Imaginemos um cenário hipotético em que um grupo de pessoas que passam por uma caótica situação social, em que falta o mínimo para sobreviverem. A fome gritante clama por alimentos, seja ele qual for. Pois acredito que num estado de fome extrema o ser humano torna-se capaz de comer qualquer coisa. E acrescento mais um agravante, o estado em que essas pessoas se encontram já dura um bom tempo.
Digamos que, por sorte, essas pessoas encontraram uma outra, considerada “alma caridosa” que prontamente se colocou à disposição para ajudar. No intuito de resolver a questão ela se prontificou a oferecer almoço e jantar durante o tempo que fosse necessário para que essas pessoas recuperassem o porte físico. Todavia, mesmo com toda boa vontade, a comida oferecida era muito salgada, o que levou às pessoas a sofrerem de pressão alta, sendo que muitas acabaram morrendo de hipertensão. Portanto, o problema foi resolvido por inteiro ou pela metade? E olha como um detalhe, o uso do sal, fez toda a diferença.
Com a educação não é diferente. A ignorância se combate com sabedoria, o analfabetismo com alfabetização, mas não basta somente ter a escola, precisamos também saber dosar o “sal”.
E o sal representa a qualidade. Uma comida salgada pode matar a fome e levar o indivíduo à morte. Fazendo uma simples analogia, a educação escolar sem qualidade pode conduzir aos bailes de formatura, mas provavelmente não proporcionará o pleno desenvolvimento social da pessoa. Pois a pessoa passou pela escola, mas a escola não passou por ela. Saiu quase que da mesma forma que entrou. Uma diferença tão pequena, que não será o suficiente para gerar as mudanças que se espera.
E pelo que se percebe é justamente este o cenário em que está envolto a educação brasileira, com rara e magníficas exceções. Temos tudo, mas nos perdemos na dosagem do sal, portanto, na qualidade.
Educação sem qualidade é igual a comida salgada, pode resolver o problema pela metade, mas jamais por inteiro. Educação sem qualidade faz elevar os índices governamentais embelezando as estatísticas, cria uma falsa expectativa nas pessoas e proporciona num primeiro momento uma sensação de que o problema está resolvido, de que somos uma nação de pessoas profissionalmente preparadas e educadas.
Precisamos querer por inteiro e não nos contentar com a metade. Medidas paliativas não resolvem os problemas, pelo contrário, só os prolongam. E como indagou a música, nós temos fome de quê? Nós temos sede de quê? Chega de acreditar que “comida é pasto”, que educação pode ser feita de qualquer maneira.
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.