Ildecir A.Lessa
Advogado
Uma semana somente resta, – no domingo 7 de outubro – os brasileiros participarão do primeiro turno das eleições presidenciais, uma que se afigura como “as mais turbulentas da história”. Tudo isso, em meio a um país de profundas crises financeiras – derrocada da economia – e institucional – uma presidenta destituída e o atual presidente investigado -, como pano de fundo. Esse estado de coisas vem enfraquecendo a nação há quatro anos.
A campanha eleitoral tem como um cenário nunca antes visto, dentro de um contexto marcado pelo caos e a incerteza: a prisão e proibição de concorrer como candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à tentativa de assassinato de outro dos favoritos, o populista de extrema direita Jair Bolsonaro. Nessa turbulência, a única coisa praticamente certa é que nenhum dos políticos na disputa obterá maioria no primeiro turno e os dois mais votados estarão no segundo – no dia 28. Um deles será, de acordo com as pesquisas, o ultradireitista Bolsonaro – com 28% das intenções de voto – e a outra vaga será disputada entre o sucessor de Lula e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o candidato de centro-esquerda e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes.
De acordo com pesquisa Ibope divulgada na segunda-feira, 24, o petista leva vantagem, com 22% das intenções de voto, e o candidato do PDT aparece em terceiro lugar, com 11%. Na análise do cientista político e professor do Insper Carlos Melo, não necessariamente. É improvável – mas não impossível – que candidatos como Ciro, Alckmin ou até Marina consigam dar a volta por cima antes de 7 de outubro. “As eleições brasileiras são sempre muito emocionantes, até o final. Pelo lado lógico, dos números, podemos afirmar que Bolsonaro e Haddad têm as maiores chances de chegar ao segundo turno. Mas a experiência nos obriga a colocar uma interrogação aí no meio“, diz Melo.
Na visão do professor do Insper, candidatos menos cotados realmente acreditam que, na contramão das pesquisas eleitorais, têm chances de ir ao segundo turno. Membros da elite política costumam ser muito autossuficientes e ter uma autoestima acima da média. “Eles não insistem nisso (na possibilidade remota de vitória) só porque é a única coisa que podem fazer. Só para cumprir tabela. Dizem isso porque realmente acreditam que podem vencer. E, em alguma medida, podem mesmo”, diz ele. Contudo, há algo mais constatável: o populismo instalou no Brasil um discurso político destrutivo que utiliza qualquer desculpa para provocar um incêndio social e cujo alvo é o Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula e Haddad. Bolsonaro algumas vezes é comparado a Donald Trump e Matteo Salvini, o que parece ser um equívoco. É ainda pior no fundo e nas formas. Na campanha – parte da qual realizou prostrado na cama de um hospital e, portanto, sem possibilidade de participar de debates – Bolsonaro não só defendeu a ditadura militar (1964-1985), como propôs que a polícia tenha carta branca para matar em um país onde são registrados 60.000 homicídios anuais. Seu candidato a vice-presidente, Antônio Hamilton Mourão, é um militar da reserva que constantemente justifica que ocorra um golpe de Estado “sob determinadas circunstâncias” e utilizou o termo “autogolpe”. Também propõe a elaboração de uma nova Constituição por “um conselho de notáveis”.
Os outros candidatos tentaram fazer uma campanha mais ou menos ortodoxa, mas se viram arrastados para combater colocações inaceitáveis que, entretanto, são reivindicadas abertamente por uma porcentagem importante do eleitorado. Como costuma acontecer quando a democracia está em risco, é a unidade dos que acreditam nela – independentemente de suas diferenças – que por fim a resgata. E no Brasil deve acontecer o mesmo. Dentro desse cenário, considerando todos os eventos que se manifestaram nessa campanha presidencial de 2018, pode-se afirmar com segurança que, haverá uma das eleições mais turbulentas do Brasil. Tomara que sirva para o Brasil tomar um rumo melhor!