A história humana se desenvolveu no contexto de circunstâncias naturais, pois a nossa história está intimamente relacionada com a forma em que tratamos os recursos naturais.
Durante milhares de anos e após diversas revoluções agrícolas e sociais, foi necessária a incorporação de valores aos excessos da produção de diferentes cultivos e/ou materiais, sendo considerado seu respectivo custo energético – origem humana e/ou animal – na determinação dos valores empregados incialmente. A partir destes avanços graduais tornou-se possível moldar a estrutura social e econômica da nossa sociedade atual.
Entretanto, ao lado destas revoluções a relação existente entre homem–natureza tem sofrido constantes alterações. Assim, alguns termos foram criados a fim de descrever tais relações sob seus respectivos níveis de complexibilidade e atuação. No qual, temos o crescimento, desenvolvimento, sustentabilidade e, atualmente, a economia colaborativa. Tais termos diferem entre si e podem expressar, também, diferentes graus de responsabilidade existentes entre a nossa sociedade e a manutenção equilibrada dos recursos naturais.
Crescimento significa uma expansão na escala da economia que provavelmente não tem condições de se sustentar ecologicamente, ou seja, que extrair o máximo dos recursos sem uma eficiência mínima necessária, mesmo que por muitas vezes não seja possível. Já o Desenvolvimento implica em mudanças na estrutura econômica e social, neste momento há um estabelecimento de uma relação íntima entre a extração dos recursos e a responsabilidade do homem na manutenção equilibrada do abastecimento dos mesmos.
A Sustentabilidade faz parte de uma concepção em que a natureza é considerada através da busca de valoração econômica e, posteriormente, contabilização os serviços que a natureza nos oferece diariamente. De forma mais complexa, seguindo o processo evolutivo existente da nossa relação com o ambiente natural, a Sustentabilidade pode ser descrita como uma Sustentabilidade Fraca ou Forte. A Sustentabilidade Fraca permite a substituição do capital natural, recurso natural não renovável – petróleo, pelo capital manufaturado – recurso financeiro – com valor agregado e a Sustentabilidade Forte refere-se à conservação dos recursos e serviços, estes que devem ser analisados através de uma bateria de indicadores ambientais e físicos dos ambientes naturais em que deseja-se utilizar tais recursos.
De forma mais simples a Sustentabilidade seria, teoricamente, termos uma eficiência máxima na utilização dos recursos naturais e, assim, seria necessário a utilização de uma quantidade mínima de recursos para obter-se a mesma energia obtida no crescimento e desenvolvimento. No entanto, sabemos que tal relação não é possível, pois no processo de transformação e obtenção de energia uma fração de tudo que é produzido é perdido neste processo e outra parte é utilizada para as atividades de interesse e, também, a mesma pode ser explicada pelo Efeito de Jevons. Willian S. Jevons (1835 – 1882) observou que o aumento da eficiência da transformação de recursos naturais em energia gera um aumento do uso dos mesmos e não sua diminuição.
Assim não há uma forma da Sustentabilidade Forte, a mais interessante para redução do uso de recursos naturais, torna-se possível num mundo real – não idealizado. Portanto temos a existência de somente uma Sustentabilidade Fraca, que é demasiadamente desinteressante para a utilização racional dos recursos naturais.
Entretanto, devido as dificuldades na compreensão de tais termos a Sustentabilidade tem sido utilizada como uma metodologia de salvação do nosso planeta, mas nada mais é que uma forma de extrair os recursos naturais. Para que uma economia seja sustentável a produtividade energética do trabalho humano deve superar a eficiência da transformação da energia dos alimentos convertida em trabalho humano, esta relação é conhecida como Princípio de Podolinsky e, como o Efeito de Jevons, mostra mais uma vez a impossibilidade da aplicação deste conceito de Sustentabilidade Forte num mundo real.
Temos também a Economia Colaborativa, esta permite que o uso dos recursos naturais possam ser geridos pela existência de uma relação de pessoas–para–pessoas, ou seja, uma sociedade organizada que sabe das suas necessidades e responsabilidades perante os recursos naturais. Excluindo, assim, a necessidade de existência de grandes empresas e governos nas tomadas de decisões. Nesse conceito, que vem sendo empregado com sucesso em diversos segmentos, cada pessoa sabe do seu papel socioambiental e que ela pode contribuir com sua energia ou recursos financeiros.
Ao contrário das primeiras relações, que visam o acumulo de capital e seus recursos naturais, a Economia Colaborativa possui uma proposta de desmaterialização da economia. Ela trata que resolver os problemas do nosso mundo e a capacidade de agir em conjunto é mais importante que a busca incessante por recursos naturais para suprir a demanda do mercado atual.
Por fim, é notório que novos conceitos, mais avançados em relação à nossa relação com o ambiente natural, poderão surgir e substituir a Economia Colaborativa. Entretanto, esta pode ser considerada a mais eficaz na questão social e ambiental em tempos atuais. A partir a sua utilização, inicialmente e pequenas escalas, é possível notar o poder de uma sociedade organizada e como a mínima ajuda de muitos podem resultar em mudanças e melhorias significativas para toda uma sociedade.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA