*Cléscio Galvão
Todo e qualquer processo eleitoral desperta em nós cidadãos algum sentimento de reflexão e paixão. A reflexão faz espelho aos nossos sentimentos e dogmas internos. Procuramos sempre solidificar nossa matiz de razão e compreensão da realidade. Buscamos justificar em tudo e através do todo, a nossa opção. Opção essa que comumente não será produto do resultado do processo eleitoral, mas sim de nossas predileções e convicções. Daí, portanto, de que serve o processo eleitoral, se o resultado não é decorrente desse instrumento como meio de reflexão e tomada de decisão em favor de uma opção?
No contra fluxo da reflexão nos deparamos com a paixão. Sentimento esse espelho de nosso egoísmo humano, em detrimento do pensar raciocinado. Defendemos nossa opção, fruto de nossas predileções, com ardor e grande entusiasmo. O fazemos, muita das vezes, por mero impulso de massa, sem qualquer análise crítica conceitual e pragmática. Optamos não pela essência, mas pelo sentimento comum.
Daí, nesse prisma, estamos vivenciando o presente. O debate, ou melhor, o embate entre os dois polos, em tese, antagônicos entre si. Esquerda e Direita. Nós e Eles – Eles e Nós. Fruto de uma impensada reflexão e apaixonada opção. Há mesmo a necessidade desse combate? Não seriam as duas opções razoáveis em suas sublimes convicções? Qual a razão da sociedade estar dividida e entrincheirada na defesa de qualquer das opções? Alguns vão dizer que esse enfrentamento é a resultante singular da democracia. Será mesmo?
A democracia pressupõe a aceitação e convivência harmônica entre diversas correntes de pensamento político ideológico. Portanto, esse embate de forças não nos parece encontrar justificativa na democracia, que tem por princípio sentimento antagônico de conciliação, incompatível com esse embate de forças, que mais se assemelha a um combate. É notório que ambos os lados querem derrotar o outro, para fazer valer sua razão. Isso não é democracia, passando a ser entendido como a ditadura da maioria. Na nova era que se avizinha, não há espaço para sentimentos de #elesim ou #elenão.
De onde vem então esse sentimento de autodestruição? A prevalecer a atual concepção do embate político, tendemos a nos aniquilar de forma gradativa, já que não buscamos o entendimento e a convergência, mas, sim, vamos nos destruindo, enquanto sociedade, de forma sublimar. A sociedade foi levada a roldão por uma avalanche de sentimentos que degradam sua base, colocando em risco verdades antigas. O que temos não é um embate político, mas sim um contraponto de valores e convicções. Temos os conservadores de um lado, firmes em suas convicções, rotulados de direita e de outro lado, rotulados de esquerda, aqueles que reivindicam a posição de vanguarda. Querem parecer de forma simples que a questão se resume a um embate entre o velho e o novo.
Ao nosso sentir, não se trata de um embate ideológico, mas, do resultado de um processo gradativo de desconstrução social, através da prevalência do espírito da intolerância e intransigência, em detrimento da compreensão e convergência. Esse modelo de guerrilha psicológica não é fruto do nada, mas decorre da ação pensada e engendrada por um modelo que pretendia a perpetuação de poder a todo custo. Dividir para governar e perpetuar.
Devemos todos, atores nesse cenário de guerra, pararmos e refletirmos. Somos iguais, contudo, diferentes. Não há mérito na vitória que nos auto aniquila. Destruir o nosso semelhante não é a solução. Devemos buscar a aceitação do pensar diferente e construirmos, com a razão, a convergência de ideias e ideais. Somente assim estaremos atuando como agentes proativos na construção de um mundo mais fraterno e justo e exercitando a democracia em sua essência. Defendamos #Todossim.
Cléscio Galvão é advogado e empresário, membro da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas e da Loja Maçônica General José Maria Moreira Guimarães, 1ª, nº 0562, sediada em Belo Horizonte, jurisdicionada ao Grande Oriente do Brasil-Minas Gerais e federada ao Grande Oriente do Brasil.