Cumprindo a proposta deste colunista em descrever as diversas atualidades em respeito a nossa floresta Amazônica, nesta edição serão desvendados os seus cinco segredos.
Tais segredos são fruto de muitos anos de observações e estudo sobre o funcionamento da floresta por diversos pesquisadores de instituições reconhecidas no Brasil, como o Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), Universidade de São Paulo (USP), e dentre outras, e por instituições reconhecidas internacionalmente como Harvard e Nasa nos EUA e Instituto Mac Planck na Alemanha.
1 – Mito que a floresta Amazônica é o “pulmão do mundo”.
A nossa floresta Amazônica, que é considerada maior floresta tropical do mundo e, também, considerada como uma região muito complexa tem sido por muitos anos descrita como o “pulmão do mundo”. Este termo é utilizado devido ao tamanho da floresta, cerca de 5,5 milhões de Km², e pelo processo natural da floresta, conhecido como fotossíntese, que tem função de retirar carbono do ar. Entretanto, o que tem sido observado durante muitos anos é que a floresta Amazônica não é o “pulmão do mundo”, pois a mesma quantidade de carbono que a floresta retira do ar pelo processo de fotossíntese ela devolve para o ar através dos processos de decomposição de árvores e folhas mortas. Pelo fato da floresta estar numa região tropical, caracterizada por altas temperaturas e umidade do ar, e que o solo da região é considerado como um solo pobre em nutrientes para o crescimento das arvores, há uma necessidade de que os processos de decomposição de arvores e folhas mortas sejam rápidos para nutrir o solo e, consequentemente, lançar esse carbono no ar. Sendo assim a Amazônia não deve ser descrita como o “pulmão do mundo”.
2 – A floresta Amazônia produz cerca de 50% da sua chuva.
Na floresta Amazônica a maior fonte de chuvas para região tem origem dos conhecidos ventos alísios, estes que trazem umidade do Oceano Atlântico Tropical despejando esta umidade em forma de chuvas em grande parte na região da bacia Amazônica. Estas chuvas juntamente com o CO2, que está no ar, são consideradas de grande importância para o crescimento e do funcionamento da floresta. Depois de um certo período estas chuvas que caem sobre a floresta voltam para o ar, para formar as nuvens, devido o processo de transpiração da floresta, acredita-se que cada árvore de grande porte da floresta é responsável por emitir para o ar aproximadamente 300 litros de água por dia. O que diversos estudos observam é que devido a esta grande quantidade de retorno de agua no ar pelas árvores pode ser responsável, em grande parte, pela formação das chuvas que caem na floresta Amazônica.
3 – Oceano verde e o “pó de pirlimpimpim”.
Desde estudos que iniciaram em 1999 na bacia Amazônica através do desenvolvimento do projeto Larga Escala Biosfera Atmosfera (LBA), observou-se que as nuvens e o ar próximo da superfície assemelhavam-se às observadas sob os oceanos, que possui ar limpo de impurezas e com muitas nuvens de baixa altitude. Desta forma, a nossa floresta foi batizada como Oceano Verde na Terra.
No entanto, os oceanos são considerados os ambientes em que menos chove no mundo e na floresta Amazônica as chuvas são intensas e frequentes. A partir disso, foi observado que a floresta libera no ar compostos que ajudam na formação de nuvens, chamados de Compostos Orgânicos Voláteis (COV’s) ou de forma mais causal de “pó de pirlimpimpim”, que juntamente com a grande quantidade de água no ar, devido a transpiração das árvores, formam as nuvens que são responsáveis pelas chuvas da floresta.
4 – Rios Voadores.
Nas escolas ensina-se que a água evapora do mar, é enviada para os continentes, cai como chuva nos continentes, é coletada pelos rios e retornam aos oceanos para reiniciar o ciclo hídrico. Entretanto, muitas coisas na natureza não seguem padrões e para a Amazônia, em especial, a ausência de padrões isso é comum.
A Amazônia é considerada uma bomba de água, a mais potente do mundo, que tira água dos solos e joga no ar, estima-se que toda bacia Amazônica jogue no ar cerca de 20 bilhões de litros d’água por dia. Parte desta água volta para a floresta como chuva e outra é enviada, através dos conhecidos corredores de chuvas ou rios voadores que liga a região norte, às regiões centro oeste, sudeste e sul do Brasil. Estas regiões que são consideradas como extremamente importante economicamente.
5 – Desmatamento.
O desmatamento da floresta Amazônica tem mudando as características da floresta e podem resultar no futuro, caso continue desta forma, em menores quantidades de chuvas para as regiões situadas ao sul da floresta. Isto poderia acontecer devido a um menor transporte de chuvas pelos rios voadores desta floresta. A respeito do desmatamento na Amazônia, nós sempre ouvimos falar sobre grandes valores pelos órgãos de imprensa, como 150, 250 e 500% por exemplo. Entretanto, esses valores não representam o total da floresta e sim valores referentes à última observação, que é feita por satélites, a cada mês ou ano. Em março, a taxa de desmatamento foi de 195%, 58 km², contra 20 km² de desmatamento observados em março de 2014.
Na próxima edição iremos tratar de forma breve e clara sobre como as mudanças climáticas e o desmatamento na Amazônica pode influenciar as chuvas na região sudeste e, consequentemente, causar mudanças no nosso dia a dia.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA