Psicólogo hospitalar Gabriel Sathler fala sobre a campanha Setembro Amarelo e orienta: “Procurar ajuda profissional o mais rápido possível é o mais indicado”
CARATINGA – Este mês é marcado pela campanha Setembro Amarelo, que desde 2015 trabalha a conscientização e prevenção ao suicídio. O tema da campanha em 2020 é uma convocação para a ação contra o suicídio: “É preciso agir!”. De acordo com dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo. Calcula-se que, aproximadamente, um milhão de casos de mortes por suicídio são registrados por ano em todo o mundo. No Brasil, são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos. Para conversar sobre este tema convidamos o psicólogo hospitalar Gabriel Sathler que faz parte da equipe do Casu – Hospital Irmã Denise.
A campanha Setembro Amarelo de 2020 propõe o tema: É preciso agir! Qual a importância do agir na prevenção do suicídio?
Todos nós temos condições de expor essa causa de alguma forma. Seja nas redes sociais, compartilhando postagens; no nosso trabalho, utilizando adornos que direcionam a campanha e afixando cartazes; nas escolas, promovendo palestras e atividades; com a família e amigos necessitados, através de uma conversa que incentive a busca de ajuda profissional; enfim, cada um de nós têm suas limitações, mas podemos e precisamos agir de alguma maneira!
O “agir” nesse caso pode ser tanto da pessoa que se encontra em sofrimento, quanto das pessoas que estão a sua volta. Qual a melhor maneira de lidar com a situação estando em qualquer uma das situações?
Procurar ajuda profissional o mais rápido possível é o mais indicado. Mesmo não sendo possível procurar imediatamente um profissional da saúde mental, como psiquiatras e psicólogos, o médico ou profissional da saúde primária é apto para identificar e avaliar os riscos de suicídio, e em seguida encaminhar para profissionais e locais específicos para que o tratamento seja feito de forma completa.
Qual a relação do suicídio com as doenças mentais?
Transtornos já conhecidos na sociedade como depressão, ansiedade, abuso de álcool e drogas estão presentes na grande maioria dos casos de tentativa e realização de suicídio. Esses transtornos são conectados e agravados por fatores sociais, econômicos, de idade, gênero e às doenças não mentais, principalmente de doenças graves e não curáveis. Buscar tratamento profissional, por menor que seja o risco de suicido e por mais leves que sejam os sintomas, é uma das mais importantes maneiras de prevenção.
Acredita que a pandemia agravou, ou até mesmo provocou quadros depressivos e suicidas?
Sim. Este período de isolamento dificulta laços sociais importantes, que são benéficos e proporcionam apoio para prevenção do suicídio de muitas pessoas. De maneira oposta, o isolamento também estreita laços que são relacionados aos motivos para cometê-lo. Ao mesmo tempo, o acesso a profissionais e instituições das áreas específicas de saúde mental está sendo menos procurado, o que agrava ainda mais o problema. Isso destaca a importância da atenção primária de receber e encaminhar esses casos, e dos profissionais específicos se disporem de mais meios para estar recebendo esses encaminhamentos.
Quais os principais sinais e sintomas que indicam um comportamento suicida?
O principal que deve ser observado são tentativas anteriores de suicídio. Estima-se que 50% dos que efetivaram já tentaram anteriormente. Ao mesmo tempo, deve-se estar atento à fala, pois nela deve ser considerada todas as ideações e planejamentos, que precisam ser levadas a sério. Devemos nos atentar também sobre os transtornos mentais não diagnosticados, não tratados corretamente ou já em tratamento. Depressão, ansiedade, esquizofrenia, abusos de álcool e drogas, todos eles são fatores de riscos graves e que devem ser considerados em todo tempo.
Como profissional, o que recomendaria para alguém pensa em atentar contra a própria vida?
Gabriel: O quanto antes procure um profissional de saúde para que você seja ouvido e para que ouça que há tratamento para sua aflição, por maior que ela seja. Este tratamento será realizado de acordo com sua necessidade. As medicações e a psicoterapia são importantíssimas para organizar os pensamentos e emoções, compondo um tratamento completo que constrói uma base para tomar decisões e promover mudanças benéficas. Sabemos que é difícil, mas é agindo que damos a oportunidade de melhorar e aproveitar os motivos para viver.