Com a seca, lavouras não se desenvolvem e agricultores amargam prejuízos
CARATINGA – A seca que atingiu Caratinga e região tem deixado produtores rurais preocupados. É o caso de Gilmar Reis de Oliveira, morador do córrego dos Chaves, zona rural de Caratinga. Em entrevista ao DIÁRIO DE CARATINGA, ele, que trabalha com café e gado, explica que de dois anos para cá sua lavoura vem apresentando problemas, com as folhas secando e abortando as flores. Os investimentos com adubo não tem compensado. As fotos atuais e mais antigas da lavoura não deixam nenhuma dúvida, o reflexo da estiagem é visível.
Gilmar afirma que o prejuízo da última safra foi de mais de 50%. Para a próxima, ele acredita que será ainda pior, quase 100%. “Está tudo morrendo, não vai produzir nada da próxima. Fico de pés e mãos atadas. É prejuízo em cima de prejuízo”.
Foram realizadas vistorias na lavoura e as notícias para o produtor foram desanimadoras. Diante da falta de chuvas Gilmar faz um desabafo. “Aqui na roça hoje estamos jogados a Deus dará. Temos o compromisso financeiro, que temos que honrar, mas está chegando ao ponto que nada que estamos plantando está dando certo. Caratinga tinha o programa Balde Cheio, que é o programa de leite, tenho que irrigar o pasto. Como que eu vou irrigar o pasto se tem vizinho hoje que não tá tendo água nem pra beber?”.
Com o prejuízo na produção, as dívidas acumulam. A vida na zona rural não está sendo fácil e Gilmar afirma que essa situação preocupa os produtores. “As lavouras estão morrendo. A gente já procurou algumas instituições financeiras pra mostrar o que está acontecendo realmente, algumas autoridades de alguns bancos chegaram a falar que argumento não paga conta, o que paga conta é dinheiro. Isso é de chatear a gente, porque não é questão só de pagar a conta, tem que ver que a sobrevivência na propriedade hoje está zero. Está morrendo tudo que está pela frente. Eles tinham que vir aqui pra ver o que está acontecendo, não é só ficar sentado atrás de cadeira e querer que a gente leve a solução”.
PREJUÍZOS
Gilmar destaca que os prejuízos são grandes. Está gastando mais para manter a produção, sem margem de lucro. “O real hoje já não é falta de dinheiro, é a falta de chuva. Mas, os produtores hoje estão sofrendo. Trabalho com gado, fui fazer a silagem, não muito grande, devem ter sido umas 50 toneladas. Me custou R$ 11 mil. Tive que tirar uma parte do gado da propriedade, estou pagando arrendamento em um outro local. No ano, no mínimo, estou gastando para manter o gado na propriedade entre R$ 30 e R$ 35 mil”.
Apesar de ainda trabalhar com a produção de leite, o produtor afirma que a venda do leite não supre a despesa. “Recebemos 0,87 centavos em um litro de leite. Pra mim, hoje o cara que for procurar ser produtor, vai ser um produtor de dívida”.
A propriedade de Gilmar tem acompanhamento de um agrônomo desde o ano de 2009, com laudos técnicos e controle do índice pluviométrico naquela região. Além disso, o produtor investe em adubação e demais melhorias necessárias. Ainda assim, sem a previsão de chuvas, ele faz um alerta. “A gente ainda trabalha com inseminação artificial para melhorar o gado, que é vaca de alta lactação, não é coisa mal feita. Agora imagina uma propriedade que não tiver um planejamento. Porque tudo isso está acontecendo com a nossa propriedade e ela ainda foi planejada, agora imagina que jeito que não está a situação do município. Acho que cabe à Secretaria de Agricultura e outros órgãos visualizar mais essa parte, porque a gente sabe que tem algumas propriedades que se a pessoa for viver do que ela produz nem comida tira dela. Agora, a nossa é produtiva, tem notas fiscais de tudo que é comprado, mas a situação é de desanimar”.
Gilmar finaliza fazendo um desabafo. “Se não chover o povo da rua que se prepare. Já estão tendo uma noção do que é ficar sem água para tomar um banho, beber. Agora e eu que dependo dela para sobreviver, para comprar até um sal da minha casa? A solução é a chuva”.