Kant comenta estreia no cinema com filme produzido em Caratinga
CARATINGA- O rapper Kant, conhecido na música pela “Batalha da Aldeia” e por sua atuação na série de sucesso “Sintonia”, da Netflix está em Caratinga para dar um novo passo em sua carreira artística: a gravação de seu primeiro filme, “Tudo que é Sólido”. No longa, Kant interpreta Paulista, um personagem que carrega dentro de si uma revolta muito grande contra a sociedade.
Durante entrevista ao DIÁRIO DE CARATINGA, ele compartilhou detalhes sobre essa experiência cinematográfica, sua conexão com a arte e o impacto transformador que ela exerce em sua vida e na sociedade. Entre bastidores, sonhos realizados e planos futuros, Kant nos leva a uma reflexão sobre a força da arte e o poder das narrativas que ela constrói.
Kant, você está em Caratinga para gravar seu primeiro filme, “Tudo que é Sólido”, que você interpretará o personagem Paulista. Como está sendo essa experiência nesse projeto e um spoiler sobre seu personagem?
Está sendo uma experiência maravilhosa. O meu primeiro filme, só gravei série até agora. Mas, escrevo muito roteiro. Eu queria atuar muito antes de eu querer fazer música. Então é algo que eu já trouxe desde a infância. Eu adoro filmes. Sou fascinado pelos ângulos, o roteiro, a personificação de cada personagem e tudo mais. Então quando surgiu a ideia do filme, eu adorei, antes mesmo de qualquer negociação, a gente já estava no filme. E agora está vivenciando, conhecendo os outros personagens também de perto. Está sendo fantástico. E o Paulista, ele é um personagem que ele costuma “dar Pelé” em todo mundo. Ele é muito ligeiro. Por outro lado, muito violento também. E aí o desenrolar desse personagem só no filme.
Essa é a primeira grande produção em Caratinga, uma cidade do interior. Como está sendo o contato com toda equipe envolvida no filme e o público?
A equipe é maravilhosa. Desde o primeiro contato estamos sendo muito bem tratados, o carinho da cidade também é fantástico, todo lugar que a gente vai a galera sabe, comenta. Fui treinar na academia aqui perto, a galera, todo mundo dava uma olhada assim, mas esperou eu terminar o treino, aí depois que terminou, todo mundo veio conversar comigo. Você vê que é um carinho muito grande, assim, é uma admiração da galera bem interessante, né? Que normalmente por onde a gente mora acaba passando um pouco batido às vezes, né? Tem muitos eventos, muitas produções, etc. A galera tá um pouco acostumada lá e aí a gente veio pra cá pela primeira vez e tá sendo uma experiência pelo menos pra mim, assim muito gratificante. O tratamento da equipe todo mundo, que não é só quem grava ou só quem tá atuando, mas tem uma big equipe por trás, que cuida do figurino, maquiagem, dos lugares que vai gravar, enfim, da câmera até, assim, o mínimo que você pense é muito importante. Ainda é muito importante para acontecer tudo isso. Então, estou me sentindo em casa. Parece que eu moro aqui.
A sua carreira na música tem uma forte conexão com a realidade da periferia. O filme também aborda questões sociais e de classe. De que maneira você acredita que a arte, seja no rap ou no cinema, pode contribuir para o debate sobre essas questões?
Vou falar de forma geral, mas, principalmente de mim. A arte salvou minha vida. Cresci num bairro muito carente, de arte inclusive, de tudo isso E, normalmente, onde há carência de coisas como arte, por exemplo, sobra em outras questões que acabam aparecendo mais fácil no começo da vida ali. Você vê que o cara que tem dinheiro no seu bairro normalmente não é o que tá acordando ali 5 horas da manhã. Normalmente esse cara ele não tem. Então você quer seguir por outros caminhos que quando você tá crescendo você não entende direito. Isso era bem presente onde eu morava, bem presente na região. E é presente em várias regiões hoje, que inclusive tocam nossa música, aparecem nossos vídeos e por experiência própria, a arte me salvou. A arte me tirou disso, a arte me trouxe muito respeito para com os outros e dos outros para comigo, a questão de saber se portar e saber que mesmo você estando vindo de um lugar carente, se você busca informação, isso te coloca um passo à frente. A arte me ensinou muito. E ensina muito em todas as áreas, através disso. Respeito, principalmente. Ensina também muito sobre questão racial, que é coisa que normalmente a gente só vê acontecendo, mas dentro do bairro ninguém te para e fala não é assim que funciona, não é assim que as coisas são. Não te fala o porquê isso é errado ou porquê que isso é certo. Dentro da arte a gente encontra tudo isso e, principalmente, a valorização dos seus sonhos que vão morrendo muito desde cedo. Quando você encontra a arte, parece que aquilo renasce em você de uma forma muito mais clara. Você acreditar não só na música, às vezes até aquele jogador também ou pintor, enfim, seja lá o ramo que você queira seguir da arte, te faz acreditar e te mostra de forma mais clara que aquilo é possível.
Ao atuar em “Sintonia”, você se aproximou de um novo público. Como tem sido a resposta das pessoas ao seu trabalho de ator, além da sua carreira como rapper?
Desde que gravei “Sintonia” tá muito diferente, porque o pessoal que acompanha a série, não necessariamente acompanha a música. Então, quando lançou a série, eu me recordo, da primeira temporada que eu participei, da noite pro dia eu indo em algum restaurante ou em alguma padaria que seja e o pessoal me chamando pelo nome da série e não pelo meu nome musical. Então, muitas pessoas passaram a me conhecer e pensam que eu nasci como ator e não como músico. E é totalmente o contrário. Eu já tenho mais de 10 anos cantando e, enfim, fazendo outros trabalhos. E a recepção foi tão calorosa que eu, sei lá, eu me enxergo nisso. Eu quero atuar mais, eu quero fazer mais trabalho. Estar fazendo esse filme é a realização de um sonho. Sem brincadeira, estou adorando. Estou muito ansioso porque tem dois anos que a gente está tratando isso e roteiro e negociação e onde vai ser e como. E agora estar aqui, cada cena que eu vou gravar é uma ansiedade gigantesca e uma felicidade muito grande também.
Então, podemos esperar mais trabalhos nesse campo da atuação?
Com certeza. Quero aprender mais. Ainda é muito recente para mim, ainda tem muitas coisas que eu estou aprendendo, inclusive com o elenco, que é maravilhoso, extremamente profissional. Venho aprendendo muito. Sou bastante observador, então venho aprendendo muita coisa e eu quero aplicar nos próximos trabalhos que eu for fazer, inclusive nesse cenário.
- “A arte salvou minha vida”, disse Kant