“O caos vagueia construindo complexidade e desordens no universo concreto em que evoluímos”, James Gleick (Chaos: Making a New Science)
* João B. A. dos Reis
Com relação às estruturas harmoniosas de uma arquitetura de significados e simbologias pressupõem-se valores estéticos além da ordem. Os processos destas flutuações envolvem a semiose dos signos, das palavras, dos significados; enfim, compõem contornos no âmbito das tensões de fronteiras ou interfases entrópicas. Nesses casos, fogem dos protótipos discursivos harmônicos de simetria e regularidades. São inter-relações distintas que prenunciam processos peculiares, envolvendo organismos distintos em ambientes diversos, na formação dos contextos sócio-político e cultural.
Neste ínterim, rompem-se os limites entre a energia sistêmica ordenada para um processo desordenado, estocástico, que se processa através do escoamento das interconexões entre os sistemas de grande escala para os sistemas de pequena escala quantitativas. Os quais são fundamentados pela dinâmica entrópica (tendenciosa ao caos), perfazendo caminhos aleatórios que possibilitam o acesso a horizontes e domínios conceptuais nas interfases caóticas.
Pode-se afirmar tratar-se, na verdade, de um padrão de organização de um fenômeno desordenado de um aparente fato casual, que corresponde à teoria do caos. Denominação dada pelo físico norte-americano James Yorke aos estudos do compatriota, o meteorologista do M. I. T. (Massachussets Institute of Tecnology), Edward Lorenz (um dos precursores dessa teoria), ou seja, explicações sobre os fenômenos físicos não previsíveis – solução sistemática através de modelo computacional para resolver sistemas complexos e dinâmicos rigorosamente.
Por outro lado, grosso modo, disseminam-se, também, as semioses das tensões generalistas sob uma nova visão paradigmática centrada em novos contextos e fronteiras derivadas de uma dinâmica peculiar originária das transformações do primitivo decantado pelos organismos, no ambiente cultural pós-humanistas, da cultura das mídias à cibercultura de Lúcia Santaella.
Assim, a ansiedade da mente encontra analogias através da experiência oriunda desses novos conceitos sobre os fenômenos ocorridos entre os universos muito grandes e os muito pequenos. Tal fato é inevitável e produtivo. Nesse caso, o caos, que rompe as fronteiras e separa as questões científicas deterministas, metodologicamente, são os mais adequados procedimentos para efetivar os estudos sobre os sistemas naturais não previsíveis.
Tratam-se de modelos “abstratos” que eclipsam a criatividade latente e inerente dos indivíduos, apesar desse privilégio subjetivo. A individualidade, no entanto, pode se adaptar ao pensamento coletivo da conveniência das habilidades e competências, dos costumes como legado cultural. Inserindo o indivíduo, dessa forma, em um contexto sistêmico (psicossocial) ambiental complexo, mas, que, naturalmente se tornará harmonioso, organizado.
A adaptação das individualidades, presumivelmente, instituída pelos processos de turbulência que desnorteiam a criatividade peculiar à potencialidade individual de compreender os signos da comunicação da palavra e do fazer, naturalmente, é causada pelas pressões da necessidade de compreender “o novo design”, que incidiu compulsoriamente no sistema ambiental. Consequentemente, o indivíduo, tenderá a conciliar convivência entremeada, ainda, por intervalos alternados entre fases críticas e fases harmoniosas. Regeneração causada pelas variações do mesmo sistema entrópico, derivada da mudança de objeto e da informação sígnica, ocasionando uma iminente dinâmica reversa, que sistematicamente se harmonizará temporariamente, ciclicamente em intervalos de curta e longa duração.
Nesse contexto, implicam as várias mudanças e adaptações, que, na maioria provocam tensões incomensuráveis, pelo menos a priori. Possivelmente, a adaptação aos novos designs sígnicos, processam-se através de fluxos de transformações muito rápidos e se refletem em gradientes múltiplos de tensões, devastadores e restauradores, derivados da própria dinâmica incidente nos processos de relacionamento comunicação/informação entre organismo (s) e ambiente (s).
As ações desses agentes “controladores” psicossociais, que estabilizam os sistemas de interação natural, proporcionam a necessária sustentabilidade aos seres envoltos nas interfases semióticas da palavra e do fazer. Signos e informações adaptativas, naturalmente evolutivas. Assim, cada entidade ou sistema (s) de organismo (s) tem suas derivações entrópicas diferenciadas e específicas, mas muito próximas entre si, influenciam-se mutuamente nas condições de estabilidade, todavia, diferem bastante nos eventos governados pelas instabilidades.
Então, o mito do imutável, desapareceu quando se compreendeu, realmente, que cada mudança de escala provocava novos fenômenos e novos tipos de comportamentos organizacionais. A natureza, nesses aspectos, torna-se mais intrigante. Novas geometrias e novas formas sistêmicas de interpretação admitem a veracidade das relações entre sistemas lineares e não-lineares.
Retornando às transformações entrópicas, causadas pelas semioses, são elas nomeadamente derivadas da potencialidade virtual dos novos designs fluindo de forma turbulenta, imprevisíveis e desorganizadas. Essa turbulência, nada mais é que uma porção de desordens, vórtices originados em todas as escalas, instáveis e dispersivos. Significa, ainda, que a turbulência transforma as energias criando um movimento de arrasto material, assim sendo, é também um movimento turbulento que intensifica a transformação da energia potencial em energia cinética.
Na busca pelos padrões de ordem da complexidade/organismo/ambiente, pode-se inserir a necessidade de um suporte sustentável aos organismos/ambientes, quando se relacionam através de processos e estruturas de interação mais complexa, ou melhor, entre os organismos e a semiosfera, a semiosfera e o ambiente.
Neste caso, as semioses derivadas do misto triádico complexidade/organismo/ambiente têm as características de um relacionamento turbulento. Mas, diluem-se, precipitam e ressurgem “maquiadas” de novas especificidades, cujas complexidades são mais fecundas. Estabelece-se, nestes casos, um harmonioso e enriquecido universo de um novo design potencialmente predisposto a uma nova onda entrópica, ou seja, um novo ciclo de flutuações, descontinuidades e continuidades organizadas.
Nesse contexto, buscamos traçar alguns paralelos relacionados ao comportamento das relações semióticas, principalmente, a ênfase contingente do aspecto peculiar da entropia processada pelas semioses nas semiosferas entre sistemas modificados na ordem, trocados por organismo (s) e ambiente (s).
A estética dessa retórica, fundamentou-se também pelos caminhos da narrativa da impossibilidade de a completude nos argumentos de provas absolutas finitas não terem consistência lógica. Não se complementam as construções de sustento das superestruturas. Assim, os “argumentos inconsistentes”, também, podem ser irrefutáveis, naturalmente, perante os princípios dedutivos da prova lógica explícita, perante as turbulências dos relacionamentos entre complexidade/organismo/ambiente.
Concluindo, apreciar uma estrutura harmoniosa de qualquer arquitetura sígnica, é uma coisa, agora, admirar e controlar “o estado selvagem” consiste em reformular parâmetros. Explicitando argumentos através do modelo descritivo ou epistemológico (Gilles Deluze e Pierre-Félix Guattari), em termos de valores estéticos, a harmonia quanto aos aspectos modernos da natureza não-domesticada, não-civilizada, não-domada, ainda primitivamente selvagem, é um importantíssimo papel de transformação pós-moderna
* João B. A. dos Reis – Doutor e Mestre em História da Ciência – PUC/SP. Físico, Especialista em Meio Ambiente e Gerenciamento de Recursos Naturais FAFIC/UFMG. Pesquisador e Professor do Ensino Superior – UNEC/Caratinga-MG
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