O casal formado pelo José Ferreira de Assis e dona Antônia Timótea de Assis completou 70 anos de vida em comum
CARATINGA – O jeito com que um olha para o outro é o mesmo de há mais de sete décadas. O carinho é externado com olhares, palavras e gestos, afinal o marido até hoje leva café na cama para a esposa. José Ferreira de Assis, 90 anos, e Antônia Timótea de Assis, 87 anos, se conheceram em meados de 1944. O casamento aconteceu em 22 de fevereiro de 1945. Desta união nasceram 17 filhos, sendo onze estão vivos. A família hoje conta com 37 netos e 26 bisnetos. A festa pela data tão especial aconteceu no mês de julho. Eles aproveitaram o período de férias escolares para que toda a família pudesse vir até a região de Sapucaia, zona rural de Caratinga, para assistir um culto celebrado em ação de graças. Para senhor José e dona Antônia não existe uma receita para um casamento feliz e duradouro, basta apenas seguir os princípios cristãos.
O NAMORO
A união de senhor José e dona Antônia é um típico caso de amor a primeira vista. Eles se conheceram em um culto da Assembleia de Deus. “Aceitei a Jesus aos 13 anos e nunca fui para outra igreja. E como eu ia a festas religiosas, acabamos nos conhecendo dentro de uma igreja”, disse senhor José, sinalizando que o encontro em um templo religioso foi o prenúncio que a união seria abençoada.
Próxima etapa foi pedir a mão de Antônia em casamento. Para isso, senhor José recorreu a um pastor. Ele recorda nitidamente que pediu essa ajuda quando voltava de uma festa religiosa acontecida no Córrego do Lage. “Após a festa, fui até a casa de Antônia. Tinha um pastor, o Geraldo. Este pastor era muito amigo de nossas famílias. Então eu falei assim: ‘pastor, eu fui à casa dos Pereira, tem uma moça muito bonita lá. Pergunta se por acaso eu serei aceito se revolver pedi-la em casamento’. O pastor me respondeu: ‘José não precisa perguntar, você pode ficar tranquilo’. Mas eu respondi, ‘mas eles não me conhecem’. O pastor retrucou, ‘mas eu conheço você e a toda sua família’”, rememora senhor José.
Segundo o senhor José, o primeiro contato com o futuro sogro foi muito amigável. “O meu sogro, senhor Sebastião Pereira, me tratou com todo o respeito, como se eu fosse uma pessoa de idade. E de imediato ele me falou: Zé, foi aceito o negócio que você mandou falar comigo”, relembra.
José era um rapaz trabalhador. E em virtude de seu trabalho passava até 20 dias sem ver a sua amada. “Eu trabalhava para o meu pai, fazia o serviço de tocar boi, cuidava do engenho e da fábrica de rapadura. Era muito ocupado”, conta.
Mas além da ocupação, não podemos nos esquecer de que essa é uma história passada em 1944. Se hoje existem veículos a profusão, além de telefones e redes sociais que facilitam a comunicação, porém aqueles eram outros tempos. Senhor José tinha andar a pé ou a cavalo por 25 quilômetros para ver dona Antônia. E quando chegava o sogro Sebastião Pereira se postava entre o casal de namorados. “Meu sogro acompanhada tudo de perto. Tinha o dia certo para ver a namorada, não era como esses namoradores de hoje que se encontram quase todos os dias”, compara.
Após seis meses de namoro, o ‘sim’ foi dito em 22 de fevereiro de 1945.
VIDA EM COMUM
Após o casamento, senhor José e dona Antônia foram morar no Córrego Feijoal, zona rural de Bom Jesus do Galho. A rotina do casal se dividiu entre os afazeres da casa, da lavoura e os cultos aos domingos. “A igreja ficava a dois quilômetros de nossa casa. E íamos todos os domingos. A Antônia grávida e eu levando até dois meninos nos meus braços”, lembra sorrindo senhor José.
A relação do casal sempre foi de cumplicidade, mas cada um desempenhando o seu papel diante dos filhos. Ciúmes é algo que nunca existiu; para senhor José e dona Antônia, “onde há amor e confiança não existe ciúme”.
RECEITA PARA UM CASAMENTO FELIZ
Com tantos anos de casados, a quantidade de separações nos dias de hoje é algo que preocupa o casal. Os idosos não aceitam essa situação gerada pelos ‘tempos modernos’. “Os jovens de hoje parecem não querer compromisso. Tem muito desquite. Tanto eu quanto Antônia não concordamos com esse negócio de separação. O casal tem que tentarsuperar os problemas e será abençoado por Deus. Hoje as pessoas se separam e se casam de novo. Não concordo com isso. Eu creio que Deus só casa uma vez, não tem esse negócio de fazer e desfazer”, protesta senhor José.
Eles não têm uma receita para o casamento feliz, dizem que é só cumprir a palavra de Deus. “É importante ler a Bíblia, orar e seguir os ensinamentos Dele. Hoje vejo que falta a cultura espiritual nas pessoas. Até digo que já tive fracasso na vida espiritual, mas o Espírito Santo falou comigo, me reergui e voltei para a igreja. Mas a Antônia nunca saiu da igreja. Hoje vejo que falta diálogo entre os casais, existe intriga. Diferente de nós, já que a Antônia é uma companheira e sempre me ajuda”, disse senhor José enaltecendo uma das qualidades de sua esposa.
E mais uma vez senhor José demonstrada toda a sua fé. “Tem que orar e pedir a Deus que Ele vai abençoar. Mas infelizmente desquites acontecem. Mas precisamos ter paciência como conhecedores da palavra de Deus. Por isso estamos com esses 70 anos de casados. Estamos vivendo uma vida muito boa”, atesta senhor José.
Dona Antônia ouve toda a conversa. Ela é sucinta na hora de relatar o comportamento do marido. “Ele é uma pessoa muito agradável e carinhosa. Arruma a cama melhor do que eu e até hoje me traz café na cama. Não existe pessoa mais atenciosa do que ele”, elogia dona Antônia ao final da entrevista.
A união de senhor José com dona Antônia sempre foi de observância aos valores cristãos. Um casamento pautado por amor e respeito só podia resultar num conto de fadas: E foram felizes para sempre.