
Ronevon Huebra ministrou palestra para os alunos da Escola Municipal Maria da Conceição Ferreira, de Engenheiro Caldas
Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Caratinga celebra data com ações e reflexão
DA REDAÇÃO– O Dia do Rio foi celebrado na última sexta-feira (24) pelo Comitê de Bacia Hidrográfica do RIO Caratinga (CBH). Foi um dia de atividades especiais, promovendo diálogo e reflexão sobre importância da conservação e recuperação dos cursos d’água, para manutenção da vida e desenvolvimento socioeconômico.
A programação teve início com uma visita técnica à região contemplada pelo Programa de Recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Nascentes, desenvolvido pelo CBH-Caratinga, em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF). Através do levantamento de áreas críticas e prioritárias, é feita a recomposição ou adensamento de matas ciliares e de topos de morro, além da caracterização e recuperação de nascentes e áreas degradadas.
A comunidade conheceu o andamento das ações ambientais desenvolvidas pelo comitê para recuperação de olhos d’água na zona rural de Santa Bárbara do Leste. Por meio do Programa, o CBH-Caratinga investiu R$ 250 mil no cercamento de 24 nascentes e plantio de mudas nativas e frutíferas, em 14 propriedades localizadas no Córrego do Peão de Cima e Peão de Baixo, totalizando 145 hectares contemplados. O objetivo foi contribuir com o aumento da disponibilidade hídrica na região, em que se localiza a nascente do Rio Caratinga, principal curso d’água da bacia.
O projeto foi aprovado pelo produtor José Augusto da Silva, conhecido como “Zé Almiro”, que teve sua fazenda contemplada. “Fiquei muito satisfeito, o que depender aqui estamos à disposição para fazer. Planto de tudo, feijão, milho, mas o forte aqui é café e boi. E graças a Deus não tive problema com falta de água, mas preocupo com a nascente. Uma propriedade sem água não vale nada, então quero que Deus abençoe que a água aumente aqui. Na minha propriedade têm umas três ou quatro nascentes. Vamos preservar o que puder”.
A prefeita de Santa Bárbara do Leste Wilma Pereira, destacou a iniciativa do produtor que abriu as portas de sua casa para realização deste trabalho e enfatizou que o executivo apoia estas ações de preservação ao meio ambiente. “É um grande desafio, porque tem que demonstrar coragem para enfrentar um desconhecido. Uma coisa que não sabe ainda o resultado lá na frente. Com minha equipe converso muito nesse sentido, que temos que valorizar as pessoas que dão o primeiro passo junto com a gente. Porque depois que a caminhada está no meio para frente é mais tranquilo, mais fácil. Essa iniciativa de abrir as portas para o comitê, o IEF para esse projeto, vai servir de exemplo para outras pessoas. Elas vão sentir segurança, confiança”.

Panorama hídrico atual e a situação ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Doce foi tema tratado pelo ambientalista Henrique Lobo
PAPEL DO COMITÊ
A segunda parte da programação foi a palestra ‘Comitê: O que é e o que faz’. O tema foi abordado pelo presidente do CBH-Caratinga, Ronevon Huebra para os alunos da Escola Municipal Maria da Conceição Ferreira, de Engenheiro Caldas.
Foi reforçado o papel e as ações desenvolvidas pelo colegiado, que tem como foco principal trabalhar pela garantia, de forma democrática, dos usos essenciais da água, conciliando o desenvolvimento econômico e social das regiões que abrange. “Fico muito feliz de estar hoje (sexta-feira) comemorando o Dia do Rio. O Comitê do Caratinga está realizando essa data comemorativa com várias ações, programação extensa. Envolvendo a escola, acho que é fundamental falarmos para as crianças, porque elas conseguem absorver muito o que a gente coloca, dão um feedback excepcional daquilo que explicamos, são realmente os formadores de opinião. Elas que acabam cobrando dos adultos”.
Sobre a data, Ronevon afirma que o comitê de Caratinga está “fazendo história mais uma vez”. “É o único comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce que está comemorando o Dia do Rio, fazendo esse evento nas três partes da bacia. Isso mostra o compromisso que o Caratinga tem para com a sua bacia, que a gente quer realmente fazer algo diferente, deixar um legado para as próximas gestões que vierem. Também é um momento de reflexão, de parar e pensar tudo que estamos fazendo com o nosso rio, buscar ampliar cada vez mais nossas ações e forças”.
O prefeito de Engenheiro Caldas, Samuel Dutra Júnior, o Juninho Dutra falou sobre a importância da ação desenvolvida naquele município. “Engenheiros caldas vem sofrendo muito com a escassez hídrica e devido ao fato de não termos nenhuma ação concreta em nossa cidade em relação ao meio ambiente e aos rios, quando se comemora o Dia do Rio pra nós é muito importante. A gente parte do princípio já conversando com as nossas crianças, orientando e informando para elas, fazendo grandes parceiros”.
OS RIOS DA TERRA
O encerramento do evento foi feito com uma palestra sobre o panorama hídrico atual e a situação ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Doce. O tema foi tratado pelo ambientalista Henrique Lobo, engenheiro agrônomo e especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental; no Casarão das Artes.
Henrique apresentou os rios que já estudou em todos os continentes e terminou com a Bacia Hidrográfica do Rio Doce, que ainda é seu objeto de estudo. “Trazendo os rios da América do Sul, América do Norte, África, Europa, Ásia e Oceania; buscando esse entendimento para que a gente possa conhecer a nossa bacia hidrográfica maior que é o Rio Doce. E mostramos também a questão dos solos de Caratinga e dessa bacia hidrográfica, da importância dela para toda nossa religião”.
Questionados sobre os principais desafios na conservação do meio ambiente, o ambientalista citou uma questão para os próximos 13 anos. “O sol tem um ciclo de 100 anos e agora em 2019/2020 vamos ter menor intensidade solar. Então, temos que pensar realmente o valor da água, a questão da gestão da água, como vamos manejar essa água, porque as chuvas vão diminuir de 10 a 20%, com essa diminuição da intensidade solar. Quem comanda o clima e a chuva é o sol e o mar, a terra é coberta 71% de oceano e 29% de continente. É essa questão que temos que pensar para podermos entender melhor a nossa geração, o tempo que nós estamos vivendo na terra”.
Para Henrique Lobo é preciso pensar nos rios históricos, assim como “o Nilo, o Eufrates, são rios que vão secar”. “Tem dez mil anos de agricultura, de economia, já que temos 500 anos de história temos que olhar pra eles. Muitas vezes a gente fala assim: ‘O Brasil tem 25% dos rios do mundo’. Mas, a gente tem que entender que 75% da nossa água está na Bacia Amazônica onde mora 25 milhões de pessoas e no Centro-Sul do Brasil onde mora 180 milhões de pessoas temos 25% da água”.
Especificamente sobre a região, ele chamou atenção para o fato de que 62% da Bacia Hidrográfica é de áreas degradadas do Rio Caratinga. “Tem que realmente começar a ter esse entendimento de como recuperar as áreas de recarga e restaurar as nascentes. Na Bacia Hidrográfica do Rio Doce precisamos restaurar 370 mil nascentes, porque são 60 milhões de hectares de área degradada. É esse foco que nós temos que ter. Nós degradamos solo, foi a maior coisa que nós fizemos, porque a importância das florestas que estão nessas nascentes aqui do Rio Caratinga é que elas fazem o papel de armazenar água no solo, ela guarda uma água no solo. É essa leitura que nós precisamos ter, que os topos dos morros dessa região do relevo muito acidentado, uma terça parte dele tem que ser preservado com florestas nativas, porque quando tem uma floresta no solo no topo do morro, 60% da água infiltra no solo. Se eu tenho só pasto, só vai infiltrar 10% da água e 90% vai embora. Então temos que aprender a segurar toda essa água, para termos melhor manejo de gestão desses próximos 13 anos que vamos viver”.