Rayane Carvalho relembra momentos tensos após ficar horas perdida em estrada e fala sobre o alívio do reencontro com a família
CARATINGA- As buscas por Pedro Viana Azevedo, 84 anos e Rayane Carvalho Vasconcelos de Azevedo, 24 anos; avô e neta, repercutiram na cidade. Eles estavam desaparecidos desde a tarde deste domingo (27), quando saíram de uma festa de família na Fazenda Água Santa no Córrego Pouso Alto- Vargem Alegre, por voltas das 15h. A angústia da família persistiu até a manhã de ontem, quando eles foram localizados em segurança.
O DIÁRIO DE CARATINGA esteve na casa da família para saber os detalhes desta história e a emoção do reencontro entre mãe e filha.
O PESADELO
Conforme Rayane, quando saíram da festa, por volta de 15h, começava a chover e eles até chegaram a pensar em ir depois, mas decidiram ir no horário planejado. “Saímos, do sítio até Caratinga são cerca de cinco quilômetros de estrada de chão, se eu não me engano, para pegar a estrada normal. Nós passamos por uma casinha, tipo uma fazendinha e parece que o nosso erro foi ali, porque ao invés de virar à direita parece que a gente virou à esquerda. Havia um tio nos guiando, mas a gente acabou se perdendo de todo mundo”.
A jovem se recorda que o avô seguiu conduzindo o veículo, no entanto chovia bastante. Eles perceberam que haviam errado o caminho, mas não conseguiram retomar a estrada correta. “Fomos subindo achando que o caminho ia dar na estrada, porque na vinda nós também erramos o caminho, então a gente imaginou que seria o caminho mais curto. Quando já estávamos próximo das antenas da Cemig, porque a única referência que eu tenho era isso, logo que passou na frente percebemos que estava errado, mas bem na frente tinha um mata boi, que é tipo uma estradinha de madeira. Meu avô foi passar com o carro e o carro acabou entrando a rodinha no lugar onde não tinha mais madeira. Não tinha como puxar, porque a gente não tinha força suficiente. Não tinha como ligar, meu celular ainda tinha bateria na hora e eu tentei para várias pessoas, mas não tinha sinal, então a chamada não completava”.
Nesse momento, tiveram início os momentos tensos enfrentados por avô e neta. Eles buscavam ajuda, mas, apesar dos esforços, não conseguiram encontrar ninguém. “Começamos a andar e no local onde a gente ficou parado dava para pra subir, era sentido Inhapim se a gente terminasse de subir ou dava pra voltar, que a gente voltava para Vargem Alegre. Mas, na verdade a gente nem sabia isso, estávamos perdidos, fomos descobrir isso depois. Subi muito, meu avô foi um pedaço comigo, depois ele até parou e eu fui sozinha. Como não tinha mais como ligar, a alternativa que a gente tinha era ir atrás mesmo das pessoas. Ficamos mais ou menos de umas 15h30 até ficar escuro andando, muitos quilômetros e não tinha ninguém. Eu gritava, andava, não tinha casa, tudo abandonada as casas, era igual filme de terror. Não tinha carro, você nem ouvia barulho de carro; descemos, voltamos o caminho, não achamos ninguém, subimos de novo. Quando eu subi eu olhei para o horizonte e vi que só tinha muito morro e terra, vi que não faria sentido continuar andando, porque estava de noite, ia acabar me perdendo, seria pior. Voltei para o carro e nós decidimos esperar por socorro ou pelo menos amanhecer para poder voltar a procurar ajuda”.
Rayane afirma que a noite foi marcada pelo medo. “Orando, porque o medo maior era aparecer alguém, um assaltante, alguém que fizesse alguma maldade conosco. E graças a Deus a noite passou, com muita angústia, nós ficamos numa noite pesada, muito choro e desespero”.
Quando amanheceu, avô e neta já “contavam os segundos” para serem localizados. “O meu avô estava de olho no relógio e aí 6h10 já saímos para procurar ajuda. Meu avô tem 84 anos, ele andou cerca de três quilômetros até a gente encontrar a primeira pessoa, que foi muita gente boa. Foram dois moços que estavam trabalhando construindo uma estrada, estavam num trator vizinho, de longe eu escutei o barulho e fiquei doida. Graças a Deus, comecei a correr e falei para o meu avô me esperar que eu ia lá na frente. Contei para eles o que tinha acontecido, na hora se disponibilizaram em ajudar, pegaram o trator, fomos com eles. Fez tudo, entrou debaixo do carro, amarrou a corda do cabo de aço, puxou, auxiliou meu avô a virar o carro, explicou o caminho onde a gente iria voltar”.
Quando finalmente conseguiram chegar à estrada principal, Rayane percebeu a dimensão que o desaparecimento havia ganhado na cidade. Muitas pessoas lhes abordaram, afirmando que todos estavam à procura deles. “Eu já tava, desorientada, porque eu sabia que estava todo mundo preocupado. Eu saí de lá mandei uma mensagem pra minha mãe, daqui uma hora eu estou aí. E foi dando meia-noite e cadê a Rayane. Já imaginei que ia estar todo mundo desesperado, mas não a cidade inteira sabendo. Quando entramos na rodovia, vem um moço de moto, buzinou, falando que estava todo mundo procurando. Emprestou o celular dele para eu ligar pra minha mãe”.
Passado o susto, Rayane ainda consegue abrir um sorriso de alívio e deixar uma mensagem de gratidão. “Passamos muito aperto, demos um susto em todo mundo. Deus cuidou, porque nós o tempo inteiro pegamos firme, orando. Eu estou um pouco traumatizada, um pouco abalada também, mas um sentimento de gratidão tremendo, de vida nova porque a todo momento o meu medo não era não conseguir voltar pra cá, pois eu sabia que conseguir voltar para Caratinga eu ia conseguir, nem que fosse em três dias de caminhada. Meu medo era alguém roubar, fazer maldade, mexer com a gente, no meu corpo. Nada disso ter acontecido é um sentimento de que bom que aconteceu isso. Que bom que eu estou bem. Que bom que eu estou viva”.
O REENCONTRO
Patrícia Carvalho, mãe de Rayane, declara que viveu momentos difíceis naquele domingo, ao perceber que a filha não dava mais notícias. “Ela mandou a mensagem na hora do almoço falando que 15h estava voltando. E aí 17h eu já fiquei preocupada, mas como eu sou muito preocupada, eu falei: ‘Para que cê tá doida, deixa mais um pouquinho’. Deu 17h30, 18h e nada. Eu mandei mensagem para a prima dela que estava com ela no sítio, que disse que ela saiu já tinha muito tempo e não tinha mais ninguém lá. Ela falou que era meia hora para chegar, então já pensei que aconteceu alguma coisa. Já desci, fui na casa do meu ex-sogro procurar ela, pedir socorro porque ninguém tinha notícia do seu Pedro. Ligava, o número não atendia, dava fora de área os dois”.
Diante da falta de informações sobre o paradeiro deles, Patrícia decidiu ir até as imediações e realizar as buscas. “Fui para lá procurar, já tinha o pessoal da família dela lá procurando e fomos para o meio do mato, rodamos a madrugada inteira procurando, acionamos a polícia, mas eles não vão atrás em busca. Só se for um caso de uma denúncia, que aconteceu alguma coisa. Então foi a gente mesmo. Hoje (ontem) de manhãzinha fui direto para a delegacia, mas o delegado só chegava 8h30. Entrei em contato com a amiga nossa, a delegada Nayara, me deu um suporte, me ajudou muito e o Márcio detetive, muita gratidão a ele porque ele viu uma mensagem no Instagram que eu tinha postado e se ofereceu. Falou que eles não estavam trabalhando, porque era feriado deles, mas ele foi. E minhas amigas, fizemos um mutirão, foi todo mundo pra lá e cada uma para um canto procurando”.
Por volta de 9h, a angústia teve fim. Pedro e Rayane foram localizados. Emocionada, Patrícia fez questão de agradecer ao apoio que recebeu. “Graças a Deus essa menina apareceu. Sou grata a Deus pelas orações, porque o que eu passei não desejo a ninguém (lágrimas). Foram momentos muito difíceis de acreditar que ela estava bem e que iria dar tudo certo. Então, eu creio que fiquei muito forte, até espantei a força que eu tive, mas ac acredito que essa força que eu tive foi do clamor das pessoas as orações. Muita gente me mandou mensagem, pastores, amigos. Gratidão, muito obrigada por tudo”.
Sobre o reencontro entre mãe e filha, Patrícia mostra o lado sublime do amor materno e o desejo de proteção, após o pesadelo ter fim. “A vontade é pegar ela, colocar numa caixinha e guardar. Falar agora, você não sai mais. Fica aqui. Foi bom demais. Não tem explicação”, finaliza.