Eugênio Maria Gomes
A primeira década do Século XXI foi marcada por uma surpreendente ascensão de políticos e de partidos de esquerda, mundo afora. Lula da Silva, no Brasil; Michelle Bachelet, no Chile; o casal Kirchner, na Argentina; Evo Morales, e tantos outros, na América Latina e, também, na Europa. Mas, foi em 2009, já no final da primeira década do novo milênio, com a escolha de Barack Obama como o 44º Presidente dos Estados Unidos da América, que o mundo viu a maior democracia liberal do mundo empossar um presidente afro-descendente, mais pacifista, preocupado com as questões sociais e a crescente desigualdade que assola aquele país, comprometido com a preservação do meio ambiente e defensor da igualdade de gênero, de etnia e de crença. Não que Obama seja propriamente de Esquerda, mas é o máximo à esquerda que um político tradicional americano conseguiu chegar.
A origem do dualismo Esquerda/Direita remonta às posições dos assentos que os membros da Assembleia Nacional Francesa ocupavam naquela Casa Legislativa. Os partidários do rei sentavam-se à direita do presidente, enquanto os simpatizantes da revolução sentavam-se à sua esquerda. Mais tarde, em 1791, quando a Assembleia Nacional foi substituída por uma Assembleia Legislativa, composta inteiramente por novos membros, as divisões continuaram. Os “Inovadores” sentavam-se do lado esquerdo, os “moderados” no centro e os “defensores da consciência da Constituição” à direita. Com o passar dos anos, porém, várias nuances foram aparecendo a partir dessa divisão inicial, atais como “centro-direita”, “centro-esquerda” e “extrema-esquerda”, dentre outras nomenclaturas.
No mundo atual, no entanto, é muito difícil enquadrar partidos e políticos nesses conceitos um tanto quanto estáticos e reducionistas. De modo geral, costumamos identificar a Esquerda como o viés político mais comprometido com a igualdade material, com as políticas sociais, com o internacionalismo, com o meio ambiente e com as liberdades civis. Nessa linha, podemos enquadrar o Partido Democrata de Obama. O partido adota uma linha política de centro-esquerda, com uma plataforma voltada para o liberalismo social, defendendo políticas de economia mista e justiça social. Defende a igualdade social e econômica, junto com o chamado “estado de bem-estar social”, mas, tudo isso, dentro do conceito de Capitalismo, Liberdade de Imprensa, Propriedade Privada e Pluralismo Político, verdadeiros dogmas da política norte-americana.
Obama não conseguiu fazer tudo o que prometeu, tampouco o que gostaria de ter feito. Numa democracia verdadeira, um Presidente tem poderes limitados. Contudo, avançou em muitas questões e com certeza deixará o governo e o país em melhores condições do que recebeu de seu antecessor.
O que aconteceu, então, para a derrocada dos ideais mais “esquerdistas”, tanto na América latina, como agora, com a eleição de Donald Trump? Sem dúvida, esse será um tema amplamente debatido pelos cientistas políticos e sociólogos durante vários anos. Trump representa o que de pior pode haver no estereótipo americano. É arrogante, agressivo, belicista, machista, excessivamente competitivo, descompromissado com as causas ambientais, xenófobo, protecionista, enfim, a lista de seus “atributos” é bastante longa. Trump não é apenas um político de Direita ou um mero Conservador bem intencionado. Ele é reacionário e é comprometido com valores e ideias extremamente perigosas, não só para o povo americano, mas diante do poderio econômico-militar daquele país, também o é para todo o mundo. Se ele não for contido pelas amarras democráticas existentes naquele país, todos nós correremos perigo doravante.
Por certo, muito do que foi dito em seus discursos midiáticos não se concretizará, a exemplo do malfadado muro com o México – uma proposta inviável em todos os sentidos – ou, ainda, a perseguição desenfreada aos imigrantes, que certamente seria rejeitada pelo sistema judiciário norte-americano. No entanto, o que mais assusta é que as ideias de Trump encontraram ressonância, ganharam votos, venceram uma eleição em um grande país.
Como explicar que, num Mundo marcado pela desigualdade, pela fome, pelas guerras, pelas doenças – imensas tragédias humanas que nos assolam diariamente -, ainda existam pessoas querendo construir Muros ao invés de construir Pontes?
Como explicar que, num Mundo marcado pela desigualdade entre homens e mulheres, onde mulheres ainda são apedrejadas em praça pública, são proibidas de votar, de trabalhar e até de circular pelas ruas desacompanhadas de um parente do sexo masculino, que são coletivamente estupradas numa macabra “cerimônia” da loucura humana, ainda existam pessoas que aprovam um discurso sexista e que desrespeita a igualdade natural que deve haver entre todos os seres humanos?
Como explicar que, num mundo marcado pela morte de milhares de pessoas na tentativa de escapar da guerra, da fome e da perseguição política ou religiosa de que padecem em seus países, um discurso xenófobo, que criminaliza o refugiado e que humilha e denigre o imigrante obtenha tanta ressonância eleitoral? Como explicar a negativa consciente ao próximo do mais elementar dos direitos, qual seja, o direito de tentar sobreviver?
São muitas as perguntas, e com certeza, nem mesmo Donald Trump saberia respondê-las. A única resposta que desponta nesses tempos de loucura é que viveremos anos muito difíceis. Nós, os brasileiros, já tão cheios de problemas, doravante teremos que dar mais atenção ao que se passa acima da linha do Equador.
A escolha de Trump é prova de que a Democracia, às vezes, tem seus tropeços. No entanto, a Democracia, mesmo com seus tropeços, ainda é o melhor dos sistemas políticos, porque graças à temporariedade dos cargos, “… Não há mal que dure para sempre!’”.
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNE
DIREITA, VOLVER!
- Eugênio Maria Gomes
A primeira década do Século XXI foi marcada por uma surpreendente ascensão de políticos e de partidos de esquerda, mundo afora. Lula da Silva, no Brasil; Michelle Bachelet, no Chile; o casal Kirchner, na Argentina; Evo Morales, e tantos outros, na América Latina e, também, na Europa. Mas, foi em 2009, já no final da primeira década do novo milênio, com a escolha de Barack Obama como o 44º Presidente dos Estados Unidos da América, que o mundo viu a maior democracia liberal do mundo empossar um presidente afro-descendente, mais pacifista, preocupado com as questões sociais e a crescente desigualdade que assola aquele país, comprometido com a preservação do meio ambiente e defensor da igualdade de gênero, de etnia e de crença. Não que Obama seja propriamente de Esquerda, mas é o máximo à esquerda que um político tradicional americano conseguiu chegar.
A origem do dualismo Esquerda/Direita remonta às posições dos assentos que os membros da Assembleia Nacional Francesa ocupavam naquela Casa Legislativa. Os partidários do rei sentavam-se à direita do presidente, enquanto os simpatizantes da revolução sentavam-se à sua esquerda. Mais tarde, em 1791, quando a Assembleia Nacional foi substituída por uma Assembleia Legislativa, composta inteiramente por novos membros, as divisões continuaram. Os “Inovadores” sentavam-se do lado esquerdo, os “moderados” no centro e os “defensores da consciência da Constituição” à direita. Com o passar dos anos, porém, várias nuances foram aparecendo a partir dessa divisão inicial, atais como “centro-direita”, “centro-esquerda” e “extrema-esquerda”, dentre outras nomenclaturas.
No mundo atual, no entanto, é muito difícil enquadrar partidos e políticos nesses conceitos um tanto quanto estáticos e reducionistas. De modo geral, costumamos identificar a Esquerda como o viés político mais comprometido com a igualdade material, com as políticas sociais, com o internacionalismo, com o meio ambiente e com as liberdades civis. Nessa linha, podemos enquadrar o Partido Democrata de Obama. O partido adota uma linha política de centro-esquerda, com uma plataforma voltada para o liberalismo social, defendendo políticas de economia mista e justiça social. Defende a igualdade social e econômica, junto com o chamado “estado de bem-estar social”, mas, tudo isso, dentro do conceito de Capitalismo, Liberdade de Imprensa, Propriedade Privada e Pluralismo Político, verdadeiros dogmas da política norte-americana.
Obama não conseguiu fazer tudo o que prometeu, tampouco o que gostaria de ter feito. Numa democracia verdadeira, um Presidente tem poderes limitados. Contudo, avançou em muitas questões e com certeza deixará o governo e o país em melhores condições do que recebeu de seu antecessor.
O que aconteceu, então, para a derrocada dos ideais mais “esquerdistas”, tanto na América latina, como agora, com a eleição de Donald Trump? Sem dúvida, esse será um tema amplamente debatido pelos cientistas políticos e sociólogos durante vários anos. Trump representa o que de pior pode haver no estereótipo americano. É arrogante, agressivo, belicista, machista, excessivamente competitivo, descompromissado com as causas ambientais, xenófobo, protecionista, enfim, a lista de seus “atributos” é bastante longa. Trump não é apenas um político de Direita ou um mero Conservador bem intencionado. Ele é reacionário e é comprometido com valores e ideias extremamente perigosas, não só para o povo americano, mas diante do poderio econômico-militar daquele país, também o é para todo o mundo. Se ele não for contido pelas amarras democráticas existentes naquele país, todos nós correremos perigo doravante.
Por certo, muito do que foi dito em seus discursos midiáticos não se concretizará, a exemplo do malfadado muro com o México – uma proposta inviável em todos os sentidos – ou, ainda, a perseguição desenfreada aos imigrantes, que certamente seria rejeitada pelo sistema judiciário norte-americano. No entanto, o que mais assusta é que as ideias de Trump encontraram ressonância, ganharam votos, venceram uma eleição em um grande país.
Como explicar que, num Mundo marcado pela desigualdade, pela fome, pelas guerras, pelas doenças – imensas tragédias humanas que nos assolam diariamente -, ainda existam pessoas querendo construir Muros ao invés de construir Pontes?
Como explicar que, num Mundo marcado pela desigualdade entre homens e mulheres, onde mulheres ainda são apedrejadas em praça pública, são proibidas de votar, de trabalhar e até de circular pelas ruas desacompanhadas de um parente do sexo masculino, que são coletivamente estupradas numa macabra “cerimônia” da loucura humana, ainda existam pessoas que aprovam um discurso sexista e que desrespeita a igualdade natural que deve haver entre todos os seres humanos?
Como explicar que, num mundo marcado pela morte de milhares de pessoas na tentativa de escapar da guerra, da fome e da perseguição política ou religiosa de que padecem em seus países, um discurso xenófobo, que criminaliza o refugiado e que humilha e denigre o imigrante obtenha tanta ressonância eleitoral? Como explicar a negativa consciente ao próximo do mais elementar dos direitos, qual seja, o direito de tentar sobreviver?
São muitas as perguntas, e com certeza, nem mesmo Donald Trump saberia respondê-las. A única resposta que desponta nesses tempos de loucura é que viveremos anos muito difíceis. Nós, os brasileiros, já tão cheios de problemas, doravante teremos que dar mais atenção ao que se passa acima da linha do Equador.
A escolha de Trump é prova de que a Democracia, às vezes, tem seus tropeços. No entanto, a Democracia, mesmo com seus tropeços, ainda é o melhor dos sistemas políticos, porque graças à temporariedade dos cargos, “… Não há mal que dure para sempre!’”.
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNEC TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.
C TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.