Livro será lançado na noite de hoje, no Casarão das Artes
CARATINGA – Segundo o dicionário, “Desjejum” é a ação ou efeito de desjejuar; a primeira refeição que se faz pela manhã; café da manhã. E esse nome é sintomático, pois com essa obra, o professor e poeta Fernando Campos quebra o seu jejum desde ‘Insolvência: Fragmentos de amor e morte e um esboço de despedida’, publicado em 2016 pela editora Caratinga. O lançamento do novo trabalho acontece as 19h30 de hoje no Casarão das Artes e conta com apresentação musical de Nathan Vieira.
Fernando Campos observa que ‘Desjejum’ teve longa gestação. “Os primeiros textos foram escritos em 1998, enquanto um grupo poemas foi feito em 2004. Posteriormente, na fase de acabamento do livro, houve alguns pequenos acréscimos. Foram acrescentados dois ou três textos de produção mais recente. Achei que eles dialogaram bem com os textos que já existiam”, explica o professor e poeta.
Sobre a escolha do título do livro, Fernando Campos comenta. “Desjejum é a primeira refeição do dia, mas digamos que este seja um café literário; metáfora para um alimento constituído de palavras. É um discurso poético e espero que o leitor se identifique e acabe se encontrando dentro dos textos. Digamos que não se identifique com alguns, mas provavelmente irá se identificar com outros, dada a variedade de temas que estão neste livro”.
“Desjejum’ tem capa de Paulo Vieira, prefácio de Marcos Vinícius Teixeira e posfácio de Abiatar Machado.
DESJEJUM
‘Desjejum’ segue o lirismo cru e potente de ‘Insolvência: Fragmentos de amor e morte e um esboço de despedida’, que teve crítica elogiosa no caderno Pensar do jornal O Estado de Minas. “Fernando Campos é um gritante sibilador. Algo de estranho nesse osso duro dos âmagos? Não nada never nunca nonada nanuque. Cada poeta elege a espada com a qual encara melhor a sua esgrima. Cada poeta sabe a polegada e o quilate da sua fala, do seu ouro tirado do nariz”, descreve a resenha assinada por Jozailto Lima em 20 de maio de 2016.
Em ‘Insolvência’, Fernando Campos usou o mínimo para falar de algo que é amplo. Mas no caso de “Desjejum”, alguns versos nos remetem a ‘furibunda melancolia’ do português Herberto Helder. “Passeio minha existência por entre o prazer e a dor”, escreveu Fernando Campos em ‘Preâmbulo’. “Dei pra maldizer o passado. A manhã, tamanha. À visão do sol, se eu pudesse então me transformara”, arremata em ‘Fidedigno’.
Não espere rimas fáceis em ‘Desjejum’; em 38 poemas Fernando Campos mostra tramas, ritos e enfatiza sua poesia filosófica, onde cada verso nos leva a refletir. E ao final a persistência do bom gosto se sobressai.
SERVIÇO
-Lançamento do livro de poesia ‘Desjejum’ (ed. Caratinga)
-Data: 19h30 de hoje
-Local: Centro Cultural Casarão das Artes, Rua João Pinheiro, 154 – Centro, Caratinga
-Entrada Franca
-Preço do livro: R$ 10,00
-Apresentação musical: Nathan Vieira
Agora Há Pouco
Fernando Campos
Agora há pouco,
voltei ao quintal da minha infância
e hospedei-me numa fresta de memória.
Vi seus verdes e musgos,
laranjeiras entre coqueiros,
insetos, folhas, luz e sombra,
orelhas-de-pau em cinzenta compostura.
Mãe gritou me chamando
e pai, paciente, no trabalho.
Corri para ver os irmãos
em seus cavalos de brinquedos e sonho.
Uma bola rolou no caminho
e minhas irmãs desceram a tarde do varal
indo guardá-la
como se guarda um livro na estante,
displicentemente,
à ausência de sol.
O silêncio veio,
com suas sandálias de veludo,
e eu apenas perguntei com os olhos:
-Se ainda não partiram,
Para onde foram todos?