“Quando a última árvore for cortada, quando o último rio for poluído, quando o último peixe for pescado, aí sim eles verão que dinheiro não se come…”. É desta forma que o cacique, chefe das tribos Suquamish e Duwamish, se manifestou quando, em 1854, o governo dos Estados Unidos tentava convencê-lo a vender suas terras para dar prosseguimento à ocupação do território norte-americano com populações estrangeiras que chegavam ao país. A proposta do governo era instalar as duas tribos em uma reserva indígena, oferecendo-lhes algumas garantias e compensações. Com a sabedoria de um grande líder, o Cacique Seattle, recomendou às suas tribos que fossem para a reserva, pois sabia que não poderia resistir às armas de fogo, caso optasse pelo confronto. No entanto, deixou, com seu profético discurso, uma lição para as futuras gerações de todos os povos do mundo: “O grande chefe de Washington diz que quer comprar a nossa terra. Essa ideia é estranha para nós. Como é possível comprar ou vender o céu e o calor da terra? Se o ar fresco e o brilho das águas não nos pertencem, como podemos vendê-los?”. E dessa forma tem-se encarado esse duelo de Titãs: Desenvolvimento x Natureza.
Na verdade essa dualidade entrou em choque de interesses a partir da formação do clube de Roma que culminou no estabelecimento da primeira Convenção das Nações Unidas para o meio ambiente humano, que é Conferência de Estocolmo (1972). Nesta conferência os pontos mais relevantes foram colocados como se existissem “dois lados”, os desenvolvimentistas e os ambientalistas. A partir daí criou-se a expressão: Desenvolvimento sustentável, que pacificou essa guerra de ideologia.
A palavra desenvolvimento sustentável tem o seguinte significado: Atender às necessidades da atual geração, sem comprometer a capacidade das futuras gerações em prover suas próprias demandas. Como utilizar os recursos que hoje temos sem que isso não comprometa as futuras gerações? Se pensarmos assim, até essa geração já está sofrendo com escassez de água, poluição da terra, água e ar, o que dirá as futuras?
Trazer essa discussão para a nossa região hoje é muito interessante uma vez que estamos passando pela falta de água em nossa cidade e também pela contaminação que hoje existe no Rio Doce em todos seus mais de 800 km de extensão. O principal desafio da atual geração é rever seu modo de vida e principalmente no que tange o consumo. Hoje temos um consumo exacerbado em todas as áreas. Modificar o padrão de consumo é algo tão atual que esse tema foi uma das principais matérias discutidas no COP 21 em Paris, que decretou a aprovação do acordo dos 195 países signatários para diminuição das taxas da emissão de CO2 e com isso diminuir o aquecimento global que atualmente está em escalas alarmantes.
A natureza possui uma ferramenta chamada resiliência que é a capacidade de um sistema restabelecer seu equilíbrio após este ter sido rompido por um distúrbio, ou seja, sua capacidade de recuperação. Ainda estão sendo feitos estudos sobre esse ataque que o meio ambiente vem sofrendo desde a revolução industrial no Sec. XVIII, ainda mais intensificado a partir da década de 50 no século passado. O equilíbrio da natureza é uma linha tênue que já foi alterada uma série de vezes no decorrer da história da humanidade, mas nunca tão alterada como agora.
Essa questão é tão séria que as pesquisas científicas de ponta estudam maneiras de fazer com que o planeta não sinta com fulgor as intervenções do homem na natureza. Foi realizado um estudo no parque de Yellowstone, que é o primeiro e mais antigo parque nacional instituído do mundo e cobre 8987 km². Uma lei criou o parque em 1872. No parque uma espécie de lobo havia se extinguido. O local ficou mais de 70 anos sem a espécie, e quando esta foi reintroduzida novamente no local, ocorreu uma alteração no curso do Rio que corta o parque nacional citado. Isso ocorreu por causa da dieta dos lobos que se alimenta de servos (ruminantes) que estavam superpovoando a reserva. Com a diminuição do número de indivíduos dos animais herbívoros, havia menos erosão. Isto aconteceu devido à regeneração da floresta, que conseguia estabilizar melhor às águas, devido às árvores, havendo menos derrocadas.
Não sabemos até quando a natureza sente ou deixa de sentir as intervenções realizadas pela atividade antrópica (humana). O certo nesse caso é rever nosso comportamento de forma que o meio ambiente tenha mais “fôlego”, pois a forma que está hoje é “asfixiante”.
Em nossa região sentimos na própria pele o que é passar sede e não ter água potável para beber. A falta de água age em consonância com a degradação do solo. Quando as atividades rurais não são acompanhadas de práticas conservacionistas adequadas, as consequências ao ambiente devido à erosão hídrica e ao uso intensivo de insumos causam, geralmente, impactos negativos ao solo e à água. Baseado nessa premissa torna-se necessário a implantação de políticas públicas voltadas para a conservação do solo e da água.
Nos Estados Unidos durante as décadas dos anos 20 e 30 (século XX) o descuido com a conservação do solo contribuiu de maneira significativa para a ocorrência de um dos maiores desastres ambientais que esse país já vivenciou (“Dust Bowl”). Devido à erosão eólica, milhões de hectares foram degradados, o que provocou uma enorme onda de refugiados ambientais que se deslocaram da grande planície americana para a Califórnia. Devido a esse desastre foram implantadas nos Estados Unidos políticas públicas voltadas para a conservação do solo e da água que continuam vigentes. Nosso país passou da hora de fazer o mesmo aqui, pois nossa perda de solo chega a ser de 25 toneladas/hectares/ano. Um número elevadíssimo. Nos Estados Unidos, por exemplo, 15 ton/ha/ano é considerada extremo na perda de solo.
Diante disso, temos que modificar nosso modo de viver e começarmos a agir com atos sustentáveis no nosso dia. Por exemplo, não jogar lixo nas ruas, não cimentar áreas das casas onde poderia existir grama ou algo do tipo para ajudar na infiltração das águas de chuva, utilizar o reuso da água quando possível (lavar roupas, por exemplo), reaproveitar águas de chuva, proteger as nascentes de água, recuperar nascentes secas, fazer recuperação das áreas degradas, etc.
O desenvolvimento sustentável nunca irá ser contra o lucro. Na verdade lucro é algo buscado por essa forma de desenvolvimento. A diferença é que os métodos clássicos, principalmente no campo da engenharia, não conseguem dar o “feedback” que atualmente o meio ambiente exige. Por isso temos que mudar nosso modo de viver urgentemente. Ainda há saída, mas a porta é cada vez mais estreita.
Uma das formas de buscar melhora em nossa cidade é a recuperação das nascentes que alimentam nossos córregos. Principalmente aqueles que são usados para irrigação e abastecimento humano. Assim estaremos deixando o início da mudança de paradigma nessa geração de descartáveis e consumistas para as futuras gerações.
A indústria tem modificado muito seu comportamento. A economia verde é uma realidade mais que consolidada. Existem hoje centenas de empresas que realizam auditorias para certificar produtos que utilizam economia verde para sua produção. Na Europa, países como Alemanha, Inglaterra e França exigem que produtos como café, soja, cana-de-açúcar e também carnes das mais diversas, tenham selo verde, ou seja, utilizam metodologia que pressionam menos o meio ambiente.
Temos nosso modo de vida em risco se algo não for feito. É ignorância de nossa parte não fazermos nada só porque se pode fazer pouco. Mas se todos fizerem pouco para o meio ambiente, ele irá retribuir muito pra nós. E sempre será assim.
Heverton Ferreira Rocha
Engenheiro Sanitarista e Ambiental