Como Nasce Uma Sensibilidade
Li uma entrevista com o Embaixador da Finlândia nos Estados Unidos. Ele mencionou algumas mudanças que ocorreram no seu povo finlandês nestes últimos três anos:
– O partido tendente à esquerda foi diminuindo e perdeu o poder, e os conservadores chegaram ao poder;
– O povo que não se preocupava com a defesa de seu país (com uma fronteira enorme com a Rússia), de repente começou a ficar mais atento e mais disposto para fazer o serviço militar;
– E o governo, que quase não destinava nenhuma verba para a defesa do país, começou a investir em sua máquina militar.
O medo de perderem a liberdade – por causa das ações bélicas claras da Rússia (em 2008, invadiram o país vizinho, Geórgia; em 2014, anexaram a Crimeia, pertencente à Ucrânia, e, há pouco tempo, a invasão da própria Ucrânia). O `rosto` da Rússia, que antes falava de paz, de cooperação, de fraternidade tinha mudado: agora se mostra agressividade, autoritarismo, e nenhuma sensibilidade aos apelos mundiais.
O povo finlandês, assim como os outros povos vizinhos da Rússia, bem como toda Europa, começou a sentir na pele e mudaram de opinião: nasceu-lhes uma nova sensibilidade – que talvez estava latente, dormente, escondida – e agora veio à tona…
Por outro lado, há coisas que estão ao nosso redor, que são horríveis, e nós nem estamos aí.
Não, não estou à cata de problemas! Queria apontar para nossa falta de sensibilidade para os milhares, milhões de pessoas ao nosso redor que estão sofrendo diariamente. Que não sabem como será sua noite, se terão lugar para dormir. Se terão comida para comer. Imagine os milhares de crianças, de jovens – na flor de sua idade, ou no início de suas vidas, cheios de energia – e não ter comida – e segurança, ou amor verdadeiro no lar, ou, mesmo, nem cama para descansar o corpo???
Você sabe quantas crianças não tiveram uma refeição nutritiva esta manhã?
Ou quantos idosos estão passando fome há alguns dias?
São perguntas que incomodam, e talvez você até pense, que não queria pensar nisso agora, ou que isso não é de sua responsabilidade. Será?
Quando eu lembro do início da igreja – lá em Jerusalém – há quase dois mil anos, havia muito carência, muita pobreza, muitos necessitados. (Cidades antigas também tinham pessoas na rua – moradores de rua! – pedindo esmola! E isso, também nos dias de Jesus!)
Quando o discípulo Pedro se levantou para falar -, porque a confusão era geral naquele feriado de Pentecostes, – ninguém estava entendendo nada, inclusive porque gente de todas as partes do mundo tinham chegado, e cada um falava na sua própria língua…
Pedro disse que o que estava acontecendo era o cumprimento da promessa de Deus anunciada pelos profetas: que o Espírito de Deus estava sendo derramado sobre todos os povos (até então, ele mesmo cria que era privilégio do povo dele, do povo de Jesus, dos judeus.)
Coisas tremendas estavam acontecendo ali: dores e doenças sumiram, desespero, angústia – também. Havia cegos que de repente começaram a ver. Surdos, que há muito tempo não ouviam coisa alguma, agora não só ouviam mas entendiam que se falava das maravilhas de Deus, que mesmo no meio daquela confusão, havia um Deus vivo, que tinha poder, e que se interessava pela necessidade dos humanos, de quem ele não apenas recebia adoração, mas que ele é um Deus ativo, participativo, dirigindo a cada pessoa, livrando-a, curando-a – um Deus que sentia profundamente os problemas dos outros.
Quem esteve lá nunca esqueceu. Muitos não se uniram ao grupo de amigos de Jesus, mas o relato diz que três mil pessoas se agregaram a eles. Você consegue imaginar: um grupo de talvez 100, 120 pessoas, agora tinha aumentado 25 vezes!
E quem eram esses novatos – eram todos ricos, como Zaqueu? Ou tinha gente pobre, necessitada, doente, com fome entre eles? Com certeza!
De repente, uma nova sensibilidade começou a crescer entre a comunidade, e eles – isto é, aqueles que tinham suas vidas “arrumadinhas”, sem dívida, sem problema no cartório, sem ninguém na prisão, sem ninguém no hospital ou em outra instituição – de repente eles se depararam com gente carente mesmo: carências de toda a sorte, como em qualquer grupo que se ajunta numa cidade para ouvir alguém falar em praça pública!
Aqueles que nem se ligavam com o problema dos outros – agora tiveram de senti-los pertinho, contando ou mostrando suas mazelas!
A decisão que tinha de ser tomada meio rapidamente era: fico aqui mesmo, ou saio correndo.
Alguns, talvez muitos foram embora!
Mas 3 mil ficaram!
E se envolveram. Não fecharam seus olhos ou ouvidos – viram, ouviram e foram tocados.
E vejam que enorme milagre aconteceu: o relato fala clara e repetidamente, que “entre eles não havia nenhum necessitado”!
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum; E-mail: [email protected]