(Noé Neto)
Na semana que passou tive a oportunidade de participar do 1º Café Literário produzido pela E.E. Prof. Maria Fonte, no distrito de Santa Luzia, em Caratinga. Evento primoroso, organizado com o empenho de professores, direção e alunos daquele educandário. Um momento de muita troca de conhecimento entre os envolvidos.
Por se tratar de um evento que englobava alunos jovens e adultos, matriculados nos cursos de ensino fundamental, ensino médio e curso normal, o mesmo foi pautado principalmente na vivência dos educandos, trazendo à tona questões ligadas ao cultivo do café, aos costumes da vida rural e principalmente a rica cultura do homem e da mulher do campo.
Muitos foram os momentos de aprendizagem, contudo um momento específico me chamou muita atenção e será ele o ponto de partida da reflexão a ser desenvolvida neste artigo. Durante uma apresentação teatral, um dos personagens tem a seguinte fala: “Não quero ir à escola hoje, lá não tem nada que eu gosto. Não tem música, não tem dança, nenhum tipo de diversão”.
Partindo desta fala, que naquele teatro era de um personagem, mas que certamente na “vida real” é a de muitos alunos, iniciaremos nossa reflexão com o seguinte questionamento: A escola que oferecemos aos jovens e adultos que regressam aos estudos, se encontra preparada para recebe-los?
Quando a escola se propõe a acolher o aluno jovem e adulto é preciso levar em conta que ele traz uma bagagem de conhecimento prático, adquirido ao longo de sua vida. É preciso considerar que esse aluno muitas vezes é um profissional bem-sucedido e quase sempre é um pai ou mãe de família. A escola para ele é muitas vezes mais uma realização pessoal que profissional. Sua busca é ressarcir o direito a educação, do qual em algum momento, da infância ou adolescência, ele foi privado.
Lembremos de Paulo Freire, que ressalta a importância de um trabalho pedagógico ser realizado nas escolas observando a experiência do aluno de forma que os conteúdos escolares sejam relevantes para a sociedade como um todo. É importante destacar que não se trata de deixar o conteúdo à margem dos ensinamentos escolares, pelo contrário, trata-se de englobar os conteúdos ao conhecimento que o aluno já possui de sua vivência.
Malcolm Knowles, um educador americano de grande renome quando se fala em EJA, destaca a importância da participação dos alunos em novas experiências concretas, a observação e reflexão de tais experiências por diversas perspectivas, a criação de conceitos integrantes que se relacionem com a teoria e por fim, o uso dessas teorias nas tomadas de decisão.
É nesse sentido que acredito na importância da EJA. Apresentando novas experiências, criando expectativas e perspectivas em homens e mulheres que certamente se aproveitarão desses novos conhecimentos adquiridos para melhorar a sua vida e de toda a comunidade que os cerca. Apreciando o meio onde essas pessoas vivem, sua cultura, suas crenças, seus valores.
Muito se tem dito há anos em relação a inclusão. Eu reafirmo o que já disse anteriormente nessa coluna, não podemos tornar a inclusão um processo de inserção. Inserir o aluno adulto na escola é fácil, o problema está em incluir, tornando-o parte das engrenagens que movem o sistema.
Alegra-me ver trabalhos, como o citado no início desse texto, sendo desenvolvidos no sentido de colocar em prática o real sentido de educação. Aquela que traz ciências, linguagens e tecnologias, mas que também é regada de cultura e arte. Que acrescenta ao ser, não o diminuí. Uma educação atrativa, prazerosa, onde mais que inserido o aluno se sinta incluído. Afinal, sigo acreditando que é só por meio dela que chegaremos a concretizar nossos mais almejados sonhos para a pátria amada Brasil.
Prof. Msc Noé Comemorável.
Escola “Prof. Jairo Grossi”
Centro Universitário de Caratinga – UNEC
Escola Estadual Princesa Isabel