Advogado
No Brasil o que se vê todos os dias é uma verdadeira antecipação da campanha eleitoral de 2022. O interessante é que, ainda tem pela frente praticamente um ano e meio antes do pleito e no auge da Pandemia da Covid-19 que, inobstante o pequeno avanço da vacinação, ainda gera todos os dias vítimas do vírus. Ciro Gomes, Luiz Inácio Lula da Silva ,Jair Bolsonaro, Doria , dentre outros, vem antecipando a campanha eleitoral, até muitas vezes ferindo a legislação eleitoral de forma flagrante.
A grande polarização que aconteceu na última eleição presidencial prossegue e, a cada dia cresce mais. No seio da sociedade brasileira vive-se uma animosidade tanto política, quanto coletiva, com agravante da Pandemia. Uma espécie de tragédia grega, uma catarse coletiva. Aristóteles, em sua obra Poetica, analisa a catarse como uma purificação obtida por intermédio da representação teatral de uma tragédia.
Com a campanha eleitoral antecipada, existe também uma representação das eleições antecipadas, com seu ritual de comparecimento às urnas dos eleitores. E isso acontece, neste momento de alta tensão política e emocional, esse espetáculo teatral de que falava Aristóteles, capaz de aliviar tensões acumuladas e até mesmo de nos libertar dos efeitos da Pandemia.
Na psicanálise, a catarse pode se transformar em uma terapia que ajuda o paciente a entender melhor e controlar suas emoções. Nas tragédias gregas, o motivo de todas as desgraças era a hybris, o orgulho ilimitado. Esse sentimento de superioridade, seja dos políticos, seja de seus seguidores, é o que tantas vezes leva a um embate de ideias em que cada um considera que a sua ideia é a melhor, quando não a única digna desse nome. Daí a sensação de se estar vivendo uma guerra civil entre irmãos, que chega a opor membros de uma mesma família e ao confronto entre amigos de toda a vida.
É uma guerra de emoções na qual descarregamos, também, todo o peso das nossas frustrações. Psicólogos alertaram nos últimos dias para o risco e a dificuldade com que a sociedade brasileira estaria se deparando para resolver esse enfrentamento entre os seguidores de um ou outro líder ou partido político, cada vez mais agudo, sem que se veja uma saída capaz de derrubar os muros que estão sendo erguidos como trincheiras de guerra. A sociedade nesse momento deve estar atenta, afastando da política o joio. A política brasileira precisa de sangue novo. A experiência mostra que nos momentos cruciais de crise e de risco de uma retração autoritária, a sociedade brasileira, como um todo, tem sabido responder com responsabilidade à altura de seus desafios.
O Brasil necessita de ter progresso e vida nova, outro rumo. A sociedade pacificada, por meio dessa catarse coletiva, poderia começar a vislumbrar horizontes menos ameaçadores. Tudo será melhor do que a sociedade continuar travada por essa luta inútil e perigosa de “uns contra os outros”, que não deixará outra coisa que não feridas difíceis de cicatrizar. Isso tudo é fruto das eleições presidenciais antecipadas.