Estamos no mês de setembro, que é conhecido como o mês de combate e prevenção ao suicídio. É sempre um assunto que chama a atenção de muitos. Porém, difícil de ser tratado. Muitos levam a depressão para o lado da fé, ou da falta dela. Outros procuram entender a situação que cada um vive e demonstram um pouco mais de empatia.
No futebol, o assunto ainda é pouco falado mas já tivemos casos de jogadores que passaram ou ainda passam por esta situação. Muitos acham que o jogador, rico, não possui nenhum tipo de problema, só se preocupa com o trabalho e o dinheiro que ganha todo mês. A verdade é que por trás daquele jogador, da imagem, existe o ser humano. E na maioria das vezes, ele precisa de ajuda para lidar com a pressão diária. Tudo pode se tornar um gatilho para que a mente seja mais uma adversária.
O atacante Nilmar, com passagens por Corinthians, Internacional e Seleção Brasileira, conviveu com a depressão durante anos. Seu último clube foi o Santos, em 2017, onde pediu a suspensão do contrato para cuidar da saúde. Em entrevista ao GE, em abril deste ano, o atacante disse como sentiu que poderia estar com depressão:
“Eu relutei um pouco para falar sobre isso porque até pouco tempo atrás eu não me sentia confortável. Eu tive o apoio da minha família, mas onde eu diagnostiquei mesmo foi quando cheguei ao Santos. Eu vinha de um ano muito conturbado nos Emirados e acredito que isso possa ter sido um dos gatilhos. Eu desconectei totalmente e entrei naquele mar que é tipo uma bolha. Quem viveu isso sabe o que eu estou falando. Eu só chorava. Todos os sintomas que vocês puderem pesquisar, eu vivi. Eu tenho quatro cirurgias no joelho, duas muito sérias que foram na época do Corinthians (em 2006 e 2007). E eu tinha 21 anos, então praticamente a minha carreira toda eu convivi com isso. Joguei em nove clubes. Para eu passar em qualquer exame médico, eram dois a três dias de exame porque tinha essa desconfiança. Entendo que a imprensa tem que informar, mas por eu ser atacante, o meu biótipo, fui tachado de frágil. Estigmatizado não sei, mas eu convivi com isso a minha carreira toda. Mas consegui ir a uma Copa do Mundo, jogar na Europa, realizar os sonhos que eu tinha de criança… de poder jogar na seleção brasileira, conquistar títulos. Foi uma carreira de altíssimo nível e eu sou feliz, o futebol me deu tudo na vida.”.
Nilmar também falou sobre a imagem que o jogador de futebol passa para as pessoas:
“Hoje eu consigo ver que a gente passa uma imagem de super-herói para as pessoas e por trás de tudo, um atleta profissional é muito exigido, é muito cobrado, então sem dúvida nenhuma prejudica até certo ponto. Tudo aquilo que eu vivi foi para fortalecer mais ainda. Hoje estou dando valor às pequenas coisas, que às vezes a gente está num mundo de muito glamour e a gente acaba esquecendo as pequenas coisas da vida. Estou tomando esse tempo agora, melhorei, me reergui, estou mais presente com eles, meus filhos, me dá uma alegria que é estar mais presente. No futebol a gente não está junto por conta das viagens. Todo pai sonha em levar o filho para escolinha de futebol, levar pro colégio e ter finais de semana com eles, isso aí sem dúvida nenhuma me ajudou bastante. A minha esposa foi muito importante nesse momento”.
Outros jogadores também lutaram contra a depressão durante suas carreiras. Thiago Ribeiro, que teve passagens por São Paulo e Cruzeiro, e os ex-jogadores Pedrinho (Vasco) e o atacante Ronaldo, também passaram pelo mesmo. Eles buscaram ajuda profissional e aos poucos foram deixando de lado os sintomas da doença. O rendimento técnico e físico foi muito afetado. Trabalhar o psicológico para lidar com o afastamento dos gramados e se preparar para voltar o mais rápido possível requer muita força. Muitos não têm. A importância de cuidar da saúde mental no futebol é cada vez maior. Conscientizar e se colocar no lugar do outro é só o começo. Precisamos combater diariamente e, principalmente, cuidar dos nossos. Não só da nossa própria saúde, mas de quem está ao redor. O futebol é a paixão de todos. De quem joga e de quem torce. Não podemos deixar ser um gatilho em nossas vidas.
Matheus Soares