Pronunciamento do bispo e moção de repúdio assinada pelas pastorais sociais
DA REDAÇÃO- A Diocese de Caratinga presta solidariedade aos familiares da tragédia ocorrida em Brumadinho na última sexta-feira (25), com o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério. O primeiro a se pronunciar foi o bispo, que encaminhou e-mail direcionado ao arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Dom Emanuel Messias de Oliveira disse que acompanhou “horrorizado” às notícias sobre o trágico acidente e que a Diocese de Caratinga se solidariza com a Arquidiocese de Belo Horizonte. O bispo também declarou que “endossa todas as palavras de dom Walmor”, referindo-se à mensagem escrita por ele sobre o acidente.
No texto, dom Emanuel frisou que a prepotência e a insensibilidade causam dor no coração das pessoas. “Nosso coração dói com a prepotência e insensibilidade das grandes mineradoras que destroem o nosso meio ambiente, ceifam vidas e mais vidas por causa da ganância do lucro, curvando-se diante do insaciável deus mercado, ignorando por completo a dignidade do ser humano. Davi venceu Golias com a força de Deus. Vamos unir forças e alimentar nossa esperança no Deus da vida”, disse dom Emanuel.
Dom Emanuel lembrou episódio semelhante, ocorrido em Mariana, em 2015. “Três anos se passaram da tragédia de Bento Rodrigues. A Samarco não fez nada. Nem moradias para os atingidos. Agora, de novo, para horror dos que acompanharam e terror dos atingidos, a mesma Vale provoca nova tragédia. Essa é pior”, disse dom Emanuel. O bispo ainda enfatizou que a primeira foi a maior catástrofe ambiental de todos os tempos no Brasil, deixando um “prejuízo incalculável” na fauna, na flora e na saúde de quem está utilizando, até hoje, a água do Rio Doce, sem contar as vidas ceifadas. “Essa, agora, além de tudo que falamos, atingiu fatalmente um número incalculável de vidas humanas”, afirmou.
Na quarta edição do Curso de Férias para Educadores Populares da Diocese de Caratinga, realizado na cidade de Divino, refletindo sobre a Campanha da Fraternidade com o tema ‘Políticas Públicas e Meio Ambiente’; pastorais sociais, Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e Comissão do Meio Ambiente – Província Eclesiástica de Mariana assinaram uma moção de repúdio do que classificaram como “crime ambiental”.
“Nós, povo de Deus, reunidos no Curso de Férias para Educadores Populares 2019, em Divino, nos solidarizamos com as Atingidas e os Atingidos pelo rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão em Brumadinho/MG, no dia 25 de janeiro de 2019. Essa barragem foi responsável pela produção de 7% (sete por cento) do volume total de minério de ferro explorado pela Vale no Brasil em 2018. Segundo o MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração, em dezembro de 2018, a Vale obteve as licenças ambientais para ampliação da Mina do Córrego do Feijão de forma acelerada, desrespeitando os trâmites normais. O processo de obtenção das licenças foi realizado de maneira irresponsável, burlando os ritos tradicionais, negligenciando os impactos no abastecimento de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e contrariando a vontade popular que reivindicava a negação da ampliação do empreendimento”, disseram.
A nota também lembrou os prejuízos ambientas, perdas humanas e os riscos que estas barragens apresentam, sem a devida fiscalização. “Os rejeitos chegaram ao rio Paraopeba destruindo tudo em seu caminho, sejam casas, plantações, matas, animais e segue o leito correndo o risco de desembocar no Rio São Francisco, comprometendo o abastecimento de água em várias cidades entorno da RMBH. Outra barragem se rompe fazendo novas vítimas pela mesma empresa que não tem cuidado com a vida do povo, que visa somente explorar aquilo que deveria ser usado para o bem comum da população. Tudo o que a natureza nos oferece é bem de Deus. Desde o ano de 2015 inúmeras denúncias vêm sendo feitas pelo MAB – Movimento de Atingidos por Barragens, sobre o risco de rompimento de barragens no estado de Minas Gerais, Comissão de Meio Ambiente da Província de Mariana e o Fórum Permanente da Bacia do Rio Doce”.
Eles “clamam justiça” para todos os que foram atingidos há mais de três anos pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana, na bacia do Rio Doce e para os de Brumadinho, na bacia do Rio Paraopeba. “Reafirmamos nossa solidariedade à população de Brumadinho/MG e exigimos justiça. Estamos com os trabalhadores e trabalhadoras e famílias atingidas nesse momento difícil. Seguiremos firmes juntos, ninguém solta a mão de ninguém pelos direitos das atingidas e dos Atingidos”.