Cumprindo a proposta inicial deste colunista de descrever as atualidades sobre a Amazônia, clima e como algumas mudanças que ocorrem nesta floresta, que está tão longe de nós, pode afetar nosso dia a dia, hoje iriei descrever de forma clara e objetiva quais os efeitos do desmatamento e mudanças do clima na floresta Amazônica e como tais mudanças podem nos afetar diariamente.
Algumas vezes pensamos que problemas que estão acontecendo longe dos nossos olhos não podem nos afetar. Por vezes isso pode até ser consumado, mas em outras, quando tratamos do meio ambiente, isso é improvável de acontecer. Nosso meio ambiente, em especial os ecossistemas com floresta, está intimamente ligado com tudo que se diz respeito ao que acontece na superfície através da ação humana e do clima, como também, através dos processos que acontecem no solo. A ação em conjunto destes três componentes irão determinar o equilíbrio das florestas, ou mesmo sua saúde destes ambientes. Sendo assim, quando interferimos num destes componentes podemos causar diversos problemas para as áreas afetadas e a nós num futuro próximo.
Pois bem, todos os anos nós podemos ver estampado em jornais impressos e, também, sendo discutido em programas da TV algumas notícias sobre o desmatamento da Amazônia. Isso é considerado por muitas pessoas como uma notícia comum, ou seja, não é novidade para ninguém que isso acontece diariamente e numa intensidade cada vez maior. Falar que o desmatamento na Amazônia irá acabar soa como uma piada.
Entretanto, as coisas já estão num nível crítico. A Amazônia acumula um nível assustador de desmatamento, contabiliza-se que a floresta perdeu em área aproximadamente 115 milhões de campos de futebol. Se considerarmos que a ocupação da Amazônia se deu nos últimos 50 anos, temos que a taxa de perda da floresta é equivalente a área de cinco campos de futebol a cada minuto. Desta forma, desde 50 anos atrás até hoje a cada dia que se passa a Amazônia perde uma área de floresta equivalente a 7200 campos de futebol.
Dai poderia surgir a pergunta: – Como uma floresta tão longe de mim, a aproximadamente 2 mil km de distância, pode interferir no meu dia a dia?
A resposta de uma pergunta assim não é algo simples, mas sabemos que mudanças estão acontecendo e, se continuar neste ritmo atual, tais mudanças poderão piorar. Podemos afirmar isso pelo fato que depois de muitos anos de estudo já é observado que a Amazônia já começa a mostrar que mudanças já estão acontecendo, mais arvores estão morrendo e a estrutura da floresta vem se modificando. Desta forma, mesmo através da observação destas mudanças não sabemos ao certo no que essas tais mudanças já irão representar no futuro.
Neste ano a crise hídrica que afeta a região sudeste parece ser uma resposta deste desmatamento. Exceto as cidades situadas nas regiões litorâneas, estas que possuem grande influencia das chuvas provenientes do Oceano Atlântico Tropical, as demais regiões situadas nas regiões montanhosas e central da região sudeste tem suas chuvas provenientes da umidade que vem da Amazônia, através dos já descritos “Rios Voadores”.
Desta forma, o desmatamento de áreas que antes eram ocupadas por floresta poderá resultar em diversas mudanças devido à íntima ligação existente, já citada, entre clima-floresta-solo.
Quando afetamos diretamente a floresta através do desmatamento, observa-se uma redução da umidade, em forma de vapor d’água, que é jogada para a atmosfera e uma menor infiltração da chuva no solo. Desta forma, observa-se um menor desenvolvimento de nuvens e estas não conseguem precipitar e/ou transportar a umidade para a região sudeste devido ao enfraquecimento desta ciclagem de umidade da região Amazônica. O processo de mudança do solo, através do desmatamento e agricultura, é outro agravante por levar a mudanças das características do solo e que pode resultar numa diminuição dos organismos que vivem no mesmo, como também, na redução da eficiência da ciclagem de nutrientes que a floresta tanto precisa para seu desenvolvimento. Unindo as interferências nos dois componentes já citados, podemos adicionar o efeito das mudanças no clima na Amazônia. Acredita-se que a floresta esteja num processo de mudança, talvez de não retorno. Observa-se que árvores adaptadas a um clima quente e úmido estejam sedo substituídas por arvores adaptadas a um clima quente e mais seco.
Tudo isso mostra que as mudanças previstas de períodos de seca mais frequentes são uma realidade e a floresta já começa a mostrar que e ela já busca formas de estar preparada para o futuro incerto.
E você o que tem feito para o futuro?
A Amazônia é sua e minha também, ela é de todos. Não vamos deixar destruírem nossos recursos naturais, pois se não mudarmos esse quadro atual mudanças, além da seca atual, poderão acontecer com mais frequência e numa intensidade cada vez maior.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA