Algumas pessoas se eternizam nas memórias de outras. Em muitos casos fazem parte da memória e do imaginário coletivo. Os motivos são variados e independem se são por recordações ou ações positivas e/ou negativas. Como exemplo, cito dois personagens mundialmente reconhecidos: o primeiro, Chico Xavier, um homem que jamais será esquecido pela sua forma ímpar de ser e viver a vida; e o segundo, no outro extremo, Judas, considerado um grande traidor.
De modo particular, na história política de Caratinga, um nome se insere nesse perfil; o do prefeito Anselmo Bonifácio, mais conhecido como Dr. Fabinho. Uma figura lendária, e porque não dizer folclórica e teatral. Para corroborar que essa adjetivação muitos o comparavam com o famoso personagem “Zeca Diabo”, interpretado pelo saudoso Lima Duarte, na novela “O Bem Amado”, que foi transmitida pela TV Globo em 1973.
Anselmo Bonifácio (Dr. Fabinho) é natural de Manhumirim. Filho adotivo de Josefina Dorotéia Nunes, conhecida como “Dona Leleca” e que pertencia a uma família tradicional de políticos daquela localidade. Talvez daí tenha se desenvolvido seu gosto pela política.
Ainda em Manhumirim, trabalhou como balconista na extinta Casas Pernambucanas e foi professor de matemática, ciências e geografia no Colégio Pio XI. Graduou-se em Engenharia Agrícola na Universidade Federal de Viçosa em 1954. No período da sua formação universitária trabalhou como professor no colégio Estadual de Viçosa, lecionado química, biologia, matemática, geografia e ciências naturais. Participou também como membro ativo da União Estadual do Estudantes, em Belo Horizonte e posteriormente no Rio de Janeiro, atual na UNE (União Nacional dos Estudantes).
Já sua vinda para Caratinga está associada à sua carreira profissional. Pois Dr. Fabinho, foi nomeado pela Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, vindo anos depois trabalhar no Instituto Brasileiro do Café (IBC) em Caratinga, que funcionou próximo ao Parque de Exposições João da Costa Mafra.
Sua trajetória política não teve início na cidade das palmeiras, mas sim em Manhumirim. Inicialmente, filiou-se ao PSD (Partido Social Democrático), e exerceu a função de secretário geral do partido. Em 1966, já filiado do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que depois se tornaria PMDB, no ano de 1980 e voltaria e ser MDB, em 2107, candidatou-se ao cargo de prefeito, mas não obteve sucesso nas urnas, todavia, caso tivesse sido eleito, provavelmente não seria empossado, pois estava com os seus direitos políticos suspensos no período; ou começaria um processo judicial para tal finalidade. Coisas que acontecem até hoje na política brasileira.
Em Caratinga, Dr. Fabinho participou da vitoriosa campanha de 1982, sendo empossado no dia 01 de janeiro de 1983. Seu mandato durou até o ano de 1988. Sua gestão foi marcada por episódios inusitados e bastante peculiares, deixando sua marca na administração. Como exemplo, destaco a primeira medida tomada em sua posse: a prefeitura ficaria fechada por 30 dias, para que, segundo ele, a casa fosse colocada em ordem e fosse reorganizada a forma de administrar.
Algumas outras características do período da sua gestão foram: um programa de rádio, denominado “A voz do Fabinho”; suas obras eram todas numeradas, os números aparecem nas placas onde a obra era inaugurada; as festas, Dr. Fabinho ficou reconhecido como o prefeito das festas. A mais tradicionais aconteciam no parque de exposições ou na Praça da Estação, durante as comemorações do aniversário da cidade, e sempre era queimada uma grande fogueira em homenagem a São João; o projeto da instalação da COPASA na cidade; e a emancipação de vários distritos, entre eles, as cidades de: Ipaba, Imbé, Santa Rita de Minas, Santa Bárbara do Leste, Ubaporanga e Vargem Alegre.
Assim era o Dr. Fabinho, homem de voz grave, jeito único de se vestir, portava um revolve na cintura, adora festas, foguetes, comemorações, estereótipo de coronel, polêmico, mas que quando chegava, em qualquer que fosse o lugar, todos sabiam, acaba de chegar, Dr. Fabinho!
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor