CARATINGA- O DIÁRIO ainda mostra a repercussão da morte de Ziraldo entre os caratinguenses, que registram suas homenagens:
“Hoje é meu aniversário. Como sempre, comprei umas cervejinhas (eu não bebo mais) e chamei meia dúzia de amigos pra não passar em branco. Pedi um bolo e estou esperando a hora de recebe-los. Aí começa a chover, do nada, sendo que tem um tempão que não chove, até pensei “que merda, chover logo no dia do meu aniversário sendo que não está chovendo dia nenhum”. Mas agora entendo o motivo. Ziraldo morreu!
Nosso artista maior, nosso mestre de vida, um dos caras mais iluminados que já passaram pela Terra, um ser humano sem nota! Para mim, um “tio” emprestado, que me tratou com tanto carinho desde menino, pela proximidade da família dele com a minha, da amizade do pai dele com meu avô, ou da irmã dele com minha mãe, que foram colegas no Colégio das Irmãs!
Que me recebia na casa dele mesmo quando nem podia me dar atenção por estar trabalhando no momento, “senta ali Camilinho, depois a gente conversa” e eu sentava em frente à sua prancheta e ficava vendo ele criar aquelas coisas maravilhosas – por exemplo, quando fazia os esboços a lápis do livro “A menina das estrelas”!
Ziraldo era um gigante, uma pessoa que deveria viver ao menos uns 200 anos, criando e maravilhando a gente e o mundo inteiro! Infelizmente este é um desejo irreal.
Junto aos professores Claudio Leitão e Américo Galvão Neto, à amiga Belkiss Chaves e à sua afilhada de alma Annalzira Ligeiro, organizamos uma festinha de aniversário pra ele no Casarão das Artes, nos seus 90 anos, e cantamos parabéns com bolo e tudo junto a ele, que assistiu a tudo por uma videoconferência. Deu pra ver uma lágrima escorrendo por seus olhos por tão singela homenagem: ver crianças, amigos e, especialmente, um ator fantasiado de Menino Maluquinho cantando parabéns pra ele e soprando as velinhas por ele. Foi o último momento que tive com ele, e guardo com carinho como um fechamento de uma relação que começou na infância e me influenciou ao longo da vida, tendo sido grande responsável por que ser o que sou!
Que triste, Ziraldo, que você se foi logo no dia do meu aniversário! Te amo!”.
- Camilo Lucas, artista plástico
“Perda irreparável da maior referência nacional e internacional da nossa querida Caratinga.
Também um dos maiores gênios da história desse país. Deixa um notável exemplo de amor e paixão por essa terra e uma saudade que jamais será esquecida”.
- João Bosco Pessine, ex-prefeito de Caratinga
“Infelizmente, é tempo de dar adeus a um dos maiores cartunistas brasileiros, o “Maluquinho” de Caratinga que conquistou o mundo. Cresci admirando a carreira de Ziraldo, comemorei o relançamento da “Turma do Pererê”, em 1970, o lançamento do livro “Menino Maluquinho”, dez anos depois e me tornei um grande fã deste grande artista. Comemoramos seus aniversários e rezamos por sua recuperação.
A tristeza por sua perda só não é maior que o orgulho dos que vivem na Cidade das Palmeiras, por poder chamá-lo de conterrâneo, por sentir que, daqui destas paragens, saiu este gênio, Ziraldo Alves Pinto.
O Menino Maluquinho viverá eternamente, em nossas mentes e em nossos corações”.
- Eugênio Maria Gomes, professor e escritor
“Profunda tristeza pela morte do nosso querido Ziraldo. Com seu trabalho, foi sucesso no Brasil e no mundo, elevando o nome de Caratinga e sendo admirado por todos nós. Nossa estrela mais brilhante é agora estrela lá no céu. Será eternamente lembrado. Muita paz e alegria eterna. Saudades, muitas saudades”.
- Marilene Godinho, escritora
“Com profunda tristeza, recebemos a notícia do falecimento de Ziraldo, um dos maiores cartunistas brasileiros de todos os tempos. Sua partida deixa um vazio imenso não apenas no mundo das artes, mas também em nossos corações como caratinguenses.
Ziraldo não apenas encantou o Brasil com seu talento incomparável, mas também nos presenteou com uma obra icônica que transcende gerações: o “Menino Maluquinho”. Este personagem cativante e suas aventuras sempre tiveram um lugar especial em nossas memórias e em nossos corações, enchendo nossas vidas de alegria, diversão e ensinamentos valiosos.
Como caratinguenses, nos sentimos especialmente abençoados por termos compartilhado um vínculo especial com Ziraldo através de sua criação mais querida. Sua obra não apenas nos proporcionou momentos de leveza e imaginação, mas também nos ajudou a valorizar a infância, a amizade e a importância de sermos verdadeiros com nós mesmos”.
- Manoel Dornellas, oficial substituto
“E hoje a gente chora a perda de um dos grandes! E esse era enorme, eu diria… Muito maior que a Pedra Itaúna que viu crescer aos seus pés, seu filho mais ilustre! O maior Caratinguense de todos os tempos!!!
Me lembro com muito carinho da primeira vez que eu vi o Ziraldo. Era 1995 ou 96, eu estudava no Colégio Jairo Grossi em Caratinga e íamos encenar a peça de teatro “Uma Professora Muito Maluquinha”, baseada no livro que acabara de ser lançado. E ele iria nos ver!!!! Eu tinha 12 ou 13 anos e o Ziraldo era a pessoa mais famosa que eu já tinha visto na vida. Meu personagem era bem secundário… eu era o escrivão que datilografava os “julgamentos” entre os alunos da Professora Maluquinha, que era a juíza. Tava louco pro Ziraldo me notar, então espanquei com toda minha força a máquina de datilografar (que era daquelas barulhentas), e acho que fui notado, pois cerca de 30 segundos após o início do amassamento das teclas, a saudosa e também notável Dona Miriam Mangelli – nossa diretora -, entrou em cena e me falou (com aquele carinho peculiar que só ela tinha): “Só finge, só finge!!! Ninguém ouve mais nada!!!” Cumpri minha função (que agora já era terciária) e guardei na memória esse momento inesquecível. “Olha o Ziraldo….” falávamos todos…
E quando li Flicts pra primeira vez??? Meu Deus, que libertador! Que criança nunca se sentiu sem lugar no mundo?! Como não encher os olhos d’água ao terminar o livro com aquele sentimento de “a lua é Flicts”!?!? Um sentimento de pertencimento que nunca esqueci. Literatura e artes visuais juntos, impregnados numa obra prima universal!
Um último caso aqui… Minha mãe meu pai se casaram em Caratinga né? E o Ziraldo era amigo de meu saudoso avô, Wantuil Teixeira de Paula. De presente de casamento, o Ziraldo deu aos meus pais um belíssimo jogo de jantar. E minha mãe sempre tirou essa onda lá em casa! Quando eu fui morar sozinho, minha mãe me deu três pratos e duas tigelas (uma quebrou esses dias e eu lamentei profundamente), desse jogo de jantar. Hoje, estou aposentando um prato e uma tigela aqui em casa. Vou guarda-los em plástico bolha num lugar bem protegido e quando a Elis for ter sua primeira casa, vou passar pra ela o prato e a tigela que o Ziraldo deu pra avó e avô dela. E vou tirar a mesma onda da minha mãe: “Tá comendo na louça do Ziraldo, tá?!?!?!”
Obrigado por tanto, Ziraldo. Daqui a mil anos estaremos nos emocionando com sua obra!!!”
- Thiago Delegado, cantor
Lembranças da minha infância maluquinha
“O pai do Menino Maluquinho está para mim tal qual casa de vó e perfume de mãe. Ele habita minhas melhores lembranças da infância.
Eu vim da extrema pobreza, o pouco dinheiro que entrava na nossa casa era pra prover o nosso pão de cada dia. A leitura, exceto das matérias da escola e dos poucos recortes de jornal que embrulhavam a compra do mês, era artigo de luxo. Luxo maior era poder passar horas a fio mergulhada no mundo de maluquices do garoto de personalidade excêntrica e agitada.
Ziraldo entrou na minha vida assim, por meio de revistinhas em quadrinhos doadas pelo tio das amigas de infância. Elas ficavam na estante improvisada de um quarto que se transformava na nossa pequena Alexandria. Ali viajávamos no tempo, vivendo sonhos encantados cujas recordações me fazem tão bem.
Nessa época, os quadrinhos eram meu refúgio e a única tristeza que conhecia era dos intermináveis fins do namoro entre Julieta e o Menino Maluquinho e o choro, era apenas por não poder ir na casa das amigas e viajar para o mundo encantado trajando um paletó azul e uma panela na cabeça.
Foi ali, meu primeiro deslumbre pelo mundo da escrita. Imersa nos quadrinhos eu poderia ser quem eu quisesse, ultrapassando as fronteiras do Córrego do Sapo.
O pai do Menino Maluquinho fazia meus olhos brilharem toda vez que encontrava Julieta, menina esperta e decidida que me ensinou a inexistência da palavra impossível. Eu era uma criança encantada pela ideia de que existia uma infância tão diferente e ao mesmo tempo tão maravilhosa quanto a minha.
Meus pais sempre falavam da importância da escola e que ler me transportaria para outros mundos, no entanto não tinha dinheiro para comprar as revistinhas que eu adorava. Isso era obvio até pra mim que era apenas uma criança. Logo, me contentava em ler e reler “trocentas vezes a mesma história.
20 anos depois, eu, a menina que morava na casinha de “tijolo cru” e que via Ziraldo apenas pelas revistinhas surradas pelo uso ficou estática, afinal o pai do menino traquinas estava na sua frente.
Naquele dia eu revisitei a minha infância e percebi o quanto dele tinha dentro de mim. Era como se sua voz sussurrasse no meu ouvido que os sonhos eram possíveis. Eu estava em Caratinga, terra do meu mago cartunista, cursando o último período de letras e percebi que dentro de mim habitavam as melhores lembranças.
Ele não me viu e tão pouco sabe que naquele dia eu comemorei com se comemora a chegada do ano novo. Meus olhos olhavam Ziraldo e brilhavam tal qual fogos de artifício. Afinal, o pai do Menino Maluquinho também é pai do meu gosto pelas letras e personagem importante da minha história.
Embora adulta, meu coração não cabia dentro do peito. Sentia como seu eu flutuasse estando frente a frente com ele que me ensinou da maneira mais linda tanto sobre amor, amizade e a possibilidade de ver a vida pela arte e bom humor”.
- Sandra Rodrigues, professora
“A partida do Ziraldo impacta a todos nós. Ziraldo, antes de tudo, era o símbolo dessa cidade, o que essa cidade produziu de melhor. Era o símbolo de cultura, da literatura infantil mais inovadora, que impactou milhões de pessoas, fez milhões de pessoas sonharem junto com ele. O Ziraldo era o símbolo de inquietação, de rebeldia, de inconformismo, mas, também de talento. Tinha um enorme talento. Nosso velhinho maluquinho era inspirador para muitas pessoas e ele vai fazer uma enorme falta. Ex-aluno do Colégio Caratinga, um grande parceiro do Casarão das Artes, trouxe pra cá todos os livros do Millôr Fernandes, que era um grande amigo dele e está abrigado no Casarão das Artes. Era sempre solidário, cresci na minha família tendo ele como amigo e na casa do meu avô tinha uma caricatura dele, que muita gente pode ter também, que era um abraço. Ele era assim, um traço simples, que tocava o coração”.
- Pedro Leitão, presidente da Rede de Ensino Doctum