comprar um “anti” alguma coisa e já chegar medicado.
Chegou à farmácia e, antes mesmo de entrar no recinto, visualizou todo o ambiente: duas moças e um rapaz estavam atendendo. Não se lembrava do nome do remédio, nem da sua composição química, por isso ficou sem jeito de falar com a atendente que o abordou e apontou com o dedo que preferia falar com o rapaz, que parecia um pouco mais velho, vestia um jaleco branco e, provavelmente, era o farmacêutico.
– Só um momento que ele vai atendê-lo
– Ok, obrigado.
-Eu sei como é, senhor, algumas coisas os homens preferem falar com homens… Nós, também, somos assim…
Ele aguardou por pouco tempo o atendimento que o rapaz dava a um senhor. Assim que ele se despediu do cliente, a moça foi até ele, falou algo em seu ouvido e olharam, ao mesmo tempo, em sua direção. O rapaz fez um sinal para que ele se aproximasse mais e, assim, ele o fez.
– Boa tarde. Estou precisando de um remédio…
– Boa tarde, senhor. O senhor tem preferência de laboratório?
– Na verdade não. Eu estou indo passar o fim de semana com uma amiga e queria um “anti”… Não me lembro bem da especificação do remédio, mas não posso ficar só fungando, o tempo todo…
– Claro. Já pensou se você ficar o fim de semana na cama, só fungando, e perder o melhor da festa?
– Pois é… Preciso estar em forma.
– Você quer ficar como se fosse um garoto não é?
– Isso mesmo. Quero chegar lá bom, pronto para o fim de semana. Já tomei o remédio que eu estou querendo uma vez, mas não me lembro o nome…
Ele não se lembrava do nome, mas sabia que o efeito colateral do remédio havia sido mínimo. Os “anti…” costumam deixar o sujeito “molenga”, sem energia.
_ Eu acho que sei o que o senhor está procurando… O comprimido não é azul não né?
– Não, não é.
– Também não é amarelinho né?
– Não, é branco.
– Ah! Eu sabia, o senhor está querendo o branquinho..
O rapaz foi até a prateleira e trouxe duas caixas de medicamentos. Eram iguais e traziam o nome “Helleva” na caixa.
– Aqui está. Temos a caixa com dois e com quatro comprimidos. Qual o senhor quer levar?
– Da outra vez tomei apenas um comprimido e fiquei bom…
– Então leva o de dois comprimidos. Deixe um de reserva, caso precise.
– Essa minha renite não há de me atrapalhar!
– Claro que não. O Helleva não pode ser usado por pacientes portadores de retinite pigmentosa, mas com renite não tem problema.
– Que bom. Quando tomei a ação foi rápida e, em pouco tempo, eu já estava esperto, sem ficar fungando.
– É isso mesmo, o senhor não vai nem fungar, já vai chegar partindo pra cima…
– Que bom, levarei a caixa com quatro comprimidos e tomarei um a cada doze horas. Assim, estarei coberto o tempo todo.
– Coberto? O senhor verá que maravilha esse remédio…
Ele comprou a caixa com quatro comprimidos. Na primeira parada para abastecer, ele comprou água e tomou um comprimido. Deixaria para tomar o outro quando estivesse mais perto, assim não correria o risco de ficar com moleza, com sonolência, como costuma acontecer quando se toma anti-histamínicos… Ufa, por fim lembrara-se da base do medicamento. Depois de tomar o remédio, ele gastou mais quatro horas para chegar ao seu destino. Estava fungando – tomaria outro assim que completasse as doze horas e, assim, sucessivamente, até o término da caixa.
Ele não sabe bem o que aconteceu, pois não parou de “fungar” o tempo todo, mas, também, a parceira parecia não se incomodar muito com isso. Era toda sorrisos. Apesar da renite, desde garoto não tinha uma performance sexual tão boa. Já na hora de deixá-la, deitados, conversando e fazendo planos para o próximo encontro, ela comentou: “saindo daqui passe numa farmácia e compre um remédio para essa renite alérgica… Mas, compre o Allegra, aquele que você usou da última vez e não teve nenhum efeito colateral. Principalmente, que não diminua essa sua energia, porque você está o máximo”.
Allegra… Sim, este era o nome do remédio. Ele tomara o “Elleva”, estava explicado! A comunicação com o farmacêutico falhara… De toda sorte, o fim de semana tinha sido muito bom. Ele deixou a casa da moça, passou na farmácia e pediu um Elleva. Imediatamente, retificou: Elleva não. Allegra!
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNEC TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.